2004-11-26

Vá de Retro, Santanáz!

Para quem quiser seguir, apoiar e/ou aderir à maior batalha dos próximos tempos em Portugal:
Vá de Retro, Santanáz!

2004-11-23

Dieldrina

Não acham que isto é uma hipocrisia, um disparate, um atirar de areia para os olhos? A merda do tabaco há muito que se sabe que faz mal, que está infestado com químicos da pior espécie, porcarias tóxicas e viciantes, que provoca doenças cancerígenas, que mata. Agora, que se descobriu um pesticida vão ser retirados do mercado os lotes afectados? Mas que conversa é esta? Então e os outros sem pesticida e igualmente fatais? Com o pesticida morrem mais depressa ou de maneira pior? Como se pode garantir a qualidade dos cigarros se são sem qualquer sombra de dúvida um malefício para a saúde?

"Se fosse eu que mandasse" retirava todo os cigarros, mas não apenas das lojas, eliminava todo e qualquer tipo de tabaco, acabava com uma indústria que gera milhões aos produtores e aos Estados, desapareceria com esta droga - das piores - da economia e da sociedade, acabava-se com a poluição dos corpos, dos espaços. (Mas claro que havia as consequências sociais e económicas das pessoas e diversas empresas...)

2004-11-22

A-Zarp: A

ÁFRICA. É luz, aquela luz que não se encontra mais algum lugar. É o cheiro, quente, doce, que nos invade. As pessoas, simples, hospitaleiras, bonitas (black is beautiful...). A imensidão - ok, estive só numa ilha, mas mesmo pequena nos enchia os olhos - mas no continente é de uma vastidão interminável. A natureza, bela, viva, aconchegante, mesmo na vulcânica ilha de São Vicente, o agreste abraça num jeito manso e amigo. Mas também o mar, azul, límpido, gigantesco. A comida, exótica, nutritiva, pura.

O chamamento existe. Embora nunca pisando terra continental, a minha estada em Cabo Verde foi das viagens mais fascinantes que já fiz. Costumo dizer que os meus últimos anos - com dinheiro... - passarei nas quentes e calmas terras africanas. Onde, não sei. Aliciam-me com o interior angolano, mas para lá ir agora. Mas como posso trabalhar profissionalmente como designer? Sendo uma actividade muito citadina, para sociedades mais desenvolvidas nos seus aspectos económicos, sociais e tecnológicos, haveria alguma hipótese no sul? Em Luanda, talvez. Mas para vingar teria de possuir uma estrutura capaz de "chegar, ver e vencer", e Luanda, sendo uma grande urbe de extremos gritantes, não seria pêra doce...
Espero um dia abraçar África. Encontrar as "origens".


ARQUITECTURA. Sou um amante de boa arquitectura - em criança dizia que queria ser arquitecto - desde sempre me entusiasmo com os diversos movimentos que ao longo da História se sucederam Tenho particular "afeição" pela arquitectura egípcia, azteca, bizantina, gótica, arte nova, o estilo internacional-modernista e, da actualidade.

Enquanto cidadão, considero a arquitectura como um bem comum, que a todos toca, mesmo que muitos não se apercebam da sua verdadeira importância. Enquanto designer, acredito que a arquitectura como acto criativo e projectual necessita com urgência ser protegida, difundida, aceite. A arquitectura e o urbanismo molda formas de viver e de trabalhar, condiciona a relação entre as pessoas e com a própria cidade, sendo que estes factores são importantíssimos que se possam cumprir com o objectivo de criar boas cidades, logo bons cidadãos, pois um deriva da outra.
O Direito à Arquitectura é por isso algo a lutar. A porcaria em que se tornaram as cidades e vilas deste país é devido a essa lei retrógada e velha (73/73) que permite que não-arquitectos assinem projectos. Logo, construtores com 4ª classe e insuficientemente inteligentes, apenas querendo o lucro fácil e rápido, contratam engenheiros ou desenhadores cuja formação profissional não contempla aspectos como a relação e escala humanas, e sem formação histórico-estética-criativa necessárias. Urbes desorganizadas, feias, com poucas soluções de emenda, afastando as pessoas, prendendo-as em gavetas de complexos armários nos subúrbios vazios de dia, estranhos à noite. Poucos ou nenhuns espaços verdes. Localidades saturadas de trânsito e sem transporte públicos com alternativa.
Também sou contra essa praga que há alguns anos se espalha pelo país que é o que chamo "pseudo-estilo-neo-tradicional-cheio-de-recortes-e-janelas-pequenas", numa uniformização "pós-fascista" do modo de viver em comunidades estranhamente concretizadas à volta de mais umas cunhas e milhões de euros ganhos a mais pelos construtores.

Pensar a cidade é sempre urgente. Pensar e agir de acordo com as ideias e ideais há muito investigadas e divulgadas mas que quem tem (qualquer tipo de) poder para nada interessam. Cada vez mais pessoas vivem nas cidades abandonando as terras e aldeias. As cidades do futuro, humanizadas e funcionais, tem de começar a existir


ABORTO. A favor da interrupção voluntária da gravidez, dentro dos moldes propostos pelo PS, BE e PCP. Contra a hipocrisia. Pela liberdade de acção das mulheres.


AMOR. Money makes the world go around, mas é o amor que nos aproxima. Fatal como a morte, o amor surge sempre nas nossas vidas, ora às vezes, ora para sempre. Entre duas pessoas, de pais para filhos, avós e netos, entre amigos. All we need is Love.


ANTI-IMPERIALISTA. Na sua vertente política e militar. Excesso do uso do inglês. (Mas não deixo de ver filmes e séries de TV americanos, não excluo marcas, não rejeito pessoas.)


APPLE. Melhor marca de computadores do mundo. Assumir a diferença como vantagem estratégica e funcional pela simplicidade, design, fiabilidade. Resistência inteligente à Microsoft.


ARTE. Forma magnífica de expressão, da criatividade, de emoção, vontade, utopia, intervenção do ser humano. A construção cultural do Homem é uma das pedras basilares da nossa evolução. É a compreensão do seu tempo e uma herança para o futuro. Faz-nos pensar, sonhar, divertir. Cria beleza, entendimento, alegria, agitação, polémica. A promoção e o ensinamento das artes é primordial. Eu não consigo viver sem arte.

Assumir posições

"Há que dizê-lo com toda a frontalidade" como a personagem de Herman José "Artista Bastos". Assumir que pensamos. Não nos refugiarmos no pensamento único que de novo e subliminarmente se implantou. Enfrentar o debate com alegria e não como discussão berrante e inconsequente. Discutir e partilhar, ensinar e aprender, apontar e relfectir, assumir e aceitar, errar e corrigir. Eis razões para a existência dos blogs, eis razões para que as pessoas, quando conversarem, o fazerem, com respeito e sobre algo mais do que "está-mais-frio-hoje" ou "vai-se andando". De nada serve falar ou escrever se não houver algum feedback, mesmo sabendo que há quem nos leia, por vezes parece que escrevemos para o vazio. De certo que há temas sobre os quais não se sabe argumentar - mesmo para mim; por outro lado há falta de disponibilidade temporal ou mesmo mental, dada a azáfama dos dias. No entanto, assuntos há que merecem ampla discussão ou mesmo singelas opiniões. A participação na e para a sociedade é importantíssimo, ainda para mais quando vivemos dias onde por vezes as opiniões/posições são censuradas... e maior acutilância e relevância têm para melhorar e impedir o marasmo dominante.

Por que às vezes temos medo de discutir certos assuntos? Com medo de ferir o outro, ou com medo de nos embaraçarmos e ficarmos numa posição "diferente" perante outros? Obviamente que há discordâncias, por vezes irritantemente diferentes e talvez inaceitáveis. Há o pensamento politicamente correcto (pró-governamental ou simplista), o independente (centrista, híbridos dos dois extremos) e, o politicamente incorrecto (do sempre-contra ou alternativo). Eu, pró-governamental não sou, sendo um pouco dos outros, mas tentando sempre uma opinião própria, ora de acordo com o que sinto, ora sustendada em factos. Eu consulto o Público, seus editoriais e comentadores, blogs, sites de notícias; ouço muita música diferente; vejo muito cinema diferente, etc. Interessso-me por muita coisa, onde o tempo nunca chega para tudo.

Matérias há sobre os quais nunca pensámos antes, não temos opinião formada, etc. Contudo, valerá a pena ficarmos calados, indiferentes, acomodados? Consciencializarmo-nos, reflectir, partilhar conhecimento são formas de crescer, de nos enriquecer, de tomar uma posição. Assumir que somos deste ou daquele lado, desta ou de outra opinião. Eu penso e faço assim, mesmo para me conhecer melhor.

Sendo assim, os próximos posts serão o meu perfil de A a Zarp. Sinteticamente opinando sobre diversos temas, e aberto ao debate e à polémica, se for o caso.

2004-11-18

Há lugar para todos?

No blog O Observador, André Amaral reflecte sobre a legitimação do Estado de Israel. Mas este assunto tem aspectos históricos e sociais controversos, mesmo polémicos, que não convém descurar.
O legítimo direito de auto-determinação dos povos é essencial. Veja-se o caso dos curdos, ou mesmo os bascos. Embora realidades bastante diversas entre si - sem querer defender ou atacar qualquer dos métodos usados - o que é certo é que a geografia-da-História ditou fronteiras muito, digamos, paradoxais. A defesa dos valores de identidade social, cultural e religioso deve ser sempre a primeira escolha. Mas também a defesa pela liberdade, a paz e a boa-vizinhança.
Mas imagine-se que esses Estados nasceriam hoje. Como seria? Quais as consequências políticas, sociais, económicas?
Outro exemplo, bem sucedido, é a heróica luta pela liberdade e independência de Timor-Leste. Caso único no mundo pelo rumo dos acontecimentos, foi nalguns aspectos comparável ao Tibete ainda ocupado pela China.

Nunca me opus à criação do Estado de Israel, acontecimento histórico importantíssimo onde razão, emoção e aventura se confundem. Nem tão pouco, contra o Estado da Palestina - direito inalienável de um povo irmão. Contudo, os acontecimentos iniciais em 1947-48, os conflitos seguintes até 1967, e depois 1973 e 1982, em nada, como é sabido, permitiram a paz para Israel e seus vizinhos. Mas o carácter messiânico que por vezes se revela na ideia-construção de um Estado Judaico, levou muitas vezes a posições extremas, xenófobas, intolerantes, egoístas.
Mas a luta "por um lugar ao sol" não deve nunca ser um factor de opressão contra o outro. O respeito e o amor pelo próximo também entre estados é fundamental, pois são constituídos por pessoas, muitas contra o estado de coisas actual Muitas que querem viver simplesmente as suas vidas, sem a ameaça à sua liberdade, habitação, vida.
Contudo, a sede de destruição, que caracterizou os vizinhos árabes ao longo das décadas, tornou-se em ódio de estimação, que a pouco e pouco os levou a posições, ora cada vez mais extremistas, ora cada vez mais infundados. A arma do terrorismo, reduto de cobardes e insanos, nunca levará à paz. E a opressão nos Territórios Ocupados nunca levará à paz. Dirão que a segurança de Israel como um todo, sempre esteve em causa. Certo. Dirão que o abraço da paz partiu sempre do lado hebraico, e com isso acordos vários, que foram rompidos pelos palestinianos. Sim, é verdade. Grupúsculos - não sem importância simbólica, contudo - acabaram, sempre por minar a reconciliação. Então se uns têm direito a viver, outros também têm direito a existir. Assim, ambos têm o dever de coexistir, num local único no mundo, que por causa deste conflito já demasiado longínquo originou as divisões e consequências graves que hoje se evidenciam.

Em que acredito eu? Na Paz. Mas fazê-la é muito mais dificil que travar uma guerra. O esforço terá de ser imenso de ambas as partes. Essa vontade deverá sobrepôr-se ao eterno conflito. Controlar extremismos, combater criminosos, ceder nalguns aspectos, retirar das terras ocupadas, deitar abaixo o muro, cooperar pelo desenvolvimento, a reconciliação (dificílima) dos povos, assegurar os locais sagrados como comuns e de ninguem em especial. As dificuldades são monstruosas, mas podem ser ultrapassadas. Só a paz trará a segurança e a vida, a prosperidade e a amizade, isso todos sabemos.
Há lugar para todos no autocarro da Terra Santa com destino à Paz. Temos é de impedir a todo o custo que alguém o queira explodir...

2004-11-17

Blogs dixit

Nem tão alto subir, nem tão baixo descer!
Nesta terça-feira, pelas oito horas da manhã, quem fosse às bancas comprar os jornais, ou lê-los sem os comprar, ficava convencido de que Pedro Santana Lopes estava para durar pelo menos dez anos, os próximos dez anos.
O mesmo incauto cidadão que, entretanto, às oito da noite se sentasse em frente à sua televisão, caía das nuvens: o governo estivera para cair durante o fim de semana anterior.
Depois, durante a noite informativa, foram as picardias e os gritos de recriminações recíprocas nas hostes do Governo e dos seus apoiantes.
Na manhã de hoje, um jornal complacente oferecia a sua primeira página a um fotografia de Lopes e Portas em ademanes de almoço. Estavam ambos com o ar contrafeito de serem capazes de se comer um ao outro.
É isto que torna a política ridícula porque burlesca.
Este teatro trágico de alucinações tem precedentes vários.
Adolph Hitler também assumiu a Chancelaria alemã em 1933 e proclamou que inaugurava um «Reich de Mil Anos». É claro que durou doze. Para fugir à miséria da derrota, o «Führer» deu um tiro na cabeça.
O exemplo é mau, mas o exemplificado ainda é pior.

http://arevoltadaspalavras.blogspot.com/


Criar um novo partido
Pedro Santana Lopes está a fazer ao PSD o que Paulo Portas fez ao CDS: criar dentro de um partido, um novo partido o PP. É mais difícil fazê-lo no PSD, que tem um lastro muito especial e é um partido de grande dimensão, menos plástico a “refundações”, mas, se lhe for dado tempo e oportunidade, é o que ele tentará fazer. Não é aliás um projecto novo, já tem história no muito esquecido projecto de um “partido social-liberal”, pensado por Lopes e anunciado pelo Independente de Portas.
Os sinais estão bem à vista: a tendência para o partido unipessoal, à PP de Portas, com o culto de personalidade assente na “subjectividade” do líder, a interpretação messiânica do destino manifesto, a ênfase na “geração” como mecanismo de exclusão, a identidade nacionalista entre “Portugal” e o líder, a acentuação de um princípio de comando (“eu” foi a palavra mais forte do Congresso), a tentação populista do contacto directo entre o líder e o “povo” através daquilo que, com ignorância do significado das palavras, os fãs chamam, ou “inteligência emocional” ou “carisma”, e o exercício brutal do poder de estado ao serviço não de causas, mas de pessoas. A complacência com alguns políticos pouco honestos que passeavam pela sala, sempre sem mácula partidária, façam o que fizerem, a contrastar com a violência verbal contra os críticos. A perigosa enfatuação da palavra “líder”.

http://www.abrupto.blogspot.com/


A Legitimação
A moção de Pedro Santana Lopes ganhou por 496 votos a favor, 0 (zero) contra e 1 abstenção. Santana Lopes ganhou por 99,8% ! Ora José Sócrates só teve 81%. Sócrates que se cuide!!
No PCP, o próprio Jerónimo de Sousa, ficou certamente preocupado. "Conseguirei tão invejável score ?
- "Foi bom ter havido uma abstenção que eu não gosto de unanimismos" - observou o Pedro a uma jornalista da SIC que simpaticamente lhe aproximou o microfone da boca, num momento alto da carinhosa Grande Festa da Consagração.
Estão a perceber porque é que se considerava tolerável que Manuela Ferreira Leite fosse a Barcelos mas já se achava excessivo que pudesse votar? É que: bem, uma abstenção até faz jeito - para aquela coisa que ele disse - mas um voto contra já é demais para um congresso que não é um congresso qualquer mas um congresso sob o lema da "Verdade" e da "Confiança" onde devem estar todos amigos e a bater palmas ao Pedro.
Pessoas despeitadas como esse Francisco de Assis, do PS quando várias microfones lhe pediam uma opinião sobre tão entusiástico Gongresso - ainda no ar esvoaçava o frémito da exaltação e engrossava a fila para os beijinhos e abraços ao Pedro - não soube dizer mais nada que: "de Barcelos não saiu uma única ideia para o país".
Só a incompreensão pode ter ditado comentário tão retorcido porque toda a gente sabe que o congresso não era para isso. O congresso era para o Pedro falar do Pedro. E também para ver se o velho PSD se encaminha para o ambicionado "PPD".

http://puxapalavra.blogspot.com/

2004-11-15

Discurso positivo ou o regresso das utopias?

Existem diversas formas de falar. Outras ainda de pensar. Há vários tipos de discurso. Também convém, na argumentação de um falatório, ter a noção da realidade, do futuro, do ridículo. Ter como facto que palavras ditas têm (deveriam ter) consequências práticas. Compreender que os ouvidos pertencem a gente que pensa e avalia por si próprio. Entender que de promessas está o inferno cheio. Encarar um projecto de dimensão imensa que é dirigir um governo é muito mais que aparecer nos media pelas mais (inúteis) diversas razões. Que tudo o que se escreve sobre e contra o estado das coisas em Portugal deverá ser tido em conta. Que trabalhar para uma nação (e não pelas imagens pessoais daí consequentes) é muito mais árduo que se imagina, e muito mais grave os erros cometidos.
Por muita boa vontade que exista, o discurso que o Santana Lopes ontem proferiu no congresso do PSD, flutuam na ténue e perigosa fronteira entre positivismo e utopia, entre honestidade e populismo. É preciso muito cuidado com estas opções verbais e consequentes aplicações práticas - o Orçamento de Estado e (haverá?) plano estratégico para Portugal. O PM actua com um olho na bola de cristal e outro para os media e opinião públicas, navegando ao longo da costa, suficientemente longe para se salvar, demasiadamente perto da tempestade. O desejo de ser popular que nem José Castelo Branco cumpriu-se, e subindo na carreira política sem concluir o que começara, entronizado de bandeja como líder de partido e Primeiro-Ministro, acabará ele o que promete começar? Ou acabará de vez com o país? Positivismo ou utopia? Blue pill, or red pill?

Nota: Já viram logotipo mais ridículo para um partido? Anda-se para trás até aqui... Vou escrever uma análise sobre a identidade e iconografia dos partidos em Portugal.

Mais sobre o assunto:
"A retoma"
"O acossado", por Ana Sá Lopes
"O Enterro de Barcelos" por Vasco Pulido Valente

2004-11-11

O Último Dia



Caminho eternamente sobre estas margens,
entre a areia e a espuma.
O fluxo do mar apagará a impressão dos meus passos,
e o vento levará a espuma.
Mas o mar e a margem permanecerão
eternamente.


Kahlil Gibran
Areia e Espuma
Coisas de Ler
2002

Décadas de resistência, mas também de esperança. Esforços de guerra e de paz. Erros e virtudes. Yasser Arafat, tal como Moisés, não vê a Terra Prometida: a Palestina livre. A representação simbólica da luta pela liberdade de um povo aprisionado num guetto do tamanho de um país, não mais resistiu à fraqueza do corpo. Mas a força do espírito permanece, e o Dia da Liberdade chegará. Inchallah.
_

2004-11-09

Primeiro dia



As divisões, quando sucedem, são-no por diversas razões. Os desentendimentos e as desconfianças também. Mas submeter durante quase três décadas uma cidade - e por conseguinte um povo em dois países - à sombra de um muro físico-ideológico é ir longe demais. A Guerra Fria produziu muitas situações dificeis, perigosas e bizarras; o Muro de Berlim era o símbolo máximo da divisão político-militar-ideológica do mundo. A opressão e repressão, a intriga e o isolacionismo, os dogmas e as mentiras do lado de lá da Cortina de Ferro acabaram por levar à implosão de um sistema politico-social.
Faz hoje 15 anos que os leste-berlinenses sentiram o lindo e doce sabor da liberdade, o ar puro que um muro derrubado deixou passar, uma alegria imensa própria das revoluções justas e verdadeiras.
Eu lembro-me, quase como se estivesse lá. Recordo a loucura dessa noite - e mesmo dos dias que a antecederam, e as semanas que se seguiram - agarrados às imagens da TV, aos jornais, tentando saber o máximo e sentir a contagiante e repentina felicidade que atravessa os corações de alemães de leste e de oeste.
A queda do Muro da Vergonha foi o último dia da Guerra Fria. O Primeiro dia de um novo tempo de paz e união para a Europa.

2004-11-08

Black is Beautiful > 5




Beyoncé Knowles
Cantora e actriz

Black is Beautiful > 4




Halle Berry
Actriz

2004-11-04

A ressaca

Tal como hoje escreve Jacinto Lucas Pires n'A Capital (ler em comentário anexo), é assombrosa a vitória. É o conservadorismo, o medo, a "mudança" na continuidade que prevaleceu nos 51% de votantes em George W Bush. A recondução do presidente dos EUA é, como já referi anteriormente, totalmente do meu desagrado. No entanto, tal resultado não me é de espantar. Facilmente as máquinas de propaganda política fazem o seu trabalho, as mensagens que passam são aquelas que muitos preferem ouvir, as ideias são "elaboradas" para agradar, intensificar posições. O individualismo colectivo americano sobrepõs-se à cooperação, à boa amizade, quando os EUA têm todo o potencial para fazer o bem pelo mundo. Mas isso são conversas já discutidas.

A disputadíssima corrida eleitoral, mesmo que o resultado fosse inverso, punha qualquer candidato pressionado pelo campo oposto. Mas será que quem votou Kerry, se as coisas continuarem a não correr pelo melhor, continuarão a intervir civicamente, à parte os pedidos de unificação de uma nação que ficou crispada com as diferentes opiniões e ideias nesta luta presidencial? O que é certo é que a divisão política nunca foi tão grande.

Diz-se que um segundo mandato - sem a pressão de recandidatura (afinal governa-se para o povo ou para os resultados?) - será forçosamente diferente. Melhor política externa e interna; reformas sociais e económicas; atitudes cooperantes. Espero bem que sim. Mesmo que quem lá esteja não mereça a nossa confiança - Santana ex aequo - gostamos de pensar que farão o seu melhor para o melhor. Pensar que "quanto pior melhor" é não ser racional e ser egoísta. Claro que às vezes apetece dizer "eu avisei-te...", mas o pensamento positivo terá de prevalecer. Afinal, não devemos ser todos nós a tentar construir um mundo melhor?

2004-10-29

Europa

Hoje é um dos dias mais importantes da história da construção europeia. É assinado em Roma o Tratado Constitucional da União Europeia, um marco importantíssimo para o futuro do continente e dos seus cidadãos. Europeísta convicto, apoiante de um sistema híbrido de Federação de Nações, e não de união federal de estados ou associação de nações, a relevância deste passo em frente para a unidade, desenvolvimento e solidariedade pan-europeia é enorme. A construção europeia visa também reforçar os ideais de democracia, e valorizar a potencialidade da UE enquanto grupo político, económico e cultural.

No entanto, os cidadãos, que tal como os seus governantes apoiam a participação no projecto europeu, continuam um pouco a leste do que se passa em Bruxelas/Estrasburgo, quer no Parlamento Europeu, quer na Comissão Europeia, quer nas decisões dos Conselhos de Ministros. A culpa poderá atribuir-se aos próprios políticos, que nos seus paises se divertem com coisas banais, e não elucidam sobre a verdadeira missão europeia. Mas também da comunicação social, que não dá o devido destaque aos assuntos europeus. Quanto mais desenvolvida e rica uma sociedade, mais os cidadãos se afastam da política. Mas hoje, mais do que nunca, e com este Tratado Constitucional a condicionar o futuro da União, as decisões e estratégias vindas de Bruxelas reflectem-se sobre todos os seus estados-membros com mais intensidade.

Por isso é muito importante o debate e o esclarecimento sobre a Europa, ainda para mais que no próximo ano, nós portugueses vamos referendar o Tratado. O TC pode ter falhas, mas é muito mais vantajoso para todos que seja aprovado do que ser rejeitado. Isso seria um sério revés para o projecto europeu.

Contra Bush

Pode parecer muito, mas o futuro do mundo dos próximos anos estará em jogo na próxima terça-feira. Infelizmente, o destino de uma nação, é o destino do mundo, e nós, deste lado, olhamos a realidade política americana sem nela poder interferir. Não é que desejava ser americano, orgulho-me de ser europeu, mas a Presidência dos EUA tomou tais proporções nas orientações e aspectos planetários, que muita gente podia achar pertinente votar para as eleições. E se pudesse, optava pela decisão mais sábia, mais óbvia, mais segura: votando John Kerry, derrotando George W Bush.

A Administração Bush (que não venceu as eleições, mas o sistema eleitoral americano é invulgar ainda para mais com as suspeitosas fraudes na Florida) nestes últimos quatro anos destruiu tudo aquilo que a Administração Clinton construiu em oito anos. De um país próspero (nos últimos anos teve lucro!), aberto e colaborador, respeitado e positivamente influente (os Acordos de Paz Israel-Palestina em 1993), "Wrong" Bush transformou os EUA para uma nação deficitária, numa economia de interresses pessoais e de guerra, unilateral, incumpridor de tratados internacionais (Tribunal Penal Internacional, Protocolo de Quioto), odiado e desprezado, amedrontando o mundo com o seu poderio e ambição hegemónica político-económico-militar. Transformando uma democracia em proto-ditadura. É certo que terroristas há muito preparavam atentados vários tais como o 11 Setembro 2001, mas o ódio anti-americano sentido há muitas décadas, em particular entre fundamentalistas do Médio Oriente, agudizou-se com o actual governo nas suas mais diversas acções, colocando a Humanidade sob outra ameaça.

Recordam-se das centenas de manifestações que houve por todo o mundo antes da ilegal intervenção no Iraque? A contestação continua. A ilegalidade foi confirmada - não havia armas de destruição maciça, nem campos de protecção à Al-Qaeda - e o Iraque transformou-se num barril de pólvora cada vez mais explosivo. Agora sim, o território iraquiano (explorado e desprezado simultaneamente pelos americanos - afinal havia dúvidas?) é ponta-de-lança da intervenção da Al-Qaeda. As políticas americanas levaram a respostas horrendas por parte dos terroristas. O assassinato do homem-bom que era Sérgio Vieira de Mello pode-se atribuir a tudo isto. Madrid 11 Março 2004.
Clinton ia sendo exonerado por ter mentido à mulher e à Justiça sobre uma relação sexual. Bush mentiu à Humanidade inteira para desencadear uma guerra. E com isso provocou milhares de mortos inocentes, raptos e execuções terroristas, dinheiro desperdiçado, economia global em crise.

Mas quanto às políticas nacionais, apesar de muitos americanos não verem (para além de muitos fazerem uma imagem idílica - ignorante - da presença americana no mundo) o páis enfrenta dificuldades várias. O défice que subiu astronomicamente (por causa da guerra), os cortes nas políticas sociais da era Clinton (há cada vez mais pobres extremos), a submissão aos interesses económicos de empresas nacionais (algumas com ganhos significativos via guerra no Iraque) contra a qualidade social dos cidadãos e contra a natureza, a obsessão securitária e diminuição - subtil - dos direitos de liberdade e garantia dos cidadãos. O controlo e influência sobre os meios de comunicação social - em particular a visão governamental bastante difundida no primeiro mês da intervenção iraquiana. Estes erros pagam-se caro, e será no futuro que estas facturas serão apresentadas, mas ninguem se lembra disso. O ódio anti-americano agudizou-se, e criou tambem um generalizado ódio anti-Bush.

Se Bush ganhar, estas políticas continuarão. E opositores como Bin Laden terão motivos ainda maiores para destruir o nosso estilo de vida. Se não houver inteligência, as políticas ambientais ficarão de novo adiadas, e o planeta em maus lençóis - cada vez mais se vêem situações como no filme "O Dia depois de Amanhã"... O desinteresse pela pobreza, fome e guerra em África e na América Latina continuarão. Os interesses económicos continuarão a sobrepôr-se. O conflito israelo-palestiniano - origem de muitos conflitos regionais e deste ódio contra os americanos - permanecerá. Continuaremos sempre a viver no medo, em guerras localizadas com terríveis impactos mundiais, recessões que matam recuperações...

Kerry poderá não ser melhor que Bush, mas deste último sabemos que nada melhor virá. Por princípio o Partido Democrata (liberal) é menos pró-guerra que o Partido Republicano (conservdor), e se Kerry, baseado na sua experiência, virtudes e ideias, respeitando o ideário e conquistas de Bill Clinton, dias melhores virão. Esperemos que os americanos pensem como os europeus e restantes povos e votem maioritariamente em Kerry. Contra Bush.

2004-10-25

Blog links

Como sempre, vou descobrindo novos sites e novos blogs de vários assuntos e ideias. Mas estes três prendem diariamente a minha atenção. Constam da lista de links neste blog. Recomendo-os vivamente.

universos desfeitos
conversas escritas
a barriga de um arquitecto