Nem tão alto subir, nem tão baixo descer!
Nesta terça-feira, pelas oito horas da manhã, quem fosse às bancas comprar os jornais, ou lê-los sem os comprar, ficava convencido de que Pedro Santana Lopes estava para durar pelo menos dez anos, os próximos dez anos.
O mesmo incauto cidadão que, entretanto, às oito da noite se sentasse em frente à sua televisão, caía das nuvens: o governo estivera para cair durante o fim de semana anterior.
Depois, durante a noite informativa, foram as picardias e os gritos de recriminações recíprocas nas hostes do Governo e dos seus apoiantes.
Na manhã de hoje, um jornal complacente oferecia a sua primeira página a um fotografia de Lopes e Portas em ademanes de almoço. Estavam ambos com o ar contrafeito de serem capazes de se comer um ao outro.
É isto que torna a política ridícula porque burlesca.
Este teatro trágico de alucinações tem precedentes vários.
Adolph Hitler também assumiu a Chancelaria alemã em 1933 e proclamou que inaugurava um «Reich de Mil Anos». É claro que durou doze. Para fugir à miséria da derrota, o «Führer» deu um tiro na cabeça.
O exemplo é mau, mas o exemplificado ainda é pior.
http://arevoltadaspalavras.blogspot.com/
Criar um novo partido
Pedro Santana Lopes está a fazer ao PSD o que Paulo Portas fez ao CDS: criar dentro de um partido, um novo partido o PP. É mais difícil fazê-lo no PSD, que tem um lastro muito especial e é um partido de grande dimensão, menos plástico a “refundações”, mas, se lhe for dado tempo e oportunidade, é o que ele tentará fazer. Não é aliás um projecto novo, já tem história no muito esquecido projecto de um “partido social-liberal”, pensado por Lopes e anunciado pelo Independente de Portas.
Os sinais estão bem à vista: a tendência para o partido unipessoal, à PP de Portas, com o culto de personalidade assente na “subjectividade” do líder, a interpretação messiânica do destino manifesto, a ênfase na “geração” como mecanismo de exclusão, a identidade nacionalista entre “Portugal” e o líder, a acentuação de um princípio de comando (“eu” foi a palavra mais forte do Congresso), a tentação populista do contacto directo entre o líder e o “povo” através daquilo que, com ignorância do significado das palavras, os fãs chamam, ou “inteligência emocional” ou “carisma”, e o exercício brutal do poder de estado ao serviço não de causas, mas de pessoas. A complacência com alguns políticos pouco honestos que passeavam pela sala, sempre sem mácula partidária, façam o que fizerem, a contrastar com a violência verbal contra os críticos. A perigosa enfatuação da palavra “líder”.
http://www.abrupto.blogspot.com/
A Legitimação
A moção de Pedro Santana Lopes ganhou por 496 votos a favor, 0 (zero) contra e 1 abstenção. Santana Lopes ganhou por 99,8% ! Ora José Sócrates só teve 81%. Sócrates que se cuide!!
No PCP, o próprio Jerónimo de Sousa, ficou certamente preocupado. "Conseguirei tão invejável score ?
- "Foi bom ter havido uma abstenção que eu não gosto de unanimismos" - observou o Pedro a uma jornalista da SIC que simpaticamente lhe aproximou o microfone da boca, num momento alto da carinhosa Grande Festa da Consagração.
Estão a perceber porque é que se considerava tolerável que Manuela Ferreira Leite fosse a Barcelos mas já se achava excessivo que pudesse votar? É que: bem, uma abstenção até faz jeito - para aquela coisa que ele disse - mas um voto contra já é demais para um congresso que não é um congresso qualquer mas um congresso sob o lema da "Verdade" e da "Confiança" onde devem estar todos amigos e a bater palmas ao Pedro.
Pessoas despeitadas como esse Francisco de Assis, do PS quando várias microfones lhe pediam uma opinião sobre tão entusiástico Gongresso - ainda no ar esvoaçava o frémito da exaltação e engrossava a fila para os beijinhos e abraços ao Pedro - não soube dizer mais nada que: "de Barcelos não saiu uma única ideia para o país".
Só a incompreensão pode ter ditado comentário tão retorcido porque toda a gente sabe que o congresso não era para isso. O congresso era para o Pedro falar do Pedro. E também para ver se o velho PSD se encaminha para o ambicionado "PPD".
http://puxapalavra.blogspot.com/
2004-11-17
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