2011-12-31

Everything that has a beginning has an end




For seven years this blog has been a place of thought and design. To share was the core reason for its existence. This blog grew as a crossroad for other ideas and shapes of communication, building itself as a unique channel of contact and creativity.
But everything that has a beginning, has an end. From now, 7 years and 7 months later,  on this project will remain still and silent. This blog has kept its purpose and we are proud of what was accomplished. It will not be buried, it will not be erased. Our blog ZARP=DESIGN+IDEAS shall stay here, always open to return to read, to recover ideas, or to still be yet discovered in this universe called the internet.
Many thanks to all that walked this path with us.
And hello to all newcomers.
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Durante sete anos este blog foi um local de pensamento e design. A principal razão da sua existência foi partilhar. Cresceu como um cruzamento para outras ideias e formas de comunicação, construindo-se de um modo único num canal de contacto e criatividade.
Mas tudo o que tem um começo, tem um fim. A partir de hoje, 31 de Dezembro (7 anos e 7 meses depois), este projecto permanecerá quieto e em silêncio. O blog cumpriu o seu propósito e estamos orgulhosos com o que foi realizado. Não será enterrado, nem será apagado. ZARP=DESIGN+IDEIAS ficará aqui, sempre aberto ao regresso à leitura ou a recuperação de ideias, ou ser ainda descoberto neste vasto universo chamado internet.
Agradecemos a todos que nos acompanharam ao longo destes anos.
E olá a todos os novos visitantes.



Victor Barreiras
Filipe Dinis
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2011-12-29

2012



Daqui a 359 dias estaremos a) todos mortos, b) o mundo mudou radicalmente, ou c) não aconteceu nada. Seja ou não cumprida a profecia Maia ou o Dia do Apocalipse, a 21 de Dezembro, o ano 2012 terá sempre ímplicito a sensação de ano derradeiro, como uma etapa crucial, momento único de mudanças.

Viveremos ainda a fase negra da recessão, assistiremos à radical transformação do Euro e da UE (morrem ou renascem). O Real Madrid como novo "rei" da Champions (embora seja adepto do Barcelona), a oportunidade de Portugal vencer o Euro2012, as Olimpíadas de Londres. O perigo nuclear iraniano e novo conflito armado no Médio Oriente. A prepotência chinesa, o colapso da Coreia do Norte, a re-eleição do Presidente Obama. Mas também teremos a resiliência para suplantar a crise e avançar com coragem e esperança no futuro.

Não acredito no apregoado "Fim do Mundo". Creio mesmo que 2012 será "the end of the world as we know it". Todas as manifestações, revoluções, acções cívicas, sociais e democráticas ocorridas em 2011 foram o gatilho para colocar os mecanismos em marcha para uma brutal mudança de paradigma. Onde os valores éticos, democráticos e sociais dominem finalmente o processo político num movimento "grass-roots" sem precendentes. A voz do povo será transformada na participação activa do cidadão, e aberto o caminho para a derrota do conceito elite-predestinada-a-governar, tornando mais próxima a eliminação da opressão ganaciosa que (quase) derrubou o planeta.

2012 será o reforço deste movimento de mudança. Um início para viver e fazer as coisas de maneira diferente: justa, equilibrada, cívica, democrática, a começar na política, passando pela economia, e principalmente nas relações humanas. Não será o fim das guerras, nem o acabar da miséria e da fome. 2012 será essencial para uma nova era da coexistência humana que começará logo a seguir.
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2011-12-28

My Aston Martin DB9 Coupé (wishful thinking)


2011-12-22

O Ouro dos Corcundas

"Este é o escritor que conheço" disse-o com um entusiasmo de menino ao apresentá-lo. Conheço Paulo Moreiras há pouco mais de dois meses e a minha paixão pelas palavras escritas encontrou no seu mais recente livro uma formidável surpresa. Chama-se "O Ouro dos Corcundas" (A saga de um heroi anónimo que por amor mudou a História de Portugal) editado pela Casa das Letras / LeYa.
No estado em estamos, nunca tão esmagador foi o uso das palavras. Crise, recessão, dívida, canalhas. E no entanto vivemos obcecados e oprimidos com números, num à-beira-do-abismo permanente sobre um rectângulo obtuso qual meia-jangada à deriva sem nexo e sem destino consequente. Perdeu-se o rumo, perdeu-se o espírito e perdeu-se a beleza. Todo este deslumbramento atroz tenta afastar-nos do equilíbrio das coisas, do belo das formas, da poética do ser.

É o regresso à beleza das palavras e seus gloriosos significados que este romance histórico tem de surpreendente. "É uma história de amor entre um ladrão e uma puta" disse-me o Paulo numa síntese assombrosa e que é contada com uma delícia de esplendor e elegância. O acrescento aqui é o acaso desta relação amorosa ter impacto no Portugal de 1834 no meio das lutas liberais. É feliz este jogo entre a ficção e a História no qual "O Ouro dos Corcundas" se constroi, coerente e dinâmico, através de uma prosa plural, poderosa, humorada, cruel, descritiva, cinemática, cativante e assertiva. Ao lermos mergulhamos em pleno no contexto da época, mas igualmente no modo da literatura oitocentista e picaresca no emprego rico das palavras (muitas resgatadas pelo autor ao esquecimento secular) e das metáforas que pintam retratos fortes para intensificar a narrativa.

Bandorrilha, petimetre, ricanho, caramunhas, beberrónia, perlenga, cascabulhando, caterva, são alguns exemplos de como a língua portuguesa é um tesouro de dimensão imensa, caída hoje em tanto desprezo, assalto, e pancadaria que valorosos são os que lutam para a preservar. Enquanto isso, não tardemos ao humor que habita neste romance: "O Pasquino tinha perdido a língua mas não os colhões, pois era mau como uma cesta de cobras e, em menos de um credo, se algum inoportuno lhe aperreasse o espírito, despachava-lhe umas valentes lambadas nos focinhos, sem tugir nem mugir".

A narrativa é também uma história sobre a inveja, maldade inscrita no íntimo humano, provocadora de enganos e tropelias, vinganças e batalhas, lutas de poder e egoísmos destruidores. A primeira frase do livro cumpre o seu dever de sedução e conquista do leitor: "Desde o princípio do mundo que a inveja cega os homens e toma, nas paixões da alma, vaidoso domicílio." Inegavelmente reside em nós esse pecado primordial, corruptora da humanidade onde a mediocridade se alimenta. Neste desvalor se sustenta o aprisionamento da verdade. Libertemo-nos pois da inveja.
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