Pode parecer muito, mas o futuro do mundo dos próximos anos estará em jogo na próxima terça-feira. Infelizmente, o destino de uma nação, é o destino do mundo, e nós, deste lado, olhamos a realidade política americana sem nela poder interferir. Não é que desejava ser americano, orgulho-me de ser europeu, mas a Presidência dos EUA tomou tais proporções nas orientações e aspectos planetários, que muita gente podia achar pertinente votar para as eleições. E se pudesse, optava pela decisão mais sábia, mais óbvia, mais segura: votando John Kerry, derrotando George W Bush.
A Administração Bush (que não venceu as eleições, mas o sistema eleitoral americano é invulgar ainda para mais com as suspeitosas fraudes na Florida) nestes últimos quatro anos destruiu tudo aquilo que a Administração Clinton construiu em oito anos. De um país próspero (nos últimos anos teve lucro!), aberto e colaborador, respeitado e positivamente influente (os Acordos de Paz Israel-Palestina em 1993), "Wrong" Bush transformou os EUA para uma nação deficitária, numa economia de interresses pessoais e de guerra, unilateral, incumpridor de tratados internacionais (Tribunal Penal Internacional, Protocolo de Quioto), odiado e desprezado, amedrontando o mundo com o seu poderio e ambição hegemónica político-económico-militar. Transformando uma democracia em proto-ditadura. É certo que terroristas há muito preparavam atentados vários tais como o 11 Setembro 2001, mas o ódio anti-americano sentido há muitas décadas, em particular entre fundamentalistas do Médio Oriente, agudizou-se com o actual governo nas suas mais diversas acções, colocando a Humanidade sob outra ameaça.
Recordam-se das centenas de manifestações que houve por todo o mundo antes da ilegal intervenção no Iraque? A contestação continua. A ilegalidade foi confirmada - não havia armas de destruição maciça, nem campos de protecção à Al-Qaeda - e o Iraque transformou-se num barril de pólvora cada vez mais explosivo. Agora sim, o território iraquiano (explorado e desprezado simultaneamente pelos americanos - afinal havia dúvidas?) é ponta-de-lança da intervenção da Al-Qaeda. As políticas americanas levaram a respostas horrendas por parte dos terroristas. O assassinato do homem-bom que era Sérgio Vieira de Mello pode-se atribuir a tudo isto. Madrid 11 Março 2004.
Clinton ia sendo exonerado por ter mentido à mulher e à Justiça sobre uma relação sexual. Bush mentiu à Humanidade inteira para desencadear uma guerra. E com isso provocou milhares de mortos inocentes, raptos e execuções terroristas, dinheiro desperdiçado, economia global em crise.
Mas quanto às políticas nacionais, apesar de muitos americanos não verem (para além de muitos fazerem uma imagem idílica - ignorante - da presença americana no mundo) o páis enfrenta dificuldades várias. O défice que subiu astronomicamente (por causa da guerra), os cortes nas políticas sociais da era Clinton (há cada vez mais pobres extremos), a submissão aos interesses económicos de empresas nacionais (algumas com ganhos significativos via guerra no Iraque) contra a qualidade social dos cidadãos e contra a natureza, a obsessão securitária e diminuição - subtil - dos direitos de liberdade e garantia dos cidadãos. O controlo e influência sobre os meios de comunicação social - em particular a visão governamental bastante difundida no primeiro mês da intervenção iraquiana. Estes erros pagam-se caro, e será no futuro que estas facturas serão apresentadas, mas ninguem se lembra disso. O ódio anti-americano agudizou-se, e criou tambem um generalizado ódio anti-Bush.
Se Bush ganhar, estas políticas continuarão. E opositores como Bin Laden terão motivos ainda maiores para destruir o nosso estilo de vida. Se não houver inteligência, as políticas ambientais ficarão de novo adiadas, e o planeta em maus lençóis - cada vez mais se vêem situações como no filme "O Dia depois de Amanhã"... O desinteresse pela pobreza, fome e guerra em África e na América Latina continuarão. Os interesses económicos continuarão a sobrepôr-se. O conflito israelo-palestiniano - origem de muitos conflitos regionais e deste ódio contra os americanos - permanecerá. Continuaremos sempre a viver no medo, em guerras localizadas com terríveis impactos mundiais, recessões que matam recuperações...
Kerry poderá não ser melhor que Bush, mas deste último sabemos que nada melhor virá. Por princípio o Partido Democrata (liberal) é menos pró-guerra que o Partido Republicano (conservdor), e se Kerry, baseado na sua experiência, virtudes e ideias, respeitando o ideário e conquistas de Bill Clinton, dias melhores virão. Esperemos que os americanos pensem como os europeus e restantes povos e votem maioritariamente em Kerry. Contra Bush.
2004-10-29
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Um esclarecimento:
ReplyDeleteA vitória eleitoral de John Kerry não significa que viveremos imediatamente tempos de paz e prosperidade. Isso construir-se-á. Será difícil, mas possível. A ameaça da Al-Qaeda permanecerá, mas o aqui-inimigo de Bin Laden não estará em cena, embora o saudita odeie a todos. Uma mudança, radical, das políticas actuais, deverá ocorrer para podermos ter esperança e melhorar isto tudo.
Hoje penso que grande parte do Mundo é apenas anti-Bush. Na próxima quarta-feira, se ele continuar como Presidente dos EUA, acredito que então uma grande parte do Mundo passará a ser anti-norte.americana...
ReplyDeleteLobo Mau (BP)
Garal Roveje disse:
ReplyDeleteMeu bom Zarp,
É verdade. Quase dava vontade de reclamar o direito a votar nas eleições americanas. Era derrota certa do Bush (no qual eu votava, diga-se de passagem), mas uma vez que influencia todo o Mundo, quase dá vontade de dar o direito a todo o mundo de votar.
Mas se todo o mundo votasse para eleger o Kerry, não seria essa uma admissão de que a América lidera o Mundo? Eu gosto muito do ideal americano de democracia liberdade e oportunidades, entendo que devemos ser aliados cada vez mais fortes dos americanos, mas eles mandam lá que nós mandamos do lado de cá do Atlântico.
O que não posso deixar de criticar é o complexo de superioridade que invadiu os europeus que se julgam superiores aos americanos. O que é que aconteceu ao valor da igualdade? Se o povo americano não eleger o presidente que "nós" queremos, então fazemos birra e já não queremos brincar? É isso?
Pensem numa coisa: se não forem os EUA a combater os terroristas (não confundir com afegãos ou iraquianos), quem nos defende a nós? As forças armadas dos países europeus?
E por falar em Europa. Não me parece, meu caro Zarp, que esteja à altura dos elevados padrões culturais europeus que se olhem eleições, num continente diferente, pela negativa, ou seja, optando pelo adversário daquele que odiamos. Será que o odiamos? Será digno dum europeu odiar o Bush quando ainda não ouvi nenhum dizer que odiava o Bin Laden, o Sadam ou, só para provocar, o Arafat? Bem, com uma Europa que, por criancice, impede que um homem com muita qualidade intelectual e profissional seja comissário europeu, só pelas suas convicções morais e religiosas... Onde ficaram a tolerância e a liberdade de culto? Quem não for da extrema esquerda, a partir de agora é melhor mentir sobre as suas convicções religiosas ou sobre os seus valores...
Avanti Butiglione!!!
Quanto ao lobo mau, como era mesmo a anedota? ...tu não és mau, tu gostas é de...
God Bless America
Desculpa-me Zarp algum exagero neste desvario. Foi um desabafo.
Com Amizade,
Garal Roveje
Caro Garal Roveje,
ReplyDeleteÉ claro que prefiro sempre 1 democracia, ainda que imperfeita, do que uma ditadura. Também julgo que não será necessário estar sempre a apreguar palavras de ordem contra "Bin Laden, o Sadam ou, só para provocar, o Arafat", pois a menos que se seja acéfalo ou de compreensão invulgarmente lenta, é unânime - e por isso desnecessário estar sempre a repetí-lo - que essas 3 execráveis personagens são abomináveis. Devo dizer-lhe que apoiei a intervenção norte-americana no Iraque contra o terrorismo, acreditando ingenuamente nas razões por eles apresentadas e na esperança de que, no seu aparente altruísmo, tivessem soluções para esse país debaixo do jugo de um tirano. Infelizmente, vi tarde demais - mas nunca é tarde para se admitir um erro - que o "seu" amado presidente George W. Bush nos enganou a todos. Não será isso razão suficiente para não gostarmos dele e da sua arrogância? Não lhe faz lembrar um pouco o "orgulhosamente sós" de uma outra personagem, quiçá mais próxima de si? Como diz o velho ditado, "O pior cego é o que não quer ver". O terrorismo existe e é efectivamente um problema que tem de ser exterminado, mesmo usando a força e violência se necessário, mas se lhe dão um ambiente propício para germinar (como têm feito os norte-americanos), o problema deixa de ser de uns e passa então a ser de todos.
Em relação ao que disse "Quanto ao lobo mau, como era mesmo a anedota? ...tu não és mau, tu gostas é de...", acho que não vale a pena descer ao seu nível e responder-lhe...
Lobo Mau (BP)
Então, então, Lobo Mau...
ReplyDeleteSe começamos a levar a peito o que se lê num blog, passamos uma vida de infelicidade...
Voltando ao tema em apreço, no meu país temos um ditado que é assim: Quanto mais evidente é uma verdade, maior a necessidade de se repeti-la amiude (tradução livre). Espero que na Quarta não te tornes anti-americano. Os americanos, muitos americanos, estão a morrer por uma causa que nos vale a todos: acabar com o terrorismo mundial. Independentemente de algum suposto plano maquiavélico dos seus chefes, cabe-nos a obrigação de não deixar que os que morreram tenham dado a vida em vão.
Quanto à descida de nível, meu caro lobo, julgo que afinal não és assim tão mau. Ops., segundo a piada, isso é que era mesmo mau...
Por mim, dou por encerrada a polémica aqui, independentemente de concordar ou não com o que foi dito anteriormente (e não concordo em parte). Não me apetece andar a perder tempo com estas questões. Se terça-feira o Bush continuar como Presidente norte-americano é porque eles assim o quiseram, e portanto...
ReplyDeleteLobo Mau (BP)
Agradeço que este blog se tenha tornado num espaço de debate alargado a várias opiniões. Democracia é isto. E por isso, permitam-me o "contraditório":
ReplyDeleteGaral Roveje:
1. Nunca esteve em causa a aliança política e estratégica entre Europa e EUA nos meus argumentos. Nem tão pouco se poderá menosprezar o poderio bélico dos americanos. Mas esta conversa já está tipo-sexo-dos-anjos. Os tempos pós-2ªGM e Guerra Fria acabaram e as posições de então precisam de ser alteradas. A guerra ao terrorismo é a nossa actualidade, e nesta incerteza de actuações por parte do novo inimigo, novas estratégias têm de ser encontradas. Mas as opções tomadas por Bush apenas agravam a situação. É público e notório os erros que a intervenção americana no Iraque produziram. Longe de defender Saddam Hussein, os iraquianos estão piores hoje (atentados constantes não são liberdade); o mundo está muito mais inseguro hoje, tal como refiro no post.
A intervenção no Afeganistão mereceu a minha concordância, mas são circunstâncias diferentes - e obteve apoio e legalidade através da ONU, o verdadeiro fiel da balança para um mundo justo.
2. A posição europeia no mundo - embora não pertencendo a este post - não visa substituir a americana. Para posições isolacionistas basta a americana actual. Cooperação é a chave. E quanto mais unida, viável e forte o Projecto Europeu, melhor será para todos, isso é claríssimo.
3. Quanto às posições para além da política, entrando em valores éticos, morais e espirituais, respeito a diferença, mesmo que discorde. A divisa da UE é "Unidos na diversidade". Quanto a este tema, tenciono escrever, assim que possa, um texto intitulado "Assumir posições".