No blog O Observador, André Amaral reflecte sobre a legitimação do Estado de Israel. Mas este assunto tem aspectos históricos e sociais controversos, mesmo polémicos, que não convém descurar.
O legítimo direito de auto-determinação dos povos é essencial. Veja-se o caso dos curdos, ou mesmo os bascos. Embora realidades bastante diversas entre si - sem querer defender ou atacar qualquer dos métodos usados - o que é certo é que a geografia-da-História ditou fronteiras muito, digamos, paradoxais. A defesa dos valores de identidade social, cultural e religioso deve ser sempre a primeira escolha. Mas também a defesa pela liberdade, a paz e a boa-vizinhança.
Mas imagine-se que esses Estados nasceriam hoje. Como seria? Quais as consequências políticas, sociais, económicas?
Outro exemplo, bem sucedido, é a heróica luta pela liberdade e independência de Timor-Leste. Caso único no mundo pelo rumo dos acontecimentos, foi nalguns aspectos comparável ao Tibete ainda ocupado pela China.
Nunca me opus à criação do Estado de Israel, acontecimento histórico importantíssimo onde razão, emoção e aventura se confundem. Nem tão pouco, contra o Estado da Palestina - direito inalienável de um povo irmão. Contudo, os acontecimentos iniciais em 1947-48, os conflitos seguintes até 1967, e depois 1973 e 1982, em nada, como é sabido, permitiram a paz para Israel e seus vizinhos. Mas o carácter messiânico que por vezes se revela na ideia-construção de um Estado Judaico, levou muitas vezes a posições extremas, xenófobas, intolerantes, egoístas.
Mas a luta "por um lugar ao sol" não deve nunca ser um factor de opressão contra o outro. O respeito e o amor pelo próximo também entre estados é fundamental, pois são constituídos por pessoas, muitas contra o estado de coisas actual Muitas que querem viver simplesmente as suas vidas, sem a ameaça à sua liberdade, habitação, vida.
Contudo, a sede de destruição, que caracterizou os vizinhos árabes ao longo das décadas, tornou-se em ódio de estimação, que a pouco e pouco os levou a posições, ora cada vez mais extremistas, ora cada vez mais infundados. A arma do terrorismo, reduto de cobardes e insanos, nunca levará à paz. E a opressão nos Territórios Ocupados nunca levará à paz. Dirão que a segurança de Israel como um todo, sempre esteve em causa. Certo. Dirão que o abraço da paz partiu sempre do lado hebraico, e com isso acordos vários, que foram rompidos pelos palestinianos. Sim, é verdade. Grupúsculos - não sem importância simbólica, contudo - acabaram, sempre por minar a reconciliação. Então se uns têm direito a viver, outros também têm direito a existir. Assim, ambos têm o dever de coexistir, num local único no mundo, que por causa deste conflito já demasiado longínquo originou as divisões e consequências graves que hoje se evidenciam.
Em que acredito eu? Na Paz. Mas fazê-la é muito mais dificil que travar uma guerra. O esforço terá de ser imenso de ambas as partes. Essa vontade deverá sobrepôr-se ao eterno conflito. Controlar extremismos, combater criminosos, ceder nalguns aspectos, retirar das terras ocupadas, deitar abaixo o muro, cooperar pelo desenvolvimento, a reconciliação (dificílima) dos povos, assegurar os locais sagrados como comuns e de ninguem em especial. As dificuldades são monstruosas, mas podem ser ultrapassadas. Só a paz trará a segurança e a vida, a prosperidade e a amizade, isso todos sabemos.
Há lugar para todos no autocarro da Terra Santa com destino à Paz. Temos é de impedir a todo o custo que alguém o queira explodir...
2004-11-18
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Zarp, a questão é saber até que ponto será possível existirem dois estados em segurança mútua. Ou seja, sem se defrontarem e resistindo a todas as tentações para essa mesma confrontação.
ReplyDeleteObrigado pelo seguimento que deu ao meu 'post'.
Bom fim de semana. :-)
É no mínimo estranho pensar em paz hoje e a relacionar sempre à utopia.Mas não dá pra parar de acreditar.
ReplyDeleteGostei do blog, e brigada pela visita ao Ego. Voltarei mais vezes por aqui!
Abs,
Cris. http://www.egoconfession.zip.net