2004-11-09

Primeiro dia



As divisões, quando sucedem, são-no por diversas razões. Os desentendimentos e as desconfianças também. Mas submeter durante quase três décadas uma cidade - e por conseguinte um povo em dois países - à sombra de um muro físico-ideológico é ir longe demais. A Guerra Fria produziu muitas situações dificeis, perigosas e bizarras; o Muro de Berlim era o símbolo máximo da divisão político-militar-ideológica do mundo. A opressão e repressão, a intriga e o isolacionismo, os dogmas e as mentiras do lado de lá da Cortina de Ferro acabaram por levar à implosão de um sistema politico-social.
Faz hoje 15 anos que os leste-berlinenses sentiram o lindo e doce sabor da liberdade, o ar puro que um muro derrubado deixou passar, uma alegria imensa própria das revoluções justas e verdadeiras.
Eu lembro-me, quase como se estivesse lá. Recordo a loucura dessa noite - e mesmo dos dias que a antecederam, e as semanas que se seguiram - agarrados às imagens da TV, aos jornais, tentando saber o máximo e sentir a contagiante e repentina felicidade que atravessa os corações de alemães de leste e de oeste.
A queda do Muro da Vergonha foi o último dia da Guerra Fria. O Primeiro dia de um novo tempo de paz e união para a Europa.