2008-08-29

The American Promise



Barack Obama accepted the Democratic nomination for president on August 28, 2008, before 84,000 people at Mile High Stadium, in Denver, CO.

2008-08-27

Political showbusiness



Quem assista à Convenção Democrata actualmente a decorrer em Denver, Colorado, não deixará de notar aspectos e subtilezas espantosas. E passar a concluir de vez como os congressos dos partidos portugueses são um tédio inútil e fugaz.

Primeiro que tudo, o modo como a política é vivida e comparticipada nos EUA é totalmente diferente. Não existe um líder declarado para um partido, há uma direcção eleita, mas a estrela principal é sempre o Presidente, o candidato a presidente, figuras proeminentes estejam no Senado ou não.

Segundo. Sempre houve um empenhamento cívico directo na organização destas convenções e nas campanhas dos diversos candidatos. Mas nunca como este ano o movimento "grass-roots" promovido por Barack Obama trouxe tanta gente para o processo político.



Terceiro. Profissionalismo. Na organização (da campanha, dos eventos), na comunicação (dos conceitos, das mensagens). Os primeiros dois dias (via CNN, das 23 às 04 manhã) demonstraram bem que não se brinca em serviço. Tudo encaixado nos momentos certos.

Quarto. Showbiz. Como qualquer evento mediático americano, seja prémios MTV ou Óscares, também as convenções há muito exploram o filão TV para "espalhar a mensagem". E fazem-no com precisão, bem apresentado, e sem tempos mortos. Especialmente para quem está no pavilhão - a música, cuidadosamente seleccionada, tem nos intervalos momentos de profunda alegria - todos dançam. Fosse por cá e seria motivo da pior chacota. Mas o que vejo é tão só felicidade do momento, mas também uma atitude colectiva cuja participação lhes é importante e gratificante. Estes quatro dias são o génesis definidor de um caminho político para os meses e os anos que se seguem, e cada um se sente parte integrante de um projecto novo.



É muito mais estimulante este tipo de participação. Terá muito a ver com o próprio sentimento e atitude americana pelas coisas, mas é um modo mobilizador, positivo e visualmente apelativo que possibilita criar condições para desenvolver e divulgar a mensagem política. Esta não tem de ser fria e obtusa. A nobre arte da política renova-se a cada quatro anos.
Na quinta-feira será o ponto alto desta Convenção Democrata quando, perante uma audiência estimada em 75.000 pessoas num estádio (desde JFK que tal não sucedia), Obama dará o seu discurso de aceitação de candidato oficial do Partido Democrata à Presidência dos EUA. Mais um ponto alto de uma campanha histórica, de um candidato histórico e de um momento histórico essencial para a mudança.

2008-08-26

Um perigoso jogo de xadrez



Diz-se que a origem do xadrez remonta ao século VI, quando um mestre o inventou para ensinar as artes e ciências intelectuais da guerra ao rajá de um reino indiano. Um jogo de estratégia e táctica, onde as complexidades dos elementos e movimentos o tornam tão intrincadamente fascinante como análoga ao tabuleiro que é a ordem internacional. E a jogada mais recente, sendo prevísivel, foi-o também inevitável mas desafiadora. O esperado reconhecimento russo da independência da Abkházia e da Ossétia do Sul invoca de vez um novo tabuleiro que desde 8 de Agosto nos encontramos. O próximo movimento pode ser feito pela NATO no posicionamento de forças navais mais próximas da Geórgia e, em jogada táctica futura assumir a integração desta e da Ucrânia.
A Rússia assumiu de vez que a sua influência e poder é maior que o Ocidente pretendia. O Grande Urso afirma que não receia uma nova Guerra Fria, mas esta posição declarada por Medvedev será a médio prazo mais negativo para a Rússia do que ela possa imaginar. Pelo afastamento da Europa, pelos perigos internos que ela própria tem em regiões com intuitos separatistas (Tchétchénia, Inguchétia, Daguestão, etc).

Veremos como se comportarão a China e a Índia em relação a estes novos desenvolvimentos. A alteração ao Direito Internacional, em que a Rússia coloca o caso do Kosovo como precedente, é perigoso e ilegal. O Kosovo, por mais específico que seja teve um processo político interno exemplar e democrático. Contudo a China e a Índia têm problemas suficientemente semelhantes a evitar dentro das suas fronteiras, seja o Tibete e Xinjiang, ou Caxemira. O reconhecimento unilateral de territórios externos é como abrir a caixa de Pandora.

A Rússia não tolera contrariedades. Ao longo dos séculos sempre foi assim, é da natureza deles. Quem acreditava na democratização russa vivia numa tremenda ilusão. E quando um Estado não age nem pelas regras do bom senso, podemos recear pelo futuro.

2008-08-18

O Urso saiu da toca




Há erros inocentes, erros exemplares e erros trágicos. Mas também existem erros estratégicos e erros de palmatória. Ou seja, a origem desta crise no Caúcaso foi provocada pelo presidente georgiano Mikheil Saakashvili, mesmo que depois de agressor inicial, se tenha tornado numa vítima que transcende as suas fronteiras nacionais. Mas foi uma excelente oportunidade para o Urso sair de vez da hibernação. A Geórgia subestimou a reacção russa, mas também acabou por cair na armadilha, cuidadosamente montada ao longo dos últimos quatro anos, em sucessivas provocações e ameaças subtis. Os motivos invocados pela Rússia são falaciosos, e incorrem no mesmo mau procedimento (invasivo) anteriormente desencadeado pelos EUA ao invadirem o Iraque...

A Abhkázia e a Ossétia do Sul não têm qualquer hipótese de retorno ao seio do Estado Georgiano. Há mais de uma década que ambas existem enquanto territórios independentes, e o facto das suas populações possuírem cidadania russa é tanto uma vantagem como um instrumento valioso para os tempos mais próximos.
Vejamos a realidade passada, mas concretizada ainda este ano: a declaração unilateral de independência do Kososvo face à Sérvia. Esta foi consequência inevitável (e previsível) de um precedente que muitos previram como perigoso para o futuro. O direito à autodeterminação está consagrado na Carta da ONU, mas a desagregação unilateral de países e territórios sendo ilegal, pode com o exemplo do Kososvo, repetir-se por exemplo no País Basco, ao de forma previsivelmente sangrenta no enclave azeri de Nagorno-Kharabak na Arménia, e na Moldova.
Na verdade a NATO fez o que a Rússia fez agora, os motivos e os meios assemelham-se, e as consequências imediatas também. Contudo, se nós ocidentais desconfiamos da agenda política russa, nunca estes confiaram na nossa.

O controlo do Cáucaso é vital para a Rússia assumir de novo o seu papel imperial, algo que Georgianos, Arménios e Azeris claramente receiam. Mesmo a Ucrânia pode ter na Crimeia (base da Frota Russa do Mar Negro) um pretexto apetecível para recontros mais perigosos. Até onde irá esta Rússia que durante muito tempo apenas a máscara se queria ver. A verdadeira face das estepes nunca esteve totalmente escondida e apenas os jogos de poder tentavam adiar um cenário negativo.

Vemos agora a verdadeira Rússia, a nova potência renascida concebida ao longo dos dez últimos anos. De facto, tudo parece um plano muito bem delineado, com determinadas etapas muito bem estabelecidas, e onde certos acontecimentos apenas fizeram avançar mais rapidamente para a concretização dos objectivos - o alargamento da NATO e da UE para Leste, os mísseis na Polónia, o campo de radares na República Checa.
São inúmeros os casos que podem demonstrar a falta de fé (democrática) por parte da Rússia. As anuais chantagens energéticas de inverno, que colocam a Ucrânia e a Polónia em posições débeis, e em reacções embaraçosas das também dependentes Alemanha e França. O assassinato de Litvinenko em 2005 (não é dificil suspeitar do Kremlin, e quanto mais tempo passa...). A "ilegalização" do British Council na Rússia. O ataque cibernético à Letónia e este ano à Geórgia. Em 2003, o então Presidente Putin afirmou que "o maior erro geoestratégico do século XX foi o fim da União Soviética". A prisão de indivíduos "perigosos e criminosos" para o Estado. A guerra na Tchetchénia. O assassinato de jornalistas, entre as quais Anna Politkovkaia. E finalmente, a troca de lugares Putin-Medvedev, foi obviamente uma cena primordial de um filme cujo enredo se vislumbra cada vez melhor.

A presença em Tblissi dos líderes da Ucrânia, Polónia, Letónia, Estónia e Lituânia, numa manifestação de apoio ao Presidente georgiano, foi uma clara e desafiadora posição de força contra a intervenção e as reais intenções da Rússia.



Logo, o assunto é mais grave do que parece. Os receios de uma nova Guerra Fria não são infundados, apesar dos desmentidos. Assistimos a uma alteração geoestratégica clara com a posição desafiadora da Rússia, e as hesitantes reacções europeia, e claramente duras dos EUA. Tal, que o endurecimento da situação favorece a posição do candidato republicano John McCain, quando o que mais se deseja são atitudes de mudança e paz possíveis com Barack Obama como Presidente dos EUA.
O problema prende-se em como agir para não fazer zangar o urso. Não o podemos diabolizar (grande parte da responsabilidade da ordem mundial deve-se ao erro Bush-Cheney), mas também não devemos ficar indiferentes à Rússia que agora se apresenta. Mais uma vez nos corredores do poder, a Realpolitk toma posições.



Para acompanhamento directo e explicativo do que acontece na Rússia, o blog do jornalista José Milhazes oferece excelentes visões e claras notícias do país das estepes.

2008-08-07

Progress



Fantástico poster da autoria de Scott Hansen