2009-01-20

Esperança na audácia


CHRISTOPHER MORRIS / VII FOR TIME

Hoje começa uma nova etapa. A renovação do espírito e dos valores da democracia. A responsabilização e a entrega à causa pública. A força do optimismo para um novo começo. Um dia após os oitenta anos do nascimento de Martin Luther King um grandioso e histórico dia de mudança, uma concretização de parte do seu sonho toma lugar. A sua repetida ideia-de-força "A feroz urgência de agora" regressa para nos fazer lembrar que mais do que nunca este é o momento. Barack Obama é a personificação destas ideias e destes ideais. O Presidente Obama é o novo líder de um caminho novo, pronto para liderar e moldar o século XXI com soluções globais de justiça e de esperança.

O poder e a luz da esperança espalharam-se por todo o mundo com a histórica eleição do filho de um queniano e uma americana. É urgente pensar o mundo por outro prisma. Agir pelo bem comum, construir pontes de diálogo e cooperação, resolver diferendos e edificar a paz, proteger os povos e o planeta. Nunca como agora existiu um sentimento comum a tanta gente por todo o globo. A emoção e a felicidade fazem-nos acreditar que é possível fazer a mudança, em cada um, com todos, para todos.
Ao longo de 2008 criou-se à volta de Obama uma veneração invulgar. Mas a partir de hoje, 20 de Janeiro de 2009, há que encarar a realidade e entender que o caminho que está à sua e à nossa frente será difícil, mas possível de vencer. A luta diária pode, e deve, ser encarada com uma nova atitude transformadora onde cada indivíduo poderá contribuir para um mundo diferentemente melhor. A ilusão de um "amanhã que canta" pode até tornar-se real, apesar das dificuldades, apesar das incertezas. Uma das frases mais vanguardistas que compõem as inovadoras leis americanas pode ser lida na Declaração de Independência dos EUA de 1776, onde reza que todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. São estes desejos que se renovam hoje por todo o mundo. A estrada será estreita e longa, mas pelo menos agora podemos percorrê-la com a força das nossas convicções, com a certeza de objectivos claros e justos, prontos para mudar, sem esperar que alguém o faça por nós. É nos momentos difíceis que devemos encontrar as forças para ultrapassar os contratempos que a vida nos reserva. Com audácia devemos erguer um futuro com esperança.

As tarefas da Administração Obama são hercúleas. Liderar com prudência, determinação, responsabilidade e abertura, agir com audácia e inovação, com propósitos sociais e equitativos são essenciais. Quer nos EUA, quer no estrangeiro. Retomar as investigações científicas em prol do melhoramento da saúde humana. Os Estados Unidos precisam de regressar aos princípios do Protocolo de Quioto, indo mais além na implementação de políticas energéticas limpas e inovadoras. Encetar novas formas diplomáticas no estrangeiro, constituir novos e criativos modelos de relação com o mundo. Terminar o erro da intervenção no Iraque e encarar com responsabilidade o enorme desafio chamado Afeganistão, mesmo que historicamente nenhum exército estrangeiro tenha conseguido vencer naquelas terras. Fechar Guantánamo e encerrar o capítulo vergonhoso das práticas contra os direitos humanos. Determinar soluções concretas para o Médio Oriente, onde o apoio a Israel terá de ser reequacionado em prol da paz e da coexistência com o mundo árabe, que por sua vez deve assumir o seu papel de real promotor desses mesmos princípios. Encarar a luta contra o terrorismo e a Al-Qaeda sob outro prisma, mas sempre acreditando na vitória dos princípios da liberdade e da razão. Acredito que os EUA deverão olhar para Cuba com melhores intenções, não esperar que Fidel Castro sucumba por fim (depois de quase 700 tentativas de assassinato por parte dos serviços secretos americanos), retirar da base de Guantánamo como acto de boa fé e reconciliação. Assumir posições mais persuasivas, concretas e eficazes sobre o Sudão e o Darfur, contra o despotismo de Robert Mugabe e outros abomináveis líderes africanos. Reiniciar relações de confiança com a Europa, e assumir connosco parcerias essenciais para projectos globais. Encarar com realismo a Rússia e a China. Promover por fim a alterações no Conselho de Segurança das Nações Unidas, baseadas na realidade geo-política do século XXI. Estes são alguns dos caminhos que podem fazer mudar o mundo. Os próximos meses e anos nos revelarão se serão concretizados.

Obama não é um Messias. Ele é a imagem de uma esperança que transcende fronteiras, é um símbolo de energia positiva. Não vai resolver todos os problemas, mas podemos acreditar que fará os possíveis para melhorar grande parte dos que existem. A abrangência da sua mensagem de optimismo acaba por exigir também de nós essa capacidade e a mobilização para transformar. Basta acreditar.


Pledge of service


Enfim duma escolha faz-se um desafio

enfrenta-se a vida de fio a pavio

navega-se sem mar, sem vela ou navio

bebe-se a coragem até dum copo vazio

e vem-nos à memória uma frase batida

hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


O primeiro dia, Sérgio Godinho

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2009-01-17

a guerra é uma merda


Jeremy Nell, The Times, South Africa

O direito à defesa é inegável. O dever de lutar pelos ideais de liberdade e justiça também. Ambas se interligam, mas também se confrontam. A culpabilidade e o valor dos mortos tornam-se insignificantes ou inaudivelmente atrozes. Mais um embate israelo-palestiniano termina daqui a pouco, tempo suficiente antes da tomada de Obama como presidente dos EUA. A hipocrisia do cessar-fogo é tanto jogo político como o próprio início desta operação. Os diversos interesses estratégicos na mesa nada mais são que manobras eternas de falsos moralismos conjugadas com verdades irresolúveis. A solução não passa pela guerra, mesmo que o Hamas seja abominável, mas as respostas israelitas, mesmo que justas quanto à defesa da sua existência, ultrapassam sempre o razoável, atingindo muitas vezes também o inaceitável.
Os ganhos concretos de mais esta intervenção veremos a partir de terça-feira, e nas eleições para o Knesset em fevereiro. Mas até lá, os perdedores são sempre os inocentes no meio disto tudo.

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2009-01-01

2009

O nosso bom futuro constroi-se em relações assentes na confiança, na inclusão global e na forte crença de que cada um de nós é parte de um bem comum, o planeta Terra. O intercâmbio entre povos e nações deve ser obtido pelo bem, pela honra, pelo respeito, pela paz. Cada um tem o inequívoco direito à felicidade e, juntos, principalmente com aqueles que detém o poder e os meios, devemos avançar e actuar para fazer a diferença, para fazer as coisas funcionarem, para fazer a mudança.

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