2004-12-28

The End of Days



2005

"Temos razões para encarar o ano de 2005 com algum optimismo? É possível começar a inverter o ciclo de decadência e de pessimismo em que Portugal mergulhou? As duas perguntas só podem ter uma resposta positiva se, por um momento, os responsáveis políticos, que se prepararam para disputar as eleições de Fevereiro, resolverem encarar a realidade e falar verdade ao país."

Texto de Teresa de Sousa no Público de hoje.

2004-12-27

Vítima, sempre

Até no Natal.
Mártir:
“O Natal deve ser um momento em que, sobretudo, nos viremos para dentro de nós próprios e para aqueles que, porventura, pior nos tenham feito. Não é fácil perdoar, não é fácil compreender quem tem atitudes que nós não tomaríamos”

Mas também ilusionista:
«Como primeiro-ministro gostaria, como num golpe de mágica, de criar todos os empregos que faltam, de resolver todas as injustiças.»

Discurso de Natal do PM Santana Lopes

2004-12-21

Neste Natal, tu podes!

Estamos a aguardar pela noite de Natal
para receber o nosso presente:
um iPod.



Se o Pai Natal (ou será o Menino Jesus?) estiver a ler este blog, já sabe onde poderá deixar este pequeno brinquedo. Mas o melhor é ser rápido, pois dizem por aí que estão a vender-se que nem laranjas.

De volta ao design

Está online a nova versão do site da Benzina.
www.benzinadesign.com

The Practical Power of Design

"In 2004 the Design Council began work on a new strategy that is intended to create a more dynamic organisation and give us an even greater influence over business and the public sector. In short we will become a campaigning organisation."

Mais uma excelente publicação do Design Council.
Download pdf
aqui.

hay!



Design sempre!

Este blog tem ultimamente, e no calor dos acontecimentos, enveredado bastante por caminhos da política. Assunto que muito me atrai, não visa no entanto transformar este blog em algo longe dos objectivos inicialmente propostos: a divulgação e promoção do Design; exposição de ideias e opiniões (sobre cultura, política, cinema, etc); partilhar textos, obras e ideias/ideologias. O design, causa e paixão profissional, permanecem. Assim, pondo a loucura dos tempos para trás (interrompido quando tal se justificar) o design voltará a ocupar espaço privilegiado neste blog, para alegria de uns e alívio de outros...

Curioso

É no mínimo curioso ver um governo de direita culpabilizar (nas últimas semanas) os agentes económicos. Está tudo louco...

Expectativas

O novo executivo está obrigado, exigimos todos!, que não brinque mais com coisas sérias. Já se perdeu demasiado tempo com palhaçadas e urge avançar com um planeamento estratégico e sustentado para Portugal. Agir de acordo com as dificuldades e as urgências. É absolutamente necessário não repetir os vários erros do passado. É absolutamente primordial pensar, definitivamente, que um cargo público é servir o país e nunca servir-se com vaidade e reforma garantida. É o futuro de uma nação que está em causa, na sua viabilidade económica, social, política. Se Portugal não encarrilhar, o caminho tornar-se-á quase impossível.
Se assim for, quem mais irá acreditar que é possível?

(Saído das eleições de 20.02.2005 o novo governo terá legitimidade - que o de Santana nunca conseguiu obter - para governar até ao fim. O precedente que dizem que o PR abriu, repetir-se-à? Há quem sugira alterar os poderes do presidente nesta matéria. Manuel Monteiro propõe uma alternativa radical: um governo presidencial, como nos EUA, ou Brasil.)

O país de Eça

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
(...)
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
(...)
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»


Eça de Queirós, 1871
(retirado de Contra Santana)

A adaptação de "O Conde de Abranhos" para TV na RTP, foi o meu primeiro contacto com esta análise, arrepiantemente contemporânea da sociedade e da política nacionais. Aí vivíamos em tempos de Guterres, e as semelhanças eram de bradar aos ceus. Cada vez mais, e desde há alguns anos, que este Portugal, agora já séc.XXI se assemelha mais ao Portugal de Eça de Queiroz. Que caminho a traçar se no fundo vai tudo dar ao mesmo?

Se não melhorar, ou fazemos todos uma revolta, ou saímos todos daqui, para lugar que aprecie o suor do nosso trabalho enquanto simples cidadãos.
Se a incompetência continuar, bardamerda para os políticos.

Causa-efeito II

Reflexões sobre os efeitos

1. A queda
O óbvio tornou-se óbvio. O lançamento da "bomba-atómica" foi a forma encontrada para derrubar este governo. A instabilidade politico-governativa transbordou o copo da paciência de Sampaio, e este, alicerçado nas razões invocadas na tomada de posse de Santana e nos aburdos e impensáveis acontecimentos dos últimos meses, sem vislumbre para melhorar nos tempos mais próximos, tirou-lhe o tapete. Encostando o PM ao canto da sala, qual castigo escolar, obrigando-o a manter-se oficialmente em funções, mas humilhadamente restrito a governo-gestão com os dias contados, o PR abriu um processo constitucional de consequências inéditas. Mas ainda bem que caiu. As eleições serão o momento clarificador de importância primordial para Portugal. Ganhe quem ganhar.

2. Atitude
Pedro Santana Lopes foi o elo mais fraco da coligação. Responsável último pela situação a que chegámos, PSL continuou a fazer guerra com o PR, fazendo jogo sujo, intrigando, ao jeito que vimos denunciado pelo ex-ministro Henrique Chaves. Acusar o Presidente de mentiroso, depois fazer uma declaração assente em "Porquê?"s parece coisa de garoto de cinco anos. O que é certo é o menino-que-se-julgava-mais importante provocou a sua queda e dos outros meninos (bons e maus alunos) e ainda não entende a razão da queda.
Quanto à demissão, o mais correcto seria demitir-se imediatamente após a comunicação do PR. Dava-lhe alguma credibilidade. Nunca 24 horas depois. Só revela a inconstância e a incerteza das suas decisões, sempre à espera que alguém lhe diga como fazer, mas só quando quer ouvir. A intenção ou sugestão de abandonar o cargo seria a birra-suprema!
Sim, a ideia-imagem de ser apunhalado como César aceita-se. Sim, não teve sossego este governo, como nenhum outro foi assim fustigado. Mas nenhum outro executivo se comportou desta maneira, pelas razões já enunciadas e, num espaço de tempo tão curto. Foi um "bébé" não planeado, onde a "família" não estava preparada para o sustentar. E acabou por falecer na incubadora...

3. Quatro meses desperdiçados
Mas foram só quatro meses!? Partindo logo com alguma desconfiança, nem aproveitaram a euforia - que ainda ficou apesar do 2º lugar no Euro - para galvanizar o povo e, a percepção de que ainda se deviam fazer sacrifícios... Mas foi tempo suficiente para não levar a sério qualquer iniciativa do governo, não acreditar na sua vontade e linha de rumo, provocadora de desconfiança em todos os sectores económicos e sociais como nunca antes se vira. Nunca um governo em tão pouco tempo foi tão odiado.
Leis já preparadas desde Barroso agora concluídas, como a Lei das Rendas, Código da Estrada. Pouco? Sim. Orçamento-PSL-Bagão para 2005 insuficiente. Mas obviamente que haveria muitas mais a serem estudadas, projectos para aprovação, outras prestes a serem concluídas. Mas Ícaro quis voar até ao sol...

4. Oportunidade perdida
O PR deu a PSL uma função honrosa que desonrou. Deu-lhe a hipótese de provar aquilo por que tanta afirmara. Provou o que muitos temiam.

Pacheco Pereira escreveu em Abrupto que PSL "tem pouco interesse e conhecimento das matérias exclusivas do Estado, Negócios Estrangeiros, Defesa, Administração Interna, que deixa praticamente em autogestão aos respectivos ministros. Na macro-economia não se mete, o que faz bem. Na micro já não estou certo, porque a politização dos nossos negócios é enorme (...) Sobra o que sobra: a gestão político-partidária a partir do estado, a propaganda, chamada “imagem”, matérias a que sabemos dedica grande atenção. E depois sobra aquele misto de governo paternalista, envolvendo clientelas e patrocinato, proximidade e festa popular, banda, majoretes e desfile dos bombeiros, inaugurações e foguetes, boletim com cem fotografias e cartazes de promessas, notáveis agradecidos e “sessões solenes”, que é tão típico da forma paroquial como são geridas as autarquias."

Alicerçado apenas na sua capacidade natural e invulgar de retórica e de improviso, por vezes foi-se safando, mas no concreto demonstrou a incapacidade de cumprir um cargo público desta natureza. Levou o país mais fundo na sua vontade oposta de se reerguer. Descredibilizou ainda mais a governação e arrastou quase todos os políticos para níveis de confiança nunca tão baixos. Ele, tão gabarolas, que "dizia, fazia e acontecia" deitou tudo a perder. E as eleições serão a estocada final para nos vermos livres dele.

5. Coligação
Paulo Portas considerado por muitos a "besta" da coligação foi afinal o elo mais forte. "Disciplina, Confiança e Competência" afirma ele, num resumo positivo da participação do CDS-PP no governo. Como já referi, como Ministro da Defesa há muito não se via alguém com resultados nesta pasta, mas enquanto parceiro de coligação, imprimiu a esta uma linha ideológica muitas vezes em conflito com a do PSD. Este engoliu um sapo, mas Portas tornou-se no príncipe nesta AD quando o rei abdicou, subindo ao poder o herdeiro-bastardo.
A novela da coligação/não-coligação apenas se deveu a Santana e seus compinchas. Na ilusão de que ambos obterão votos nas eleições para de novo formar governo, irem separados é sempre a melhor opção para o PP.

6. Oposição
Para os partidos da Esquerda, o lançamento da "bomba-atómica" soube tanto a surpresa como um doce. PS e BE iriam preparar as suas estratégias só no próximo ano. PCP estava, como sempre, "pronto para a luta". Mas entre uma eficaz e combativa forma de exercer a oposição e entre ficar à espera que a laranja caisse de podre a fronteira foi ténue. Afinal eleições seriam só em 2006 e vem aí o Natal e Ano Novo e a malta não quer incomodar-se agora...

7. Campanha e data das eleições
A constituição portuguesa diz que após dissoloção da AR as eleições terão lugar no mínimo de 55 dias. Tanto tempo! Excerto do texto de Miguel Sousa Tavares no Público:"em Inglaterra, quando um governo cai, é imediatamente marcada a data das eleições - que nunca vai além de 20, 25 dias -, a campanha eleitoral inicia-se de imediato e, no dia seguinte às eleições, o novo governo entra em funções. Perder mais do que um mês em todo o processo é coisa que não lhes passa pela cabeça."
Tirem as vossas conclusões onde a democracia e o Estado funcionam melhor.

Estas eleições serão quase como as recentes americanas. Votar contra Santana, será mais importante que votar a favor do PS - pois a alternativa que nos é apresentada não inspira...

Cabe a todos os partidos, conduzir uma campanha lúcida, inteligente, cívica, participativa. Para bem de todos. Será que conseguem?

2004-12-18

a barriga de um arquitecto: 1 ano

De entre vários blogs que costumo espreitar, existe um núcleo duro que não dispensa a minha atenção. Assuntos pertinentes sobre arquitectura e muitas preocupações que também eu partilho, o blog a barriga de um arquitecto festeja um ano de existência. Parabéns Daniel.

2004-12-17

Designers for Peace



A project against war the culture of violence. Creativity as a civic expression. Design as political struggle.
Um projecto contra a guerra e a cultura da violência. Criatividade como expressão cívica. Design como luta política.



Light Design

2004-12-16

Causa-efeito I

Eu não queria voltar a este assunto, pois já muito se disse e escreveu. Mas julgo que devo opinar sucintamente as minhas razões por concordar com a queda do Governo e consequentes eleições (apenas) em Fevereiro.

Causas

1. Demissão do PM Durão Barroso
A nomeação para Presidente da Comissão Europeia foi, a princípio um orgulho, mas a aceitação foi um erro. Como Guterres, abandonou o barco, indo para um "certo tipo de paraíso".

2. Indicação pelo PSD de Santana Lopes para PM
O enfant-terrible foi fazendo a sua caminha, mas era para PR porque PM era inacessível. Mas saiu-lhe a sorte grande e a ambição do poder e as influências e a imagem mediática levou que fosse ele o escolhido. Mas também houve cobardia dentro do PSD: agarrados ao poder, um conflito por um novo líder poderia desencadear eleições. Ficou a opção mais barata. E como se sabe o barato sai caro...

3. Indigitação para PM de PSL pelo PR Jorge Sampaio
Na sequência de que cada legislatura deve ser cumprida até ao fim, a escolha de Santana nunca ofereceu no entanto ao PR, como se podia ver no seu rosto pesado durante a tomada de posse, garantias de estabilidade e método governativo. Na minha opinião, deveria ter havido eleições.

4. Inconsistência e falta de visão estratégica
O "andar aos papeis" no discurso de Santana na tomada de posse foi o prenúncio e é a súmula de toda a governação.

5. Discursos surrealistas sobre uma realidade apenas na mente etérea de Santana
Dizer que "a crise morreu! Viva a retoma!" foi de enorme inconsciência e falta de sentido de realidade. Foi deitar abaixo em poucos dias, sustentado por um orçamento incrédulo, a dois árduos anos de sacrifícios e políticas de austeridade do governo Durão-Ferreira Leite. Pondo em causa as expectativas do meio económico para o crescimento de Portugal.

6. Propor medidas incongruentes à medida que abria a boca
E no outro dia desmentidas, e dias depois perfeitamente votadas ao abandono dada as suas impossibilidades. Sem pensar antes de falar, verdadeira picareta-falante (o que diziam de Guterres) todos os dias tínhamos que gramar o homem...

7. Notória descoordenação e instalibilidade intergovernamental
Desmintir ministros, obrigando-os a uma linha governativa ao sabor das "ideias" e de promessas demagógico-populistas. Reorganizações ministeriais notoriamente para fieis-amigos. Demissão-escândalo de Henrique Chaves - que diz tudo deste PM.

8. Arrogância e prepotência
E não "coragem e determinação". No "quero, posso e mando" de determinados actos e opções políticas. Barco do Aborto, comunicação social, Central de Comunicação...

9. Vaidade e ambição desmedida
Pavonear-se cada mês em Conselhos de Ministros reunidos em localidades diferentes, ilusoriamente mais perto dos cidadãos, quando estas deslocações aumentavam os custos a todos os níveis. Ir à Assembleia Geral da ONU e (quase) ninguém saber quem é o sujeito... Assinar o Tratado Constitucional da União Europeia em nome de Portugal como Primeiro-Ministro quando nunca na vida fez por estar ali (mas alguém precisava representar o país).

10. Falta de sentido de Estado
Afirmações e argumentos absurdos e indelicados, pondo gravemente em causa pessoas e instituições. Ignorar o cargo de PM colando-o ao de presidente do PPD-PSD (não estão fartos desta designação que mais ninguém usa?). Abuso da memória de Sá Carneiro. Colocar-se sempre no papel de acossado, sendo afinal vítima de si próprio. Não teria melhor para o governo ele ter estado sempre caladinho?


Nota:
Comentário#4 são excertos da Comunicação do Presidente da República. Aqui diz tudo...

2004-12-10

insulto ignóbil vs insulto inteligente

O - quase deposto - ministro de Estado e da Presidência, Nuno Morais Sarmento, acusou o Presidente da República, Jorge Sampaio, de ter decidido dissolver a Assembleia da República numa “lógica da caudilho”, acrescentando que esta decisão, do ponto de vista da democracia, é um sinal de “imaturidade de regime”. O insulto político de baixo nível espalha-se como nuvens negras de tempestade. Estes meninos que agora se vêem importantes, descobrem palavras divertidas no dicionário e, supondo-se tão inteligentes quanto os mais velhos e experientes que cá andam, acabam por se ver em trapalhadas para se desenvencilharem das anteriores.
Exemplo máximo de uma resposta de tão inteligente e fatal, que se o ministro tivesse vergonha metia-se num buraco e só abria a boca para o ano, foi o comentário do insuspeito Diogo Freitas do Amaral: «O único fenómeno caudilhista que houve em Portugal passados 30 anos do 25 de Abril chama-se Pedro Santana Lopes. Portanto, acusar Jorge Sampaio de caudilho, quando ele é o oposto do caudilho, só dá vontade de rir».

2004-12-07

80



Mário Soares, por Júlio Pomar
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