2004-11-29

os que lideram (?)

Uma vez que estão definidos todos os líderes do partidos com assento no parlamento, eis que chegou o momento da análise:

Santana Lopes e o PSD
Um substituto muito pouco recomendado, indesejado e ilegítimo, com desejos de controlar tudo e todos na comunicação social - pública e privada -, divulgar uma imagem irreal (surreal...) do país, mostrar uma realidade governamental entre o providencial e o transcendente, sempre com o discurso do acossado, do coitadinho, de não batem mais no ceguinho. Este homem fala, fala, fala, fala, fala, e não diz nada. Ambicioso apenas para projecção de imagem e orgulho e vaidade, querer ser famoso sem esforço, parecer maior do que é, ter um currículo vasto mas sem concretização, amiguinho do seu amigo (até ontem, com a demissão de Henrique Chaves), sempre com um discurso demagógico e indivudual. Abusivo da memória de Sá Carneiro e do ideário do PPD-PSD, como nunca se cansa de frisar. Tentando criar um partido liberal, cuja designação é demasiadamente igual à sua própria sigla PSL. Ou seja, criou um partido à imagem do homem, roçando o culto de personalidade (vejam o "hino" do último congresso: "Somos actores da História/de coragem e glórias/pátrio orgulho do passado/abraçado pelo mar/... Santana Lopes é a voz/na vanguarda do futuro/de norte a sul/de todos nós") e orientações políticas tão rídiculas quanto perigosas, qual regimes como da Coreia do Norte. Este homem, como sempre se soube, e a cada fim-de-semana que passa, crise governamental após crise governamental, mergulha-se a ele próprio num poço com o tamanho do país. A incompetência e, o egoísmo e narcisismo, cada vez mais vêm ao de cima como o azeite e como, não a "verdade" enunciada no último congresso, mas a verdade de que este país se encontra desde julho sem rumo. É, desde sempre o homem errado, errático e erróneo. Estaremos a poucos dias ou semanas de vislumbrar uma saída para o sarilho em que Durão Barroso primeiro e o Presidente Sampaio depois, nos meteram?

O património do PSD sai deveras beliscado com a passagem de PSL. Tal como o Prof. Cavaco Silva este sábado no Expresso argumentou pelo afastamento dos incompetentes, o retorno à competência é o único caminho certo a seguir, pelo bem do país, mesmo que não votemos neles.


José Sócrates e o PS
Quase como um anti-Santana, na medida em que as diferenças, paradoxais, apenas são por serem de partidos adversários. Enquanto ministro do Ambiente e da Defesa do Consumidor, Sócrates provou que a persistência das ideias prevalece sobre a mania das sondagens e da imagem que do governo se tem. Agradou-me enquanto ministro, mas ainda não me convenceu enquanto líder do PS. Cuidadoso com a imagem, limpa, telegénica - é o mais elegante dos políticos nacionais - acaba também por ser algo insípido. José Sócrates representa um guterrismo sem muito diálogo, numa visão mais centrista e pouco esquerdista dentro do PS. O palavreado floreado, preenchido com demagogia q.b. e um tom quase monocórdico e pouco abrangente e pouco explícito têm sido aspectos que para mim não se afiguram como alguem que do PS deva posicionar-se como líder. Aliás basta comparar a lista de Sócrates com a de Manuel Alegre para ver onde estavam os pesos-pesados deste partido...
Para mim, Manuel Alegre como secretário-geral do PS significaria uma liderança baseada nos pressupostos do socialismo idealista e da sua renovação enquanto movimento modernizador e estratégico - para o partido e para o país - enquanto líder de oposição contra um governo caduco e sem nexo. Uma imagem construída sobre a firmeza, o idealismo, a seriedade e a coerência, mas também um carisma abrangente em todo o país - que nunca é de menosprezar - levaria Manuel Alegre, enquanto líder dos socialistas a uma vitória do partido nas próximas eleições, diferente da que levará Sócrates, baseada apenas no desgaste e desmembramento do Governo de PSL. Pois esta liderança socialista continua amorfa, ficando à sombra da bananeira que é o colapso da estabilidade política do país.

Também no PS actual se vê que os mais competentes preferem estar de fora, em particular António Vitorino, e outros, por via da eleição para a liderança (integrados na lista de Manuel Alegre). Resta esperar que, uma vez governo, o PS saiba colocar nos lugares certos pessoas com níveis de qualificação e competência já comprovados.


Paulo Portas e o CDS-PP
Um óptimo jornalista, em particular como director do Independente, original consciência crítica, mesmo que dele discordássemos, do modo de fazer política. Mas quando ele próprio se tornou político, a visão jornalística perdeu-se e ganhou-se um líder populista, a roçar aspectos de extrema direita. Passou a ser o "Paulinho das feiras" (e com isso, e depois disso, desiludiu muita gente), a falar aos berros, a ter uma atitude mais arrogante e intransigente. Quer antes, quer como membro do governo. Aí, na primeira fase foi o elo mais forte (nem sempre de forma positiva) a par de Barroso e Manuela Ferreira Leite, agora na segunda (e derradeira fase) acaba por ser o garante da coligação, pois esta acabará por desfazer-se com a implosão do PSD. Contudo, enquanto Ministro da Defesa considero que tem feito um trabalho há muito necessário: reforma e reequipamento essenciais nas Foças Armadas - exceptuado a compra dos submarinos, absolutamente inúteis e caríssimos, dinheiro que serviria melhor para outros propósitos nacionais.

O fim eminente deste governo e da coligação, significa uma enorme derrota para o CDS- PP. Um governo que estava preso a uma minoria política que acabava por determinar parte substancial do acto governativo, e que agora se corroi por dentro, eclipsará a base de apoio do partido com resultados nada positivos nas próximas eleições legislativas. O actual CDS é Paulo Portas (PP não é de Partido Popular...) e o fim de um é o fim do outro.


Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda
A verdadeira oposição actual centra-se à volta do Bloco de Esquerda e dos seus dirigentes, como Miguel Portas, Luis Fazenda, Fernando Rosas. Mas Francisco Louçã, figura mediática desde os tempos do PSR, demonstrou inúmeras vezes capacidades retóricas e argumentos vários que punham em causa a acção governativa. Por vezes parecendo arrogante e com a mania da perseguição, Louçã é contudo, o garante de uma renovação moderna e actual de uma forma de se colocar à esquerda no espectro político. Sendo um grupo original e heterogéneo, o BE tem capacidade de ser um útil parceiro de governação (tal como à direita se considerou o PP). Com ideias tanto realistas quanto utópicas (não fossem eles "de Esquerda") o discurso acaba por conquistar muito do eleitorado mais jovem, ou descontes com o PCP e o PS. Desde que surgiram foi neles que votei, embora haja argumentos em determindas áreas dos quais discordo, aproximando-me mais do PS e de uma forma talvez um pouco mais liberal por vezes.


Jerónimo de Sousa e o PCP
Esperei pelo fim do congresso comunista para conseguir dar uma opinião mais consistente e objectiva sobre o novo líder. Jerónimo de Sousa é o líder-tipo da massa comunista: operário, lutador, coerente, mas também preso à velha ideologia. Acontece que não é, num ideal de renovação e abertura do PCP aos tempos modernos, o líder certo. Com Jerónimo de Sousa, o PCP estará igual a si próprio, com uma postura ainda mais combativa, "contra as políticas de direita e do capitalismo", disposta a roubar protagonismo ao BE mas, longe de oferecer uma solução sólida para uma possível coligação num governo sáido das próximas eleições. Esta liderança, assente no núcleo duro (personificado pelo clone político de Cunhal, Domingos Abrantes), estoicamente levará o PCP para resultados, para mim incertos. A actual conjectura anti-direita favorece os partidos de esquerda, mas estarão os eleitores ainda receptivos aos ideais comunistas, quando existe uma "clandestina" ala renovadora comunista, o Bloco de Esquerda, e um PS como único garante de uma alternância de poder (atenção, alternância e alternativa, como sabem, infelizmente, nem sempre signifcam a mesma coisa)?



Conclusão
Assim, sendo, não temos os líderes que queremos, mas sim os líderes que merecemos? Numa visão muito redutora da realidade nacional, a mediocridade generaliza-se também (não foi sempre?...) entre a classe política.
O "grito de alarme" contra os "políticos incompetentes" que obedecem a "interesses particulares", em vez de pensar no interesse nacional" de Cavaco Silva é a súmula de muitas preocupações. "Penso que é chegado o momento de difundir na sociedade portuguesa um grito de alarme sobre as consequências da tendência para a degradação da qualidade dos agentes políticos, de modo a que os portugueses adoptem uma atitude mais participativa e exigente nas suas escolhas eleitorais e as elites profissionais acordem e saiam da posição, aparentemente incómoda, de críticos da mediocridade dos políticos e das suas decisões e aceitem contribuir para a regeneração da actividade política", escreve. Segundo o ex-primeiro-ministro, "o afastamento das elites profissionais da vida político-partidária (...) favorece os comportamentos políticos em função de interesses particulares ou partidários, em lugar do interesse nacional", afirma, criticando os aparelhos partidários "que não olham a meios para garantir a sua sobrevivência nas esferas do poder".

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