2004-11-30

Mensagem

A primeira tomada de posição do PS através do seu secretário-geral foi a esperada. A postura de responsabilidade para ganhar as eleições/governar o país foi, no seu jeito politicamente demagógico, normal. Mas, em termos de imagem vencedora e maior postura de Estado que o PS pretende demonstrar, José Sócrates deveria ter feito a comunicação em pé. Esta única diferença daria um sentido mais forte à mensagem. Sentado, o líder do PS deu um ar de estar calmamente à espera de receber o poder nas urnas sem esforço. Ora, a vitória do PS pode ser certa, mas a luta por um resultado eficaz para uma estabilidade politica e parlamentar é essencial. A campanha começou no momento em que Santana Lopes saiu da reunião com o PR...

Volta Cavaco?

O Prof. Cavaco Silva, sábado no Expresso escreveu uma artigo-sentença contra Santana Lopes. O Presidente cumpriu parte: afastou os incompetentes. Agora falta a entrada em cena dos competentes. Pacheco Pereira avança com o regresso do próprio Cavaco. Quererá ele ser de novo PM? Poderá neste momento o PPD-PSD voltar a ser PSD-Cavaquista? Seria uma verdadeira chacina. Um terramoto abater-se-ia sobre o partido com qualquer alteração "forçada" da liderança, expulsando Santana e eliminando-o politicamente. Isso é que era mais importante.

No jeito sebastianista portuga, Cavaco é o homem-providencial. Mas entre o leque actual, quem melhor estaria em condições de mais facilmente arrebatar (quase) todo o PSD? Mas estará o próprio interessado nisto?
Marques Mendes, em jeito de renovação, mas também na linha Cavaco-Marcelo, seria um novo bom líder. Mas estará o PSD interessado nisto?

No último ano, com o desalinho do país, afastando-se mais do desenvolvimento e da recuperação económica, e com o disparate deste últimos e longuíssimos quatro meses, mal por mal, pelo menos com capacidade, profissionalismo e uma visão estratégica conhecida, o regresso de Cavaco como PM seria aceitável?

Qualquer líder do PSD, dadas todas as circunstâncias recentes, não dará a vitória nas eleições antecipadas de Fevereiro ou Março. O poder cairá no colo do PS.

Humilhado

Santana Lopes espero que tenha aprendido a lição. Na sua saída de São Bento foi notória a sua... humilhação. Claro que nunca o assumirá, começou, aliás, logo com aquelas falinhas mansas e eterna conversa do coitadinho. Santana está politicamente eliminado, ou ressurgirá, de novo, qual fénix, numa luta (inglória para o PSD) nas próximas eleições?

Alegria

O Presidente Sampaio resolveu, finalmente, dar uma alegria neste Natal a (quase) todos os portugueses.

2004-11-29

os que lideram (?)

Uma vez que estão definidos todos os líderes do partidos com assento no parlamento, eis que chegou o momento da análise:

Santana Lopes e o PSD
Um substituto muito pouco recomendado, indesejado e ilegítimo, com desejos de controlar tudo e todos na comunicação social - pública e privada -, divulgar uma imagem irreal (surreal...) do país, mostrar uma realidade governamental entre o providencial e o transcendente, sempre com o discurso do acossado, do coitadinho, de não batem mais no ceguinho. Este homem fala, fala, fala, fala, fala, e não diz nada. Ambicioso apenas para projecção de imagem e orgulho e vaidade, querer ser famoso sem esforço, parecer maior do que é, ter um currículo vasto mas sem concretização, amiguinho do seu amigo (até ontem, com a demissão de Henrique Chaves), sempre com um discurso demagógico e indivudual. Abusivo da memória de Sá Carneiro e do ideário do PPD-PSD, como nunca se cansa de frisar. Tentando criar um partido liberal, cuja designação é demasiadamente igual à sua própria sigla PSL. Ou seja, criou um partido à imagem do homem, roçando o culto de personalidade (vejam o "hino" do último congresso: "Somos actores da História/de coragem e glórias/pátrio orgulho do passado/abraçado pelo mar/... Santana Lopes é a voz/na vanguarda do futuro/de norte a sul/de todos nós") e orientações políticas tão rídiculas quanto perigosas, qual regimes como da Coreia do Norte. Este homem, como sempre se soube, e a cada fim-de-semana que passa, crise governamental após crise governamental, mergulha-se a ele próprio num poço com o tamanho do país. A incompetência e, o egoísmo e narcisismo, cada vez mais vêm ao de cima como o azeite e como, não a "verdade" enunciada no último congresso, mas a verdade de que este país se encontra desde julho sem rumo. É, desde sempre o homem errado, errático e erróneo. Estaremos a poucos dias ou semanas de vislumbrar uma saída para o sarilho em que Durão Barroso primeiro e o Presidente Sampaio depois, nos meteram?

O património do PSD sai deveras beliscado com a passagem de PSL. Tal como o Prof. Cavaco Silva este sábado no Expresso argumentou pelo afastamento dos incompetentes, o retorno à competência é o único caminho certo a seguir, pelo bem do país, mesmo que não votemos neles.


José Sócrates e o PS
Quase como um anti-Santana, na medida em que as diferenças, paradoxais, apenas são por serem de partidos adversários. Enquanto ministro do Ambiente e da Defesa do Consumidor, Sócrates provou que a persistência das ideias prevalece sobre a mania das sondagens e da imagem que do governo se tem. Agradou-me enquanto ministro, mas ainda não me convenceu enquanto líder do PS. Cuidadoso com a imagem, limpa, telegénica - é o mais elegante dos políticos nacionais - acaba também por ser algo insípido. José Sócrates representa um guterrismo sem muito diálogo, numa visão mais centrista e pouco esquerdista dentro do PS. O palavreado floreado, preenchido com demagogia q.b. e um tom quase monocórdico e pouco abrangente e pouco explícito têm sido aspectos que para mim não se afiguram como alguem que do PS deva posicionar-se como líder. Aliás basta comparar a lista de Sócrates com a de Manuel Alegre para ver onde estavam os pesos-pesados deste partido...
Para mim, Manuel Alegre como secretário-geral do PS significaria uma liderança baseada nos pressupostos do socialismo idealista e da sua renovação enquanto movimento modernizador e estratégico - para o partido e para o país - enquanto líder de oposição contra um governo caduco e sem nexo. Uma imagem construída sobre a firmeza, o idealismo, a seriedade e a coerência, mas também um carisma abrangente em todo o país - que nunca é de menosprezar - levaria Manuel Alegre, enquanto líder dos socialistas a uma vitória do partido nas próximas eleições, diferente da que levará Sócrates, baseada apenas no desgaste e desmembramento do Governo de PSL. Pois esta liderança socialista continua amorfa, ficando à sombra da bananeira que é o colapso da estabilidade política do país.

Também no PS actual se vê que os mais competentes preferem estar de fora, em particular António Vitorino, e outros, por via da eleição para a liderança (integrados na lista de Manuel Alegre). Resta esperar que, uma vez governo, o PS saiba colocar nos lugares certos pessoas com níveis de qualificação e competência já comprovados.


Paulo Portas e o CDS-PP
Um óptimo jornalista, em particular como director do Independente, original consciência crítica, mesmo que dele discordássemos, do modo de fazer política. Mas quando ele próprio se tornou político, a visão jornalística perdeu-se e ganhou-se um líder populista, a roçar aspectos de extrema direita. Passou a ser o "Paulinho das feiras" (e com isso, e depois disso, desiludiu muita gente), a falar aos berros, a ter uma atitude mais arrogante e intransigente. Quer antes, quer como membro do governo. Aí, na primeira fase foi o elo mais forte (nem sempre de forma positiva) a par de Barroso e Manuela Ferreira Leite, agora na segunda (e derradeira fase) acaba por ser o garante da coligação, pois esta acabará por desfazer-se com a implosão do PSD. Contudo, enquanto Ministro da Defesa considero que tem feito um trabalho há muito necessário: reforma e reequipamento essenciais nas Foças Armadas - exceptuado a compra dos submarinos, absolutamente inúteis e caríssimos, dinheiro que serviria melhor para outros propósitos nacionais.

O fim eminente deste governo e da coligação, significa uma enorme derrota para o CDS- PP. Um governo que estava preso a uma minoria política que acabava por determinar parte substancial do acto governativo, e que agora se corroi por dentro, eclipsará a base de apoio do partido com resultados nada positivos nas próximas eleições legislativas. O actual CDS é Paulo Portas (PP não é de Partido Popular...) e o fim de um é o fim do outro.


Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda
A verdadeira oposição actual centra-se à volta do Bloco de Esquerda e dos seus dirigentes, como Miguel Portas, Luis Fazenda, Fernando Rosas. Mas Francisco Louçã, figura mediática desde os tempos do PSR, demonstrou inúmeras vezes capacidades retóricas e argumentos vários que punham em causa a acção governativa. Por vezes parecendo arrogante e com a mania da perseguição, Louçã é contudo, o garante de uma renovação moderna e actual de uma forma de se colocar à esquerda no espectro político. Sendo um grupo original e heterogéneo, o BE tem capacidade de ser um útil parceiro de governação (tal como à direita se considerou o PP). Com ideias tanto realistas quanto utópicas (não fossem eles "de Esquerda") o discurso acaba por conquistar muito do eleitorado mais jovem, ou descontes com o PCP e o PS. Desde que surgiram foi neles que votei, embora haja argumentos em determindas áreas dos quais discordo, aproximando-me mais do PS e de uma forma talvez um pouco mais liberal por vezes.


Jerónimo de Sousa e o PCP
Esperei pelo fim do congresso comunista para conseguir dar uma opinião mais consistente e objectiva sobre o novo líder. Jerónimo de Sousa é o líder-tipo da massa comunista: operário, lutador, coerente, mas também preso à velha ideologia. Acontece que não é, num ideal de renovação e abertura do PCP aos tempos modernos, o líder certo. Com Jerónimo de Sousa, o PCP estará igual a si próprio, com uma postura ainda mais combativa, "contra as políticas de direita e do capitalismo", disposta a roubar protagonismo ao BE mas, longe de oferecer uma solução sólida para uma possível coligação num governo sáido das próximas eleições. Esta liderança, assente no núcleo duro (personificado pelo clone político de Cunhal, Domingos Abrantes), estoicamente levará o PCP para resultados, para mim incertos. A actual conjectura anti-direita favorece os partidos de esquerda, mas estarão os eleitores ainda receptivos aos ideais comunistas, quando existe uma "clandestina" ala renovadora comunista, o Bloco de Esquerda, e um PS como único garante de uma alternância de poder (atenção, alternância e alternativa, como sabem, infelizmente, nem sempre signifcam a mesma coisa)?



Conclusão
Assim, sendo, não temos os líderes que queremos, mas sim os líderes que merecemos? Numa visão muito redutora da realidade nacional, a mediocridade generaliza-se também (não foi sempre?...) entre a classe política.
O "grito de alarme" contra os "políticos incompetentes" que obedecem a "interesses particulares", em vez de pensar no interesse nacional" de Cavaco Silva é a súmula de muitas preocupações. "Penso que é chegado o momento de difundir na sociedade portuguesa um grito de alarme sobre as consequências da tendência para a degradação da qualidade dos agentes políticos, de modo a que os portugueses adoptem uma atitude mais participativa e exigente nas suas escolhas eleitorais e as elites profissionais acordem e saiam da posição, aparentemente incómoda, de críticos da mediocridade dos políticos e das suas decisões e aceitem contribuir para a regeneração da actividade política", escreve. Segundo o ex-primeiro-ministro, "o afastamento das elites profissionais da vida político-partidária (...) favorece os comportamentos políticos em função de interesses particulares ou partidários, em lugar do interesse nacional", afirma, criticando os aparelhos partidários "que não olham a meios para garantir a sua sobrevivência nas esferas do poder".

2004-11-26

Vá de Retro, Santanáz!

Para quem quiser seguir, apoiar e/ou aderir à maior batalha dos próximos tempos em Portugal:
Vá de Retro, Santanáz!

2004-11-23

Dieldrina

Não acham que isto é uma hipocrisia, um disparate, um atirar de areia para os olhos? A merda do tabaco há muito que se sabe que faz mal, que está infestado com químicos da pior espécie, porcarias tóxicas e viciantes, que provoca doenças cancerígenas, que mata. Agora, que se descobriu um pesticida vão ser retirados do mercado os lotes afectados? Mas que conversa é esta? Então e os outros sem pesticida e igualmente fatais? Com o pesticida morrem mais depressa ou de maneira pior? Como se pode garantir a qualidade dos cigarros se são sem qualquer sombra de dúvida um malefício para a saúde?

"Se fosse eu que mandasse" retirava todo os cigarros, mas não apenas das lojas, eliminava todo e qualquer tipo de tabaco, acabava com uma indústria que gera milhões aos produtores e aos Estados, desapareceria com esta droga - das piores - da economia e da sociedade, acabava-se com a poluição dos corpos, dos espaços. (Mas claro que havia as consequências sociais e económicas das pessoas e diversas empresas...)

2004-11-22

A-Zarp: A

ÁFRICA. É luz, aquela luz que não se encontra mais algum lugar. É o cheiro, quente, doce, que nos invade. As pessoas, simples, hospitaleiras, bonitas (black is beautiful...). A imensidão - ok, estive só numa ilha, mas mesmo pequena nos enchia os olhos - mas no continente é de uma vastidão interminável. A natureza, bela, viva, aconchegante, mesmo na vulcânica ilha de São Vicente, o agreste abraça num jeito manso e amigo. Mas também o mar, azul, límpido, gigantesco. A comida, exótica, nutritiva, pura.

O chamamento existe. Embora nunca pisando terra continental, a minha estada em Cabo Verde foi das viagens mais fascinantes que já fiz. Costumo dizer que os meus últimos anos - com dinheiro... - passarei nas quentes e calmas terras africanas. Onde, não sei. Aliciam-me com o interior angolano, mas para lá ir agora. Mas como posso trabalhar profissionalmente como designer? Sendo uma actividade muito citadina, para sociedades mais desenvolvidas nos seus aspectos económicos, sociais e tecnológicos, haveria alguma hipótese no sul? Em Luanda, talvez. Mas para vingar teria de possuir uma estrutura capaz de "chegar, ver e vencer", e Luanda, sendo uma grande urbe de extremos gritantes, não seria pêra doce...
Espero um dia abraçar África. Encontrar as "origens".


ARQUITECTURA. Sou um amante de boa arquitectura - em criança dizia que queria ser arquitecto - desde sempre me entusiasmo com os diversos movimentos que ao longo da História se sucederam Tenho particular "afeição" pela arquitectura egípcia, azteca, bizantina, gótica, arte nova, o estilo internacional-modernista e, da actualidade.

Enquanto cidadão, considero a arquitectura como um bem comum, que a todos toca, mesmo que muitos não se apercebam da sua verdadeira importância. Enquanto designer, acredito que a arquitectura como acto criativo e projectual necessita com urgência ser protegida, difundida, aceite. A arquitectura e o urbanismo molda formas de viver e de trabalhar, condiciona a relação entre as pessoas e com a própria cidade, sendo que estes factores são importantíssimos que se possam cumprir com o objectivo de criar boas cidades, logo bons cidadãos, pois um deriva da outra.
O Direito à Arquitectura é por isso algo a lutar. A porcaria em que se tornaram as cidades e vilas deste país é devido a essa lei retrógada e velha (73/73) que permite que não-arquitectos assinem projectos. Logo, construtores com 4ª classe e insuficientemente inteligentes, apenas querendo o lucro fácil e rápido, contratam engenheiros ou desenhadores cuja formação profissional não contempla aspectos como a relação e escala humanas, e sem formação histórico-estética-criativa necessárias. Urbes desorganizadas, feias, com poucas soluções de emenda, afastando as pessoas, prendendo-as em gavetas de complexos armários nos subúrbios vazios de dia, estranhos à noite. Poucos ou nenhuns espaços verdes. Localidades saturadas de trânsito e sem transporte públicos com alternativa.
Também sou contra essa praga que há alguns anos se espalha pelo país que é o que chamo "pseudo-estilo-neo-tradicional-cheio-de-recortes-e-janelas-pequenas", numa uniformização "pós-fascista" do modo de viver em comunidades estranhamente concretizadas à volta de mais umas cunhas e milhões de euros ganhos a mais pelos construtores.

Pensar a cidade é sempre urgente. Pensar e agir de acordo com as ideias e ideais há muito investigadas e divulgadas mas que quem tem (qualquer tipo de) poder para nada interessam. Cada vez mais pessoas vivem nas cidades abandonando as terras e aldeias. As cidades do futuro, humanizadas e funcionais, tem de começar a existir


ABORTO. A favor da interrupção voluntária da gravidez, dentro dos moldes propostos pelo PS, BE e PCP. Contra a hipocrisia. Pela liberdade de acção das mulheres.


AMOR. Money makes the world go around, mas é o amor que nos aproxima. Fatal como a morte, o amor surge sempre nas nossas vidas, ora às vezes, ora para sempre. Entre duas pessoas, de pais para filhos, avós e netos, entre amigos. All we need is Love.


ANTI-IMPERIALISTA. Na sua vertente política e militar. Excesso do uso do inglês. (Mas não deixo de ver filmes e séries de TV americanos, não excluo marcas, não rejeito pessoas.)


APPLE. Melhor marca de computadores do mundo. Assumir a diferença como vantagem estratégica e funcional pela simplicidade, design, fiabilidade. Resistência inteligente à Microsoft.


ARTE. Forma magnífica de expressão, da criatividade, de emoção, vontade, utopia, intervenção do ser humano. A construção cultural do Homem é uma das pedras basilares da nossa evolução. É a compreensão do seu tempo e uma herança para o futuro. Faz-nos pensar, sonhar, divertir. Cria beleza, entendimento, alegria, agitação, polémica. A promoção e o ensinamento das artes é primordial. Eu não consigo viver sem arte.

Assumir posições

"Há que dizê-lo com toda a frontalidade" como a personagem de Herman José "Artista Bastos". Assumir que pensamos. Não nos refugiarmos no pensamento único que de novo e subliminarmente se implantou. Enfrentar o debate com alegria e não como discussão berrante e inconsequente. Discutir e partilhar, ensinar e aprender, apontar e relfectir, assumir e aceitar, errar e corrigir. Eis razões para a existência dos blogs, eis razões para que as pessoas, quando conversarem, o fazerem, com respeito e sobre algo mais do que "está-mais-frio-hoje" ou "vai-se andando". De nada serve falar ou escrever se não houver algum feedback, mesmo sabendo que há quem nos leia, por vezes parece que escrevemos para o vazio. De certo que há temas sobre os quais não se sabe argumentar - mesmo para mim; por outro lado há falta de disponibilidade temporal ou mesmo mental, dada a azáfama dos dias. No entanto, assuntos há que merecem ampla discussão ou mesmo singelas opiniões. A participação na e para a sociedade é importantíssimo, ainda para mais quando vivemos dias onde por vezes as opiniões/posições são censuradas... e maior acutilância e relevância têm para melhorar e impedir o marasmo dominante.

Por que às vezes temos medo de discutir certos assuntos? Com medo de ferir o outro, ou com medo de nos embaraçarmos e ficarmos numa posição "diferente" perante outros? Obviamente que há discordâncias, por vezes irritantemente diferentes e talvez inaceitáveis. Há o pensamento politicamente correcto (pró-governamental ou simplista), o independente (centrista, híbridos dos dois extremos) e, o politicamente incorrecto (do sempre-contra ou alternativo). Eu, pró-governamental não sou, sendo um pouco dos outros, mas tentando sempre uma opinião própria, ora de acordo com o que sinto, ora sustendada em factos. Eu consulto o Público, seus editoriais e comentadores, blogs, sites de notícias; ouço muita música diferente; vejo muito cinema diferente, etc. Interessso-me por muita coisa, onde o tempo nunca chega para tudo.

Matérias há sobre os quais nunca pensámos antes, não temos opinião formada, etc. Contudo, valerá a pena ficarmos calados, indiferentes, acomodados? Consciencializarmo-nos, reflectir, partilhar conhecimento são formas de crescer, de nos enriquecer, de tomar uma posição. Assumir que somos deste ou daquele lado, desta ou de outra opinião. Eu penso e faço assim, mesmo para me conhecer melhor.

Sendo assim, os próximos posts serão o meu perfil de A a Zarp. Sinteticamente opinando sobre diversos temas, e aberto ao debate e à polémica, se for o caso.

2004-11-18

Há lugar para todos?

No blog O Observador, André Amaral reflecte sobre a legitimação do Estado de Israel. Mas este assunto tem aspectos históricos e sociais controversos, mesmo polémicos, que não convém descurar.
O legítimo direito de auto-determinação dos povos é essencial. Veja-se o caso dos curdos, ou mesmo os bascos. Embora realidades bastante diversas entre si - sem querer defender ou atacar qualquer dos métodos usados - o que é certo é que a geografia-da-História ditou fronteiras muito, digamos, paradoxais. A defesa dos valores de identidade social, cultural e religioso deve ser sempre a primeira escolha. Mas também a defesa pela liberdade, a paz e a boa-vizinhança.
Mas imagine-se que esses Estados nasceriam hoje. Como seria? Quais as consequências políticas, sociais, económicas?
Outro exemplo, bem sucedido, é a heróica luta pela liberdade e independência de Timor-Leste. Caso único no mundo pelo rumo dos acontecimentos, foi nalguns aspectos comparável ao Tibete ainda ocupado pela China.

Nunca me opus à criação do Estado de Israel, acontecimento histórico importantíssimo onde razão, emoção e aventura se confundem. Nem tão pouco, contra o Estado da Palestina - direito inalienável de um povo irmão. Contudo, os acontecimentos iniciais em 1947-48, os conflitos seguintes até 1967, e depois 1973 e 1982, em nada, como é sabido, permitiram a paz para Israel e seus vizinhos. Mas o carácter messiânico que por vezes se revela na ideia-construção de um Estado Judaico, levou muitas vezes a posições extremas, xenófobas, intolerantes, egoístas.
Mas a luta "por um lugar ao sol" não deve nunca ser um factor de opressão contra o outro. O respeito e o amor pelo próximo também entre estados é fundamental, pois são constituídos por pessoas, muitas contra o estado de coisas actual Muitas que querem viver simplesmente as suas vidas, sem a ameaça à sua liberdade, habitação, vida.
Contudo, a sede de destruição, que caracterizou os vizinhos árabes ao longo das décadas, tornou-se em ódio de estimação, que a pouco e pouco os levou a posições, ora cada vez mais extremistas, ora cada vez mais infundados. A arma do terrorismo, reduto de cobardes e insanos, nunca levará à paz. E a opressão nos Territórios Ocupados nunca levará à paz. Dirão que a segurança de Israel como um todo, sempre esteve em causa. Certo. Dirão que o abraço da paz partiu sempre do lado hebraico, e com isso acordos vários, que foram rompidos pelos palestinianos. Sim, é verdade. Grupúsculos - não sem importância simbólica, contudo - acabaram, sempre por minar a reconciliação. Então se uns têm direito a viver, outros também têm direito a existir. Assim, ambos têm o dever de coexistir, num local único no mundo, que por causa deste conflito já demasiado longínquo originou as divisões e consequências graves que hoje se evidenciam.

Em que acredito eu? Na Paz. Mas fazê-la é muito mais dificil que travar uma guerra. O esforço terá de ser imenso de ambas as partes. Essa vontade deverá sobrepôr-se ao eterno conflito. Controlar extremismos, combater criminosos, ceder nalguns aspectos, retirar das terras ocupadas, deitar abaixo o muro, cooperar pelo desenvolvimento, a reconciliação (dificílima) dos povos, assegurar os locais sagrados como comuns e de ninguem em especial. As dificuldades são monstruosas, mas podem ser ultrapassadas. Só a paz trará a segurança e a vida, a prosperidade e a amizade, isso todos sabemos.
Há lugar para todos no autocarro da Terra Santa com destino à Paz. Temos é de impedir a todo o custo que alguém o queira explodir...

2004-11-17

Blogs dixit

Nem tão alto subir, nem tão baixo descer!
Nesta terça-feira, pelas oito horas da manhã, quem fosse às bancas comprar os jornais, ou lê-los sem os comprar, ficava convencido de que Pedro Santana Lopes estava para durar pelo menos dez anos, os próximos dez anos.
O mesmo incauto cidadão que, entretanto, às oito da noite se sentasse em frente à sua televisão, caía das nuvens: o governo estivera para cair durante o fim de semana anterior.
Depois, durante a noite informativa, foram as picardias e os gritos de recriminações recíprocas nas hostes do Governo e dos seus apoiantes.
Na manhã de hoje, um jornal complacente oferecia a sua primeira página a um fotografia de Lopes e Portas em ademanes de almoço. Estavam ambos com o ar contrafeito de serem capazes de se comer um ao outro.
É isto que torna a política ridícula porque burlesca.
Este teatro trágico de alucinações tem precedentes vários.
Adolph Hitler também assumiu a Chancelaria alemã em 1933 e proclamou que inaugurava um «Reich de Mil Anos». É claro que durou doze. Para fugir à miséria da derrota, o «Führer» deu um tiro na cabeça.
O exemplo é mau, mas o exemplificado ainda é pior.

http://arevoltadaspalavras.blogspot.com/


Criar um novo partido
Pedro Santana Lopes está a fazer ao PSD o que Paulo Portas fez ao CDS: criar dentro de um partido, um novo partido o PP. É mais difícil fazê-lo no PSD, que tem um lastro muito especial e é um partido de grande dimensão, menos plástico a “refundações”, mas, se lhe for dado tempo e oportunidade, é o que ele tentará fazer. Não é aliás um projecto novo, já tem história no muito esquecido projecto de um “partido social-liberal”, pensado por Lopes e anunciado pelo Independente de Portas.
Os sinais estão bem à vista: a tendência para o partido unipessoal, à PP de Portas, com o culto de personalidade assente na “subjectividade” do líder, a interpretação messiânica do destino manifesto, a ênfase na “geração” como mecanismo de exclusão, a identidade nacionalista entre “Portugal” e o líder, a acentuação de um princípio de comando (“eu” foi a palavra mais forte do Congresso), a tentação populista do contacto directo entre o líder e o “povo” através daquilo que, com ignorância do significado das palavras, os fãs chamam, ou “inteligência emocional” ou “carisma”, e o exercício brutal do poder de estado ao serviço não de causas, mas de pessoas. A complacência com alguns políticos pouco honestos que passeavam pela sala, sempre sem mácula partidária, façam o que fizerem, a contrastar com a violência verbal contra os críticos. A perigosa enfatuação da palavra “líder”.

http://www.abrupto.blogspot.com/


A Legitimação
A moção de Pedro Santana Lopes ganhou por 496 votos a favor, 0 (zero) contra e 1 abstenção. Santana Lopes ganhou por 99,8% ! Ora José Sócrates só teve 81%. Sócrates que se cuide!!
No PCP, o próprio Jerónimo de Sousa, ficou certamente preocupado. "Conseguirei tão invejável score ?
- "Foi bom ter havido uma abstenção que eu não gosto de unanimismos" - observou o Pedro a uma jornalista da SIC que simpaticamente lhe aproximou o microfone da boca, num momento alto da carinhosa Grande Festa da Consagração.
Estão a perceber porque é que se considerava tolerável que Manuela Ferreira Leite fosse a Barcelos mas já se achava excessivo que pudesse votar? É que: bem, uma abstenção até faz jeito - para aquela coisa que ele disse - mas um voto contra já é demais para um congresso que não é um congresso qualquer mas um congresso sob o lema da "Verdade" e da "Confiança" onde devem estar todos amigos e a bater palmas ao Pedro.
Pessoas despeitadas como esse Francisco de Assis, do PS quando várias microfones lhe pediam uma opinião sobre tão entusiástico Gongresso - ainda no ar esvoaçava o frémito da exaltação e engrossava a fila para os beijinhos e abraços ao Pedro - não soube dizer mais nada que: "de Barcelos não saiu uma única ideia para o país".
Só a incompreensão pode ter ditado comentário tão retorcido porque toda a gente sabe que o congresso não era para isso. O congresso era para o Pedro falar do Pedro. E também para ver se o velho PSD se encaminha para o ambicionado "PPD".

http://puxapalavra.blogspot.com/

2004-11-15

Discurso positivo ou o regresso das utopias?

Existem diversas formas de falar. Outras ainda de pensar. Há vários tipos de discurso. Também convém, na argumentação de um falatório, ter a noção da realidade, do futuro, do ridículo. Ter como facto que palavras ditas têm (deveriam ter) consequências práticas. Compreender que os ouvidos pertencem a gente que pensa e avalia por si próprio. Entender que de promessas está o inferno cheio. Encarar um projecto de dimensão imensa que é dirigir um governo é muito mais que aparecer nos media pelas mais (inúteis) diversas razões. Que tudo o que se escreve sobre e contra o estado das coisas em Portugal deverá ser tido em conta. Que trabalhar para uma nação (e não pelas imagens pessoais daí consequentes) é muito mais árduo que se imagina, e muito mais grave os erros cometidos.
Por muita boa vontade que exista, o discurso que o Santana Lopes ontem proferiu no congresso do PSD, flutuam na ténue e perigosa fronteira entre positivismo e utopia, entre honestidade e populismo. É preciso muito cuidado com estas opções verbais e consequentes aplicações práticas - o Orçamento de Estado e (haverá?) plano estratégico para Portugal. O PM actua com um olho na bola de cristal e outro para os media e opinião públicas, navegando ao longo da costa, suficientemente longe para se salvar, demasiadamente perto da tempestade. O desejo de ser popular que nem José Castelo Branco cumpriu-se, e subindo na carreira política sem concluir o que começara, entronizado de bandeja como líder de partido e Primeiro-Ministro, acabará ele o que promete começar? Ou acabará de vez com o país? Positivismo ou utopia? Blue pill, or red pill?

Nota: Já viram logotipo mais ridículo para um partido? Anda-se para trás até aqui... Vou escrever uma análise sobre a identidade e iconografia dos partidos em Portugal.

Mais sobre o assunto:
"A retoma"
"O acossado", por Ana Sá Lopes
"O Enterro de Barcelos" por Vasco Pulido Valente

2004-11-11

O Último Dia



Caminho eternamente sobre estas margens,
entre a areia e a espuma.
O fluxo do mar apagará a impressão dos meus passos,
e o vento levará a espuma.
Mas o mar e a margem permanecerão
eternamente.


Kahlil Gibran
Areia e Espuma
Coisas de Ler
2002

Décadas de resistência, mas também de esperança. Esforços de guerra e de paz. Erros e virtudes. Yasser Arafat, tal como Moisés, não vê a Terra Prometida: a Palestina livre. A representação simbólica da luta pela liberdade de um povo aprisionado num guetto do tamanho de um país, não mais resistiu à fraqueza do corpo. Mas a força do espírito permanece, e o Dia da Liberdade chegará. Inchallah.
_

2004-11-09

Primeiro dia



As divisões, quando sucedem, são-no por diversas razões. Os desentendimentos e as desconfianças também. Mas submeter durante quase três décadas uma cidade - e por conseguinte um povo em dois países - à sombra de um muro físico-ideológico é ir longe demais. A Guerra Fria produziu muitas situações dificeis, perigosas e bizarras; o Muro de Berlim era o símbolo máximo da divisão político-militar-ideológica do mundo. A opressão e repressão, a intriga e o isolacionismo, os dogmas e as mentiras do lado de lá da Cortina de Ferro acabaram por levar à implosão de um sistema politico-social.
Faz hoje 15 anos que os leste-berlinenses sentiram o lindo e doce sabor da liberdade, o ar puro que um muro derrubado deixou passar, uma alegria imensa própria das revoluções justas e verdadeiras.
Eu lembro-me, quase como se estivesse lá. Recordo a loucura dessa noite - e mesmo dos dias que a antecederam, e as semanas que se seguiram - agarrados às imagens da TV, aos jornais, tentando saber o máximo e sentir a contagiante e repentina felicidade que atravessa os corações de alemães de leste e de oeste.
A queda do Muro da Vergonha foi o último dia da Guerra Fria. O Primeiro dia de um novo tempo de paz e união para a Europa.

2004-11-08

Black is Beautiful > 5




Beyoncé Knowles
Cantora e actriz

Black is Beautiful > 4




Halle Berry
Actriz

2004-11-04

A ressaca

Tal como hoje escreve Jacinto Lucas Pires n'A Capital (ler em comentário anexo), é assombrosa a vitória. É o conservadorismo, o medo, a "mudança" na continuidade que prevaleceu nos 51% de votantes em George W Bush. A recondução do presidente dos EUA é, como já referi anteriormente, totalmente do meu desagrado. No entanto, tal resultado não me é de espantar. Facilmente as máquinas de propaganda política fazem o seu trabalho, as mensagens que passam são aquelas que muitos preferem ouvir, as ideias são "elaboradas" para agradar, intensificar posições. O individualismo colectivo americano sobrepõs-se à cooperação, à boa amizade, quando os EUA têm todo o potencial para fazer o bem pelo mundo. Mas isso são conversas já discutidas.

A disputadíssima corrida eleitoral, mesmo que o resultado fosse inverso, punha qualquer candidato pressionado pelo campo oposto. Mas será que quem votou Kerry, se as coisas continuarem a não correr pelo melhor, continuarão a intervir civicamente, à parte os pedidos de unificação de uma nação que ficou crispada com as diferentes opiniões e ideias nesta luta presidencial? O que é certo é que a divisão política nunca foi tão grande.

Diz-se que um segundo mandato - sem a pressão de recandidatura (afinal governa-se para o povo ou para os resultados?) - será forçosamente diferente. Melhor política externa e interna; reformas sociais e económicas; atitudes cooperantes. Espero bem que sim. Mesmo que quem lá esteja não mereça a nossa confiança - Santana ex aequo - gostamos de pensar que farão o seu melhor para o melhor. Pensar que "quanto pior melhor" é não ser racional e ser egoísta. Claro que às vezes apetece dizer "eu avisei-te...", mas o pensamento positivo terá de prevalecer. Afinal, não devemos ser todos nós a tentar construir um mundo melhor?