Do Velho ao Novo Milénio: Humanidade e Divindade
Que sentido tem a vida neste final de milénio? Ou melhor, qual o sentido das crenças, dos valores, das ideias, das vontades? Como em qualquer fim de tempo, todas estas questões são levantadas, mas creio que nunca tanto como agora.
Todo o conhecimento adquirido nos últimos cem anos tornou o planeta num local onde tudo, ou quase tudo, é explicável, entendível e fascinantemente interessante. A evolução de todas as formas de tecnologia até agora realizadas — nas suas imensas aplicações, da arte à energia, da informação à investigação — possibilitou o mundo aproximar-se e conhecer-se. O desenvolvimento da política e, a expansão, por fim, dos valores e instituições democráticas, nos últimos 25 anos numa forma cada vez mais generalizada, trouxeram a liberdade, a paz e o progresso. A nova identidade e a sua vontade de implementação do conceito de União e Cidadania Europeias, num olhar muito próximo — e parcial, diga-se — é um ideal de profunda beleza democrática cultural.
Contudo, obviamente há pontos negativos a retirar de todas estas benesses, e que todos sabem identificar, criticar, dissertar, divagar, melhorar. A questão é que, num mundo vasto de saber, alegria, emoção, realização, há em simultâneo um outro de pobreza, tristeza, miséria, tormento, destruição. Tudo isto é feito pelos Homens deste planeta, que buscam já em concreto num sonho lindo o Cosmos. Apenas o Homem cria, apenas o Homem destroi. E é aqui que outros valores e crenças há muito enraizadas na Humanidade — desde que ela própria surgiu — são discutidos e colocados em causa: qual o papel de Deus, porquê Deus e, existe Deus?
O Final do Milénio, época de transformações meteóricas, seja por intervenção e profetização divina, seja pela natural evolução do pensamento e comportamento humano e da Natureza, existe de facto. O limiar do Terceiro Milénio tem em si ao mesmo tempo uma esperança de renovação e idealização que este trará, contido na maioria dos habitantes do planeta azul, seja por devoção religiosa, seja por acreditar no espírito humano.
É o espírito humano o mais espantoso de todos, independentemente daquilo em que se acredita. E isto leva-me a ponderar a posição de Deus no meio de nós. Qual o seu nível de intervenção? Se criou o mundo e os homens, porquê chegarmos às tragédias mais abomináveis, que ainda hoje ocorrem? Se as explicações científicas da evolução da vida e do universo se justificam cada vez mais, afinal, quem é Deus?
escrito em Dezembro 1998
2005-03-01
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