2005-03-28

Babel: Europa



Terá a "confusio linguarum" tomado já conta da Europa? Nas instituições da UE é um problema diário lidar com esta nova Torre de Babel do séc XXI.

A inovação da construção da UE, assente nas suas estruturas políticas, económicas e sociais, no seu ideal de unificação e desenvolvimento das nações europeias, assenta igualmente na riqueza da diversidade cultural e linguística. Acontece que num continente onde existem tantos países como línguas faladas, é um problema igualmente comum. Como lidar então com a comunicação numa estrutura supranacional de 25 países e 20 línguas oficiais (sem mencionar as segundas e terceiras línguas oficiais de alguns)? Sendo hoje, o inglês a língua franca, para franceses e alemães, com as suas importâncias, desejos, objectivos e influências no contexto europeu, os seus idiomas não são para menosprezar. Mas a estruturação de laços de vária ordem, em particular com os novos 10 membros - Letónia, Lituânia, Estónia, Polónia, Rep.Checa, Hungria, Eslováquia, Eslovénia, Malta e Chipre - tornam a língua uma "ponta-de-lança" decisiva. Sendo, no entanto o alemão, historicamente mais imediato nos países do centro-leste, o inglês toma clara vantagem nas ilhas mediterrânicas. Aliás o nível de conhecimento dos idiomas europeus está bem documentado no portal da UE.

Mas algo não deverá escapar a este novo alargamento: o reconhecimento e aprendizagem das línguas locais pode ser uma grande vantagem. Recordo que quando há 7 anos estive em Praga, foi dificílimo encontrar um jovem que falasse inglês, arranhavam o alemão, e era com satisfação para eles quando lhes cumprimentava ou agradecia em checo. Hoje o panorama deve ser outro decerto, mas a facilidade lusa de aprender línguas é um ponto de vantagem sobre vários colegas nossos da UE. No entanto, veja-se o exemplo do cidadão holandês: para além da sua, aprenderá inglês e alemão, e possivelmente francês, ou seja, dada a sua localização geoestratégica poderá ser fluente em 3/4 idiomas, obtendo daí uma infindável série de vantagens.

Contudo, os próximos alargamentos, de novo a leste, trarão ainda mais idiomas (servo-croata, romeno, búlgaro, turco e russo/ucraniano) traduzindo-se num problema maior o nível e a capacidade de entendimento entre os povos, que se pretende que seja uma das principais forças-motrizes da integração europeia. A vinda do russo e do turco representará uma vasta oportunidade nos mais diversos domínios. As importâncias geo-estratégica e histórico-políticas da adesão destes é por demais conhecida.

Sendo eu um europeísta convicto, consciente das metas e das dificuldades que o futuro nos reserva, onde o Tratado Constitucional é apenas a primeira etapa, importa realçar que a riqueza cultural-linguística que a Europa ostenta poderá ser uma barreira à real integração e interacção num território com cerca de 400 milhões de habitantes. A comunicação e o conhecimento são a chave. Nunca o isolamento.