2005-01-21

Política: ridícula

Santana - tão Calimero e rídiculo - e seu séquito, trouxeram-nos mais uma joia para esta pré-campanha. Lançada há duas semanas, o novo hino do candidato é do mais piroso e narciscista que já vi. O culto da personalidade ao estilo totalitário com canções sobre o líder levam o conceito de rídiculo ainda mais longe.
Com letra do músico popular brasileiro, Gonzaguinha (quem?), vai aparecendo num filme projectado nos palcos dos comícios, funcionando como legenda das imagens de Santana com os filhos, na Câmara de Lisboa, no Conselho de Ministros e, claro, com Sá Carneiro.
Riam-se a bom rir. E depois chorem. Ou vice-versa...

Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
da própria candura
Guerreiros são pessoas
são fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
por dentro do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
que os tornem perfeitos
É triste ver meu homem
guerreiro menino
com a barra do seu tempo
São frases perdidas num mundo
por sobre seus ombros
Eu vejo que ele sangra
Eu vejo que ele berra
a dor que tem no peito
pois ama e ama
Um homem se humilha
se castram seus sonhos
Seu sonho é sua vida
e vida é trabalho
E sem o seu trabalho
o homem não tem honra
E sem a sua honra
e morre, se mata.

2 comments:

  1. Editorial do "Público"
    Segunda, 24 de Janeiro de 2005

    Hinos, Campanhas e Conquistadores

    Entre pretensas conquistas embaladas por Vangelis e guerreiros frágeis e lacrimosos, a campanha para as legislativas também erra nas músicas
    É inevitável: as campanhas têm hinos. E é suposto que esses hinos sejam mobilizadores. Veja-se, por exemplo, o caso das eleições norte-americanas, onde o hino de cada candidato (eleito ou não) tem tido, desde George Washington, em 1789, um papel crucial. Ali, se alguns tiveram canções escritas a propósito, como Kennedy ("Marching down to Washington"), ou adaptadas, como Eisenhower (Irving Berlin refez a letra do seu "I like Ike") ou Johnson ("Hello Lyndon" aproveitou a música do popular "Hello Dolly!"), outros foram buscar ao cancioneiro popular os temas que melhor julgaram adaptar-se aos ideais que queriam transmitir. George Bush pai, por exemplo, retomou "This land is your land", de Woody Guthrie (por sinal um cantor ligado à esquerda e aos movimentos sindicalistas) e Clinton, mais dado às memórias contestatárias dos anos 60, usou um rock batido dos Fleetwood Mac, "Don't stop thinking about tomorrow."

    Por cá, quando alguém quer sugerir que já se encontra a caminho da vitória, escolhe qualquer coisa épica ou gongórica. Vangelis, por exemplo. Todos se recordarão, ainda, do ar triunfal de António Guterres ao entrar nos comícios da campanha que o levou ao cargo de primeiro-ministro, em 1995, ao som de "Conquest of Paradise", tema-chave do filme "1492" (sobre o descobrimento da América por Colombo). Santana Lopes, para não ficar atrás no "ranking" dos candidatos a conquistadores, também se apropriou de Vangelis. Não o do Novo Mundo, mas o de "Alexandre, o Grande", enquanto o seu rival e actual líder do PS, José Sócrates, escolheu para a campanha a música do filme "O Gladiador". Talvez devida a esta propensão guerreira, e como Vangelis soa apenas a música de fundo (sem letra nem mensagem explícita), foi escolhida há dias uma canção completa para a campanha do PSD. Também fala de guerreiros, mas de guerreiros humanos, que choram, que desejam colo, que precisam de abraços, de palavras amenas. No contexto original, a canção entende-se. Gonzaguinha, um cantor brasileiro marcadamente de esquerda, que teve problemas com a censura e que esteve para vir a Portugal a convite do antigo PSR (hoje diluído no BE) se entretanto não tivesse morrido num desastre de automóvel em 1991, escreveu essa canção na mesma linha de outras como "Comportamento geral", "É" ou "Sangrando", como forma de opor uma visão humanista do mundo à tirania da ditadura militar no Brasil. Porém, retirada desse contexto e adaptada à presente campanha eleitoral portuguesa, a canção soa ridícula, lamuriosa e quase insuportável. "Um homem se humilha/ Se castram seu sonho/ Seu sonho é sua vida/ E a vida é trabalho", escreveu o autor. Talvez Santana tenha olhado obliquamente para estas linhas e tenha sentido pena de si próprio. Mas a verdade é que Portugal, entre pretensas conquistas embaladas por Vangelis, pretensos gladiadores e guerreiros frágeis e lacrimosos, começa a não ter mais nada para conquistar. Nem mesmo os votos dos eleitores mais compadecidos, fartos já de tão pobre circo e tão desajustada música.
    Nuno Pacheco

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  2. Pacheco Pereira, em artigo de opinião no Público:
    "Ridículo até perder de vista é o hino escolhido pelo PSD. Quando é visto com o filme em fundo, então a pergunta é outra: como foi possível? Como é possível que os militantes de um grande partido nacional não se sintam diminuídos por uma piegas exacerbação de culto de personalidade, de mau gosto, acentuando a infelicidade de quem não tem o carinho que queria e para quem o mundo é mau. É aquela a mensagem para o país?"

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