Desde há algum tempo que tenho evitado comentar sobre política. A overdose do ano passado, as incertezas, desilusões e outras ilusões, visões abertas e saudáveis de outras realidades, levaram-me a colocar de lado, quase ignorar, o recente percurso político nacional. Mas a questão das eleições presidenciais, tendo em conta os inesperados desenlaces ocorridos e as candidaturas em disputa forçam-me a tomar opiniões, divergências e escolhas.
Por esta altura o ano passado, o país vivia o culminar de meses de intensa e radicalizada discussão, como há muito não se vislumbrava por estas paragens. Delirante por vezes, excitante outras, acabou por esgotar psicologicamente a nação, tentando desse modo encerrar o desvio Santana com a maioria absoluta Sócrates. Durante diversos meses, conseguimos respirar de alívio pelo sossego intelectual e ideológico, não sem no entanto, cedo mergulharmos de novo (apesar do regresso do Benfica campeão) no fatalismo e na inconsequência colectiva apesar do esforço diário, quer pelo ADN, quer pelas medidas do Governo. Contudo chegou finalmente a inércia total do verão, onde só os incendiários e os bombeiros se esforçam.
Mas logo depois, eis as eleições autárquicas. Muito barulho, muito lixo.
De seguida uma (longa) pré-campanha para a eleição presidencial, onde à partida tudo parece estar escolhido, decidido, entendido, no qual ainda há pouquíssimos dias entrámos na recta final.
Mas qual o sentido da figura do Presidente da República, quando tantos o entendem como fundamental, mas onde outros o vêem como inútil? Entre a soberania política, o factor simbólico, o defensor do regime democrático, árbitro das regras instituicionais e de governação, estará este cargo desde sempre sobreestimado por todos? Até onde vai o poder concreto (para além da "bomba-atómica", vulgo dissolução da AR) do PR no regime e na observância dos valores e leis da Constituição? Grande parte do país pensa que o Presidente ostenta o tacho-mor e um dolce fare niente. Mas a ignorânica de tantos não vale nada perante a real importância do cargo. Argumentos vários se podem apresentar com os diversos exemplos pós-25 de Abril, a favor e contra. Assim como o alargar dos poderes e da intervenção do PR perante a sociedade, a Assembleia e sobre o Executivo. Tudo isto se tem falado nesta pré-campanha pelos candidatos, pelos analistas, pelos jornalistas, pelas pessoas. Tal como tantos assuntos de maior e (muito) menor importância, e muitos que nunca vêem à baila, pelo que por tanta vez se foge à verdadeira dimensão do cargo, ora colocando-o sempre acima das suas competências, ora colocando-o abaixo da sua importância, sobrevalorizando uns candidatos, subestimando outros, num contexto de muito pouco vislumbre político para o futuro e mais de com um estranho messianismo unificador, afinal o pecado luso por tantas ilusões e fantasias.
2006-01-10
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