2006-01-22

Bluff francês



A ameaça proferida por Chirac do uso de resposta nuclear a ataques, é claramente uma tentativa de afirmar o poderio e a importância da França. Mas estará a França ainda num patamar que a leve a ser respeitada/temida? Historicamente sempre à parte e do contra no plano internacional, a defesa dos seus interesses franceses não é mais que uma versão da defesa dos interesses americanos. Logo, se fosse Bush a dizer o que disse, ou mesmo Putin, seria o Carmo e a Trindade! E com razão. Acontece que, vindo de Chirac e da França, esta ameaça acaba menorizada, pela real importância do país, que a todo o custo tenta esconder. O poder das nações, neste caso europeus, não pode passar por tomadas de posição deste género, unilaterais e egoístas, próprios para consumo interno, que no entanto se revela como um precedente perigoso. E o inimigo - seja ele qual fôr, Al-Qaeda e o Irão - ficará com um apetite mais aguçado por haver alguém que possa dar luta. Não que defenda a submissão, pelo contrário, a luta ao terrorismo e ao despotismo deve ser estruturadamente eficaz e decisiva, mas as palavras têm muito poder. Tal como o presidente do Irão profere aqueles ignomínias verbais, do lado de cá há que ter muita cautela com o que se diz. A afirmação do poder, existente na base da democracia e da civilização, deve ocorrer segundo regras bem diferentes. O bluff francês, tal como o iraniano, revela-se perigoso e nada animador para o futuro.

Vasco Pulido Valente afirma "A bomba de Chirac vem de uma nova França, humilhada, frustrada e sem destino. E a fraqueza ameaça. Como o desespero." Público, 22 Janeiro.
No Expresso deste fim-de-semana, Miguel Sousa Tavares enfatiza o real perigo vindo do Irão acrescentando que "a perspectiva de um Irão nuclear e agressivo existe e representa o pior pesadelo de um "Estado-pária", desligado da obediência à lei internacional e dotado das armas capazes de transformar em factor de desestabilização e terror permanentes", finalizando "Vem aí o ano de todos os perigos".

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