2006-01-06

The fall of Falcon-Sharon ou a Terra da Instabilidade


Quando Ariel Sharon entrou no Pátio das Mesquitas em Setembro de 2000, precipitou Israel e a Palestina numa nova etapa, daquelas que (demasiado) ciclicamente transformam tudo, causando bastante temor para os tempos vindouros. O Likud venceu as eleições face ao enfraquecido Labour, e a partir daqui foi o que todos sabemos. A complexa situação da Terra Santa face à arrogância dos Homens que invocam a fé a par da vingança - quer de um lado, quer do outro - afinal povos irmãos, como os cristãos, filhos de um mesmo Deus, continuamente colocam tudo e todos em sobressalto, pois o que ali se passa é um epicentro político de mais importância que muita gente julga. A Terra Prometida é nada mais que a Terra da violência, da inexistência de liberdade e futuro, dos dias de sobrevivência vividos como se fossem o último, do ódio e do desprezo. Sharon eliminou o Processo de Paz número 3 mil e tal (quantos mais serão necessários?), construiu o Muro Opressor (no entanto tem conseguido afastar os ataques, but what goes up wil come down). Mas com coragem retirou de Gaza, que contudo não deixa de ser um presente envenenado, como se tem visto nas últimas semanas.
Nunca apreciei Sharon, sempre o considerei um homem perigoso. Deu uma nova definição a Eretz Israel (uma utopia como qualquer outra, irrealizável) retirando de Gaza, isolando a Cisjordânia e não abdicando de Jerusalém, com isso invialibilizando tecnicamente um futuro Estado da Palestina e assegurando a soberania político-militar e "moral" sobre a região.

O terramoto político da criação do one-man-party Kadima, agora com a sua grave situação clínica parece que não irá sobreviver sem o seu mentor. O rumo do destino parece querer evitar uma vitória certa de um renovado (?) Sharon, empenhado em sustentar as suas políticas (unilaterais) de "pacificação" (mas com resultados positivos) de braço dado com Peres Nobel da Paz (cujo valor eleitoral é inferior em muito ao seu valor político) nas próximas eleições de Março. E se Sharon se vir incapacitado, ou eventualmente - para gáudio do Hamas - morrer? Peres não é solução, perdedor tradicional, diz-se em Israel que se concorresse consigo próprio também perderia. O Labour ainda não terá força suficiente. Mas numa infeliz repetição da História, o (abominável) Netanyahu pode subir de novo ao poder (como quando após o assassinato de Rabin há 10 anos atrás). Com isso contará novamente com a preciosa ajuda de diversos ataques dos grupos extremistas palestinianos, ainda mais motivados com a radicalização do Irão e do conceito Al-Qaeda. Mas estará a sociedade israelita motivada para a paz, ou iludida para a radicalização (ou vice-versa)?

Com a queda do falcão, afinal o menos mau - parece a Rússia desde Gorbatchov - da direita israelita (!) poderá mergulhar-nos para novas e incertas evoluções negativas. A Terra Prometida da Paz e da Liberdade continuará uma miragem. Ou também é uma utopia?

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