(...) esta crise é reveladora de uma certa evolução da política externa europeia. A Europa tornou-se um alvo principal da ira islamista, no mínimo, ao mesmo título que os EUA e Israel. "Europa, o teu 11 de Setembro vai chegar", gritavam manifestantes em Londres, onde nem um só jornal publicou as caricaturas. Sem querer minimizar o sentimento de indignação religiosa, a verdade é que este foi acima de tudo um instrumento de mobilização de massas, contra a maior interferência europeia na cena médio-oriental.
(...) reconhecer que estamos em guerra - o pior cego é aquele que não quer ver. Não uma guerra convencional, mas já não há guerras convencionais. Estamos perante uma escalada extraordinariamente perigosa desencadeada e alimentada pelo Irão, com o objectivo de liderar o mundo islâmico na guerra contra o Ocidente. Minimizar esse perigo é uma inconsciência de gravíssimas consequências, à qual grupos como o Bloco de Esquerda se podem entregar impunemente, acusando os EUA e a UE de "arrogância" face ao Irão, mas não governos responsáveis.
(...) uma guerra que é em grande parte ideológica - querer ver apenas "interesses" é impedir-se de compreender a natureza profundamente ideológica do islamismo - há que travá-la também do ponto de vista ideológico sem complexos. Defender com firmeza e com clareza aquilo que é a essência do Ocidente - a liberdade individual, a democracia política, o primado da lei, os direitos humanos, a liberdade cultural e de expressão - é a nossa responsabilidade, e em primeiro lugar dos dirigentes ocidentais. Neste campo, um dos maiores desafios é tentar ganhar as comunidades muçulmanas europeias para esses valores, impedindo que se tornem reféns de Estados e movimentos radicais islamistas e cavalos de Tróia da sua política. Não depende só de nós, mas também depende de nós.
(...) O Irão está a brincar com o fogo e a testar até onde vai a tolerância do Ocidente."
in "A árvore e a floresta"
Esther Mucznik
PÚBLICO Sexta, 17 de Fevereiro de 2006
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"(...) O islão, desde a origem militar e expansionista, conquistou, dominou e converteu à força quatro quintos do Mediterrâneo. Em meados do século XVII Viena estava cercada pelo exército turco e mesmo hoje o sonho da ressurreição do califado não morreu. Taheri, que provavelmente se orgulha dessas velhas façanhas, só podia interpretar as divagações de Freitas como fraqueza e arrependimento da "Europa".
Pior. Na cabeça iraniana de Taheri [embaixador do Irão em Portugal], se Freitas rejeitava com tanta intensidade os terríveis pecados do Ocidente, por maioria de razão rejeitava também o maior de todos: quem condena as cruzadas condena logicamente o Estado de Israel. Taheri julgou que Portugal o compreendia e resolveu explicar em público que os cartoons não passavam de uma conspiração sionista e transgrediam a liberdade de imprensa. (...) Taheri é um bom embaixador, porque representa com zelo o sentimento e as convicções do islão. Freitas não é um bom ministro porque representa com excesso as mais torpes tendências de Portugal e da "Europa". Para conciliar a "rua" muçulmana, condenou o que nós somos."
in "O embaixador e o ministro"
Vasco Pulido Valente
PÚBLICO Sexta, 17 de Fevereiro de 2006
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"O Ocidente tem de praticar - e de ser visto a praticar - os valores que apregoa. É por não admitirmos a tortura que somos superiores aos bárbaros. Se usarmos os seus meios, então não vale a pena mandar soldados morrerem em defesa de valores em que, pelos vistos, não acreditamos."
in "O Ocidente e a tortura"
Maria Filomena Mónica
PÚBLICO Sexta, 17 de Fevereiro de 2006
2006-02-17
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