Durante séculos edificámos na Europa, e no Ocidente em geral, particularmente após as revoluções Francesa e Americana, uma sociedade assente na triáde liberdade-fraternidade-igualdade e na herança greco-romana. Árdua e conflituosa foi a construção de uma comunidade que se pretende designar como moderna e civilizada, onde o direito de cidadania, da liberdade de expressão, de imprensa, de culto, de reunião sejam tão intrínsecamente consagrados que o ódio, a vingança e a violência sejam considerados crime, julgados na imparcialidade da lei, evitados no paradigma da convivência e da paz. É isso que não existe no mundo árabe. O sentido e a compreensão destes ideais ainda não atingiu na verdade o pleno nesta imensa comunidade. São factores complexos e variados que não nos permitem estabelecer soluções imediatas ou tão pouco, acções e reacções injustificadas. Vejamos as comunidades residentes no nosso território ocidental - à parte o crescente fundamentalismo que se alimenta da ignorância - houve algum tipo de reacção semelhante ao Líbano, Síria ou Indonésia? Não. Porque os muçulmanos que vivem entre nós entendem e vivem a democracia e a liberdade, e é isso que os diferencia: não a cor da pele, não a língua.
No entanto o nosso legado civilizacional é ainda imperfeito, mas disfuncional e dilacerante são os estados e as sociedades de alguns países onde a religião islâmica é maioritária. Na Europa temos três países muçulmanos que muitos esqueçem e outros evitam inserir - a Bósnia, o Kosovo e a Turquia - onde a crescente influência democrática os tem colocado longe das confusões fundamentalistas. Porque o Estado e a Religião constituem-se como factores separados e independentes. O dogma religioso quando exponenciado à condição de orientação estratégica de um Estado condiciona a visão, a conduta e a vida das pessoas. E que tem levado a formas tão diferentes de interpretar o Al-Khoran, desde a loucura Taliban no Afeganistão até às ditaduras no Iraque ou no Sudão. Estas visões tem colocado no poder homens (nunca mulheres) que ostracizam o povo que é usado para odiar o Ocidente, colocando-os no prisma de cá como uma religião do ódio e da violência. Então, como conceber que no Paquistão e noutros países do Sudoeste Asiático, tenham havido condutas democráticas e mesmo mulheres como primeira-ministras e presidentes?
Sendo a religião uma forma de viver a vida, não é em si mesma a melhor maneira de fazer viver o Estado e uma comunidade, condicionando-a tanto na sua liberdade individual como no seu todo. O choque que presenciamos, é na sua essência óbvia uma questão (vasta) de liberdade, e com isso um ideal de civilização multicultural, e acima de tudo a paz.
2006-02-07
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