2006-02-27

Lost 2ª série



Finalmente de regresso, a RTP1 coloca no ar a partir de terça 28 Fevereiro, às 23:30, a segunda série desta extraordinária e galardoada história de um grupo deveras heterogéneo que sobrevive a uma queda de avião numa ilha algures no Pacífico. Mas não é um local idílico: perdidos na incerteza do que aquele território esconde e os coloca em perigo, "Lost" ("Perdidos") é uma genial recriação da "Ilha Misteriosa" de Verne levado ao limite da imaginação e do suspense, recheado de surpreendentes volte-faces narrativos e descrições histórico-psicológicas muito bem elaboradas das diversas personagens. Criada por J. J. Abrams e Damon Lindelof que também criaram "Alias" e "Crossing Jordan", "Lost" é uma excelente série dramática de grande acção e aventura, que mostra o que de melhor e pior existe nas pessoas quando estão perdidas... A não perder.
De assinalar que "Perdidos" foi considerada a melhor série dramática de 2005, arrecadando seis Emmys.



PS- Já temos há algumas semanas a quarta série de "24" e "Roma", ambas na 2:
Mas ainda falta a SIC colocar "Desperate Housewives"-II, e a SIC-Radical o remake de "Galactica".

2006-02-23

Apocalipse now?

De tanta ameaça, incerteza e malícia surgida desde 9/11, não estaremos já sob os indícios de um longo fim?

2006-02-22

Prémios da Society for News Design 2005


Os títulos britânico The Guardian e o polaco Rzeczpospolita foram considerados pela Society for News Design (SND) como os jornais com melhor design do mundo em 2005. Um júri constituído por cinco designers da sociedade norte-americana escolheu os dois diários entre 389 jornais de 44 países espalhados pelo globo considerando-os como os jornais "quase perfeitos", segundo o comunicado publicado no site da SND.

"Wow! As soon as The Guardian came out of the bag we all knew it would be a winner. Right away it looks like a newspaper designed for the 21st century." A descrição é do júri, que considerou que o diário londrino "brilha com luz própria, e o seu formato berliner é muito manejável e fácil de ler. O uso da fotografia é forte, os títulos estão bem escritos, são inteligentes e encaixam perfeitamente com as imagens."

O outro vencedor, o diário de Varsóvia Rzeczpospolita, é classificado como "belo e intemporal". Considerado um dos maiores títulos diários polacos, com uma circulação de 180 mil exemplares, o Rzeczpospolita é o exemplo da "adaptação às notícias mantendo ao mesmo tempo um aspecto limpo e fresco". O seu leitor típico tem entre 25 e 45 anos e tem um alto nível de escolaridade. "O desenho de cada secção reflete o seu conteúdo": na secção de Negócios predomina o verde e as soluções gráficas são "conservadoras, mas atraentes", e, por exemplo, a rubrica sobre legislação caracteriza-se por um tom amarelo - o grafismo, cores e lettering de cada secção funcionam muito bem em conjunto e conferem-lhe uma identidade especial, consideram os designers da SND. O jornal, acrescentam, mantém "de forma admirável, o legado da tradição visual da Europa de Leste" nas numerosas páginas de opinião e comentário.

Fonte: Público

Champions: forever


O destino tem destas coisas. Novamente Chelsea e Barcelona se defrontam nos oitavos-de-final para a UEFA Champions League. É um cliché, mas é uma final antecipada.

1ª mão, Quarta 22 Fevereiro
Chelsea 1 - Barcelona 2
Stamford Bridge, Londres
19:45
SportTV

2ª mão, Terça 06 Março
Barcelona 1 - Chelsea 1
Camp Nou, Barcelona
19:45
SportTV

2006-02-17

Democracia x Dogma VII

(...) esta crise é reveladora de uma certa evolução da política externa europeia. A Europa tornou-se um alvo principal da ira islamista, no mínimo, ao mesmo título que os EUA e Israel. "Europa, o teu 11 de Setembro vai chegar", gritavam manifestantes em Londres, onde nem um só jornal publicou as caricaturas. Sem querer minimizar o sentimento de indignação religiosa, a verdade é que este foi acima de tudo um instrumento de mobilização de massas, contra a maior interferência europeia na cena médio-oriental.
(...) reconhecer que estamos em guerra - o pior cego é aquele que não quer ver. Não uma guerra convencional, mas já não há guerras convencionais. Estamos perante uma escalada extraordinariamente perigosa desencadeada e alimentada pelo Irão, com o objectivo de liderar o mundo islâmico na guerra contra o Ocidente. Minimizar esse perigo é uma inconsciência de gravíssimas consequências, à qual grupos como o Bloco de Esquerda se podem entregar impunemente, acusando os EUA e a UE de "arrogância" face ao Irão, mas não governos responsáveis.
(...) uma guerra que é em grande parte ideológica - querer ver apenas "interesses" é impedir-se de compreender a natureza profundamente ideológica do islamismo - há que travá-la também do ponto de vista ideológico sem complexos. Defender com firmeza e com clareza aquilo que é a essência do Ocidente - a liberdade individual, a democracia política, o primado da lei, os direitos humanos, a liberdade cultural e de expressão - é a nossa responsabilidade, e em primeiro lugar dos dirigentes ocidentais. Neste campo, um dos maiores desafios é tentar ganhar as comunidades muçulmanas europeias para esses valores, impedindo que se tornem reféns de Estados e movimentos radicais islamistas e cavalos de Tróia da sua política. Não depende só de nós, mas também depende de nós.
(...) O Irão está a brincar com o fogo e a testar até onde vai a tolerância do Ocidente."

in "A árvore e a floresta"
Esther Mucznik
PÚBLICO Sexta, 17 de Fevereiro de 2006

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"(...) O islão, desde a origem militar e expansionista, conquistou, dominou e converteu à força quatro quintos do Mediterrâneo. Em meados do século XVII Viena estava cercada pelo exército turco e mesmo hoje o sonho da ressurreição do califado não morreu. Taheri, que provavelmente se orgulha dessas velhas façanhas, só podia interpretar as divagações de Freitas como fraqueza e arrependimento da "Europa".
Pior. Na cabeça iraniana de Taheri [embaixador do Irão em Portugal], se Freitas rejeitava com tanta intensidade os terríveis pecados do Ocidente, por maioria de razão rejeitava também o maior de todos: quem condena as cruzadas condena logicamente o Estado de Israel. Taheri julgou que Portugal o compreendia e resolveu explicar em público que os cartoons não passavam de uma conspiração sionista e transgrediam a liberdade de imprensa. (...) Taheri é um bom embaixador, porque representa com zelo o sentimento e as convicções do islão. Freitas não é um bom ministro porque representa com excesso as mais torpes tendências de Portugal e da "Europa". Para conciliar a "rua" muçulmana, condenou o que nós somos."

in "O embaixador e o ministro"
Vasco Pulido Valente
PÚBLICO Sexta, 17 de Fevereiro de 2006

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"O Ocidente tem de praticar - e de ser visto a praticar - os valores que apregoa. É por não admitirmos a tortura que somos superiores aos bárbaros. Se usarmos os seus meios, então não vale a pena mandar soldados morrerem em defesa de valores em que, pelos vistos, não acreditamos."

in "O Ocidente e a tortura"
Maria Filomena Mónica
PÚBLICO Sexta, 17 de Fevereiro de 2006

2006-02-13

Professor Agostinho da Silva



É esta a imagem que retenho deste homem extraordinário. Das entrevistas na RTP em 1990 chamadas "Conversas Vadias". Provocou em mim imediato fascínio, mas desde então parece que ele nunca existiu. Alguém como ele, provocador, incorformado, livre pensador é demasiado importante para permancer no esquecimento.

Mas a partir do próximo domingo 19, serão editados em exclusivo no Público (em parceria com a Associação Agostinho da Silva e a RTP, na iniciativa luso-brasileira para a comemoraçao do centésimo aniversário do seu nascimento) 4 DVDs destes históricos programas de TV e 1 DVD com o documentário "Agostimho da Silva - Um Pensamento Vivo".
Poderemos agora reviver e aprender, compreender e pensar.

acha para a fogueira nº321


Pelo acto, horrendo, demonstrativo de que quase ninguém presta. Pela divulgação neste momento volátil. O espancamento injustificado e inqualificável destes homens da tropa britância - que tal como dos americanos, e até mesmo acredite-se que tenha ocorrido com outras tropas - não é de todo de espantar. A guerra exponencia o pior de nós, extrai o nosso lado inumano e negro, a nossa bestialidade primária e a nossa irracionalidade sem nexo. O ódio gera o ódio. E é ódio que nos esmaga nestes dias.

2006-02-10

INK Magazine












©2004-5. Trabalho realizado em parceria.

Temos conspiração

"Seis das doze caricaturas do profeta Maomé foram publicadas no Egipto, em Outubro, sem levantar a menor polémica, afirmou ontem o embaixador dinamarquês no Cairo. A reacção surgiu dois meses depois, quando os líderes muçulmanos reunidos num encontro da Organização da Conferência Islâmica (OCI) coordenaram estratégias e "cristalizaram" a crise, revelou o jornal The New York Times. Só então a revolta começou a sair à rua, com o apoio de vários governos.
O embaixador Bjarne Soerensen disse ontem à agência dinamarquesa Ritzau que, a 17 de Outubro, o jornal egípcio Al Fagr ilustrou um artigo sobre as caricaturas que tinham sido publicadas pelo diário dinamarquês Jyllands-Posten, a 30 de Setembro. A reprodução não desencadeou debates ou reacções no Egipto.
Esta informação ajuda a sustentar a tese de que existe uma forte manipulação política por detrás das manifestações a que se tem vindo a assistir em vários países. "

Público de hoje

O ódio ao Ocidente, não parte apenas da "rua árabe", é congeminada na esfera do poder, influenciada e meticulosamente programada. Quando assim é, estamos em guerra. Toda a ficção se torna realidade. O séc. XXI é o tempo abrupto das colisões.

Democracia x Dogma VI

Desatentos
"As pessoas, mesmo atentas, não parecem dar-se inteiramente conta de que se está a passar, ou a evidenciar, algo decisivo e inédito: a entrada oficial em guerra contra o Ocidente. Tornou-se patente que o terrorismo se está a converter num habitus, numa segunda natureza, senão já na primeira, da alma árabe-muçulmana. Melhor dito, nem de terrorismo se trata: tornou-se patente que quem nos quer destruir não tem a menor ideia da justiça, ainda a mais frustre, está mundos atrás do próprio Talião: se acho que me ofendes porque troças da barba do Profeta (ou porque me olhas de viés, já está a acontecer), tenho automaticamente o direito de desejar a tua morte, assassinar-te, em qualquer circunstância - kill é o verbo que mais se lê nos cartazes -, sem qualquer consideração de proporcionalidade entre o mal que acho me fazes e a violência da minha resposta. Assiste-me ainda o direito não menos absoluto de convidar a minha tribo a amplificar o meu gesto. Em perfeita boa consciência, como estamos a ver, sem precisão de qualquer Al-Qaeda atrás. Para Portugal é um triste dia, já que o primeiro-ministro não parece disposto a demitir o seu ministro dos Negócios Estrangeiros."

Fernando Gil, filósofo


Senso comum
"Que algumas manifestações tenham sido organizadas não deve surpreender-nos, porque já se sabe como é fácil. E também não me surpreendeu a violência com que se deram. O que me apanhou mesmo desprevenido foi a irresponsabilidade do autor ou dos autores dos desenhos. Alguns opinam que a liberdade de expressão é um direito absoluto, o único direito absoluto que existe, enquanto todos os outros são relativos. A realidade crua impõe limites. Imaginemos que o desenhador dinamarquês, em vez de fazer um desenho a ridicularizar Maomé, faz um dizendo que o director do jornal é um imbecil. Seria muito corajoso, mas no dia seguinte estaria provavelmente na rua. [... Autocensura?] Não se trataria de autocensura, mas de usar o senso comum. Numa situação como a que vivemos, e conhecendo a susceptibilidade que há em redor destes temas, o senso comum ditar-nos-ia o que fazer. Alguém verdadeiramente responsável que tivesse consciência de que um desenho pode ser como lançar gasolina sobre o fogo, guardá-lo-ia para melhor ocasião."

José Saramago, escritor
Excerto de respostas ao El País

2006-02-09

ARCO'06



Abre hoje a ARCO Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid
Até 13 de Fevereiro, Feria de Madrid

usa e getta



"Usa e Getta" é a tradução italiana de “Use e deite fora”. UEG, uma marca polaca com mote italiano, joga com este conceito, usando símbolos e ícones. A dupla por detrás da marca é a designer de moda Anna Kuczynska e o designer gráfico Michal Lojewski. As suas originais criações brancas são desenhadas para usar e deteriorar. As peças são feitas em tyvec, um material similar a papel, e impressas com o manifesto e regras do projecto.


Fonte: ModaLisboa

2006-02-08

Democracia x Dogma V


Assiti ontem à noite a um interessante debate na SKYnews. Por causa da sentença ao clérigo muçulmano aqui mostrado na primeira página do Guardian, Abu Hamza al-Masr, personagem terrífica (tem uma prótese em garra metálica a substituir uma mão perdida algures) condenado num tribunal londrino a sete anos de cadeia por incitamento a assassinatos e ao ódio racial. Ora no debate tínhamos num lado um membro da congregação de Hamza, vestido como um religioso, de língua afiada e viperina, de conduta intelectual radical e anti-democrática, de idealismo dogmático e intolerante. Do outro, um cidadão, igual a qualquer um de nós, igualmente muçulmano, defensor dos ideais democráticos e da livre expressão, contra o radicalismo e defensor da setença proferida contra Hamza. O muçulmano radical insurgia-se contra tudo e todos, calando-se poucas vezes, tão cego naquilo que acreditava, vociferando que Allah isto e o Profeta aquilo; que o Al-Quran dizia que o primeiro ser humano na Terra foi muçulmano - Adão - logo nenhuma outra religião tinha direito a existir; que não obedecia às leis do Estado Britânico, apenas a Allah e ao Profeta. O muçulmano cidadão democraticamente calava-se - mas nem é só uma questão de democracia, é de boas maneiras primeiro - e na sua vez, interrompido diversas vezes, explanava a sua opinião, verdadeira, justa e livre, em palavras semelhantes às aqui e em tanto outros locais defendidas.


Alguns excertos dos discursos de Hamza:
"We ask Muslims to do that, to be capable to do that, to be capable to bleed the enemies of Allah anywhere, by any means."
"You can't do it by nuclear weapon, you do it by the kitchen knife, no other solution. You cannot do it by chemical weapons, you have to do it by mice poison."

2006-02-07

cartoons


Democracia x Dogma IV

O islamismo vive hoje, e em particular o Médio Oriente, tempos tão difíceis que a argumentação da vitimização e da bárbarie se afirmam sobre a racionalidade e tolerância. A encruzilhada em que mergulharam tem-nos arrastado cada vez mais fundo, e as reacções dos últimos dias são sintomáticas de quão volátil pode ser qualquer rastilho.

Nos editoriais e comentários de hoje selecciono as seguintes linhas:

"Primeiro, uma parte do mundo muçulmano está a travar uma guerra de civilizações, gostemos ou não desse facto. Segundo, o Ocidente ainda não decidiu se deve lidar prioritariamente com essa parte do mundo muçulmano ou com os que se comportam pacificamente."
Christhopher Caldwell, Financial Times

"Quando se queimam bandeiras dinamarquesas nas ruas de Gaza ou de Beirute não é por causa da maldade de Israel ou dos pecados do "Grande Satã" americano: é porque nessas ruas o que não se aceita é que a liberdade de expressão implica, como explicaram os grandes pensadores liberais desde o Iluminismo, que por vezes temos de suportar ofensas. De as tolerar, se preferirmos. A única coisa que não pode ser tolerada é a limitação da própria liberdade, é a destruição dos seus fundamentos."
José Manuel Fernandes, Público

"Haverá melhor forma de alimentar a islamofobia no Ocidente do que considerar justificáveis os actos dementes e de violência contra o Ocidente? É preciso mudar os termos da discussão e pôr fim de uma vez por todas ao politicamente correcto. (...) Mas é fácil de admitir que, depois dos atentados terroristas cometidos em solo europeu em nome de Alá e do seu profeta, estas imagens alimentem a islamofobia na opinião pública europeia. A questão excede, em muito, o debate sob a liberdade de imprensa."
Teresa de Sousa, Público

"Quando os caricaturistas dinamarqueses deformam a imagem de Maomé estão, em primeiro lugar, a pôs em causa a dimensão do sagrado. Independentemente do facto de ser Maomé, devemos pôs a questão: é legítimo caricaturar o sagrado? (...) a reacção muçulmana faz parte do confronto entre a cultura muçulmana e a cultura ocidental."
Eduardo Prado Coelho, Público

"Se alguma coisa tornou evidente o caso dos cartoons publicados pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten foi a reduzida visibilidade, margem de manobra e peso político dos chamados "muçulmanos moderados" não só nos países de maioria muçulmana, mas também nas diásporas dos países ocidentais.
(...) O que ficámos a saber foi que um número elevado de governantes, líderes religiosos, responsáveis políticos e órgãos de imprensa muçulmanos considera que os preceitos religiosos da sua religião devem ser impostos em todo o mundo e a todas as pessoas - mesmo àquelas que não professam a sua religião - com a força de uma lei universal e sancionados com penas de rigor medieval. (...) Estamos muito, muito longe de Voltaire.
(...) Tal como aos muçulmanos, vale a pena explicar aos políticos europeus que a liberdade de imprensa não se deita para o lixo, quando acontece estar ao serviço de ideias que não nos agradam."
José Vítor Malheiros, Público


Nota:
em comentário encontram-se textos retirados de jornais estrangeiros

Democracia x Dogma III

Durante séculos edificámos na Europa, e no Ocidente em geral, particularmente após as revoluções Francesa e Americana, uma sociedade assente na triáde liberdade-fraternidade-igualdade e na herança greco-romana. Árdua e conflituosa foi a construção de uma comunidade que se pretende designar como moderna e civilizada, onde o direito de cidadania, da liberdade de expressão, de imprensa, de culto, de reunião sejam tão intrínsecamente consagrados que o ódio, a vingança e a violência sejam considerados crime, julgados na imparcialidade da lei, evitados no paradigma da convivência e da paz. É isso que não existe no mundo árabe. O sentido e a compreensão destes ideais ainda não atingiu na verdade o pleno nesta imensa comunidade. São factores complexos e variados que não nos permitem estabelecer soluções imediatas ou tão pouco, acções e reacções injustificadas. Vejamos as comunidades residentes no nosso território ocidental - à parte o crescente fundamentalismo que se alimenta da ignorância - houve algum tipo de reacção semelhante ao Líbano, Síria ou Indonésia? Não. Porque os muçulmanos que vivem entre nós entendem e vivem a democracia e a liberdade, e é isso que os diferencia: não a cor da pele, não a língua.

No entanto o nosso legado civilizacional é ainda imperfeito, mas disfuncional e dilacerante são os estados e as sociedades de alguns países onde a religião islâmica é maioritária. Na Europa temos três países muçulmanos que muitos esqueçem e outros evitam inserir - a Bósnia, o Kosovo e a Turquia - onde a crescente influência democrática os tem colocado longe das confusões fundamentalistas. Porque o Estado e a Religião constituem-se como factores separados e independentes. O dogma religioso quando exponenciado à condição de orientação estratégica de um Estado condiciona a visão, a conduta e a vida das pessoas. E que tem levado a formas tão diferentes de interpretar o Al-Khoran, desde a loucura Taliban no Afeganistão até às ditaduras no Iraque ou no Sudão. Estas visões tem colocado no poder homens (nunca mulheres) que ostracizam o povo que é usado para odiar o Ocidente, colocando-os no prisma de cá como uma religião do ódio e da violência. Então, como conceber que no Paquistão e noutros países do Sudoeste Asiático, tenham havido condutas democráticas e mesmo mulheres como primeira-ministras e presidentes?

Sendo a religião uma forma de viver a vida, não é em si mesma a melhor maneira de fazer viver o Estado e uma comunidade, condicionando-a tanto na sua liberdade individual como no seu todo. O choque que presenciamos, é na sua essência óbvia uma questão (vasta) de liberdade, e com isso um ideal de civilização multicultural, e acima de tudo a paz.

2006-02-06

Democracia x Dogma II



A perigosidade destes eventos colocam-nos, europeus, sob a condição de xenófobos. O que é certo é que a "rua europeia" (em contraponto à "rua árabe") ou seja, o comum europeu, apenas verá estas colisões como mais razões para o ostracismo, o desprezo e em último lugar ao xenofobismo. O que nos diferencia hoje é o meio no qual vivemos, nós em liberdade e democracia, eles sob um jugo dogmático onde religião e política se (con)fundem perigosamente. Falta-lhes passar por processos de reforma e renovação como aconteceu por cá desde o séc.XV até o séc.XIX. Dos paradigmas da fé até aos conceitos de Estado e política.

Mas o que muita gente esquece (ou ignora) e que nos faz julgar mais que os outros é que a conflitualidade e o paradigma absoluta da fé colocou durante séculos os europeus em guerra e em actos de imperialismo. Também a Europa, enfrentou momentos infelizes na sua história e que o mundo muçulmano foi durante séculos a civilzação mais avançada do mundo. O que muita gente desconhece é que o desprezo e o isolacionismo, a incorrecta orientação política baseada na fé empurrou o mundo árabe-islâmico para onde hoje se encontra. Mas este mundo fascinante não é imune à liberdade e à democracia - vejam-se os exemplos da Turquia e o Iraque, e apesar da vitória do Hamas, do exemplo da Palestina. A ocorrência destes paradigmas que potenciam a paz e a concórdia são elementos primordiais para colocar esta região do mundo no centro das atenções. O fenómeno da globalização, no seu contexto sócio-cultural, não é recente, mas no seu contexto político-económico tem produzido diversos factores de desestabilização e inquietude.

Democracia x Dogma I



Onde existe democracia e liberdade existem comportamentos civilizados. Onde a religião é a âncora do Estado, esta é exacerbada para caminhos onde o dogma significa mais que o respeito pelo Homem, onde o fundamentalismo se pode alimentar da miséria e da ignorância provocados por essa mesma orientação teológico-política, e ser caminho aberto, com estas razões, no incitamento ao ódio e à intolerância, colocando dois mundos cada vez mais afastados. Quando a aproximação em tudo beneficiaria os povos em questão e o mundo em geral. Os cartoons foram uma acha para a fogueira, cuja cíclica e eterna incerteza no Médio Oriente seriam em tudo indesejáveis.

Tal como Luis Salgado de Matos afirma hoje no Público "Alguns dos outros desenhos dinamarqueses só não são ofensivos para os europeus. Como o resto do mundo é religioso, os europeus correm o risco de ofender sem repararem. Aliás, os europeus só repararam no que tinham feito depois da ameaça de boicote comercial" e acrescenta "O mundo islâmico protesta sem ter visto os bonecos, cuja reprodução é proibida. A rua árabe protesta porque tem sentimentos de inferioridade, porque se julga discriminada - pois os europeus, julga, proíbem ofensas ao Deus judeu, e por outras razões, menos honrosas. Os manipuladores da rua árabe querem fazer vergar os não islamitas."
As reacções são exageradas e injustificadas, alicerçadas na intolerância, na ignorância, na exploração maldosa destes factores, na falta de cultura democrática.

Sendo, acima de tudo, a liberdade de expressão um direito a defender, a reedição dos cartoons foi uma provocação desnecessária. Uma parte do problema coloca-se aqui: deveriam ou não ser mostrados as caricatituras de Maomé? Sim. Mas a gravidade da situção ultrapassa em muito isto: a reacção demonstra como o conflito civilizacional pode ser mais grave a cada rastilho, e para nós ocidentais injustificável e inqualificável o modo violento das reacções por todo o mundo islâmico.



2006-02-05

trip: Madeira