2005-07-11

Srebrenica



Recordo-me bem daqueles dias atrozes que, durante 5 anos ensombraram a Europa. Com muita mágoa segui todos os eventos macabros ocorridos na Croácia e na Bósnia. A maldade percorria as colinas balcânicas provocando o caos, a destruição, a fuga, a violência física e psíquica, a tortura e a morte, ausentes das nossas terras europeias há já 50 anos. Ninguém na verdade supunha que as guerras civis/libertação da Eslovénia 1991, Croácia 1991-1994, e Bósnia 1992-1995 pudessem acontecer, e muito menos deste modo. Consequência mais violenta do fim do Muro de Berlim e da desgregação do Bloco de Leste, a implosão da Jugoslávia (esse sim previsível) permitiu a abertura de uma Caixa de Pandora que só foi fechada na Revolução de Outubro 2000 com a queda de Slobodan Milosevic.

O maior massacre cometido aconteceu há dez anos, na localidade bósnia de maioria muçulmana, onde todos os homens com mais de 14 anos foram mortos. Presume-se que tenham sido assassinados 8000 pessoas em dois, três dias, pelas forças armadas sérvias - os mais diabólicos/diabilizados do conflito - estando as forças da ONU absolutamente conscientes e impotentes face ao horror que estava a ter lugar. Mas este genocídio-final foi a gota de água que forçou o fim do conflito. Não mais deixámos de ver mercados e ruas cheias de gente estropiada e abatida a partir dos cercos sérvios nas colinas. Não mais assistimos à fuga de milhares de bósnios, croatas ou sérvios. Pudémos (tentar) esquecer das nossas memórias a inumanidade impressionante naquelas paragens. O novo sonho de uma Europa unida que surgiu com o fim da Cortina de Ferro, viu naqueles anos, na Ex-Jugoslávia, um sério revés para a sua unidade, força e vontade políticas.

Mas o fim da guerra não viu ainda todos os responsáveis presos e julgados: os "irmãos do diabo" Radovan Karadzic (Presidente da Republika Srpska) e Ratko Mladic (Comandante militar das Exército Sérvio Bósnio) continuam a monte, foragidos quem nem Bin Laden, mas obviamente protegidos ao mais alto nível.
Hoje choramos os mortos, celebramos a sua memória, e tal como após o Holocausto, juramos "Nunca mais". Até o próximo sentimento de incredulidade...