Nada mais os move que o ódio. Puro ódio. Assente na verdade que acreditam ser absoluta e, que nós vemos como tiranicamente obscura. O regime Taliban no Afeganistão foi o "maior" exemplo daquilo que julgam ser a sociedade ideal. E tanto acreditam nisso, como detestam o nosso meio de vida, a nossa liberdade, o nosso desenvolvimento, o nosso pensamento. Um e outro são o verdadeiro choque de civilizações no qual - analisando nós "ocidentais" - colocará nas trevas todo um povo uno e fiél a Allah, numa tirania de uma interpretação radical do Al-Corão.
Os excelentes textos de Oliver Roy ("Por que nos odeiam eles? Não é por causa do Iraque", Público 23.07.2005) e de Teresa de Sousa ("Não nos enganemos no inimigo", Público 19.07.2005) explicam muito bem as origens e os aspectos deste "fenómeno" criminoso global. Oliver Roy diz que "ao justificar os ataques terroristas com o Iraque, a Al-Qaeda procura popularidade ou, pelo menos, legitimidade entre os muçulmanos", aproveitando a ignorância das populações, exaltando as descriminações e as misérias, mas acrescenta, com razão que "muitas das declarações, acções e inacções dos grupos terroristas indicam que se trata, em grande parte, de mera propaganda e que o Iraque, o Afeganistão e a Palestina dificilmente serão a motivação que está por detrás da sua jihad global", pois onde está, de facto, a razão verdadeira para tanta fúria, quando o que provoca no instante - quer no Iraque, na Turquia ou no Egipto - é a morte de irmãos de fé, abalando estruturas várias destes países, negativizando o seu desenvolvimento. Ou seja, impedindo de os tornar naquilo que mais detestam e que é um conceito intrínseco do Ocidente: a liberdade e a democracia.
Os pretextos invocados pela Al-Qaeda caem por terra se analisarmos os ataques de Nova Iorque "combinado bastante tempo antes do início da segunda Intifada, de Setembro de 2000, numa altura de relativo optimismo em relação às negociações israelo-palestinianas", como refere Roy. Assim como os 100 mil mortos de atrozes ataques às populações da Argélia no início dos anos 90, que hoje já ninguem se recorda. Ou mesmo dois atentados no metro de Paris em 1995 que provocaram oito mortos e mais de 130 feridos. Nessa altura falava-se da GIA - Grupo Islâmico Armado - o primeiro grupo organizado de extremismo e terrorismo antes da Al-Qaeda. A invasão do Afegansitão e do Iraque aconteceram bem depois. Novamente Oliver Roy: "desde o início, os combatentes da Al-Qaeda eram jihadistas globais, e os seus campos de batalha preferidos situavam-se fora do Médio Oriente: Afeganistão, Bósnia, Tchetchénia e Caxemira" onde aproveitavam as guerras locais, "para eles, todos os conflitos faziam simplesmente parte de uma intromissão do Ocidente na 'umma' muçulmana, a comunidade de crentes em todo o mundo". Esta é uma das raízes do problema, onde a gritante e longa luta palestiniana surge como desculpa maior, pois "se os conflitos no Afeganistão, Iraque e Palestina estão no centro da radicalização, então porque não haverá entre os terroristas nenhum afegão, iraquiano ou palestiniano? Pelo contrário, os bombistas pertencem, na sua maioria, a países da península arábica, Norte de África, Egipto e Paquistão - ou então são naturais de países ocidentais, convertidos ao islão".
Teresa de Sousa acrescenta pontos que considero essenciais para a compreensão do problema quando afirma que a estratégia dos terroristas "passa pela divisão e pelo enfraquecimento do mundo ocidental - os 'cruzados e os infiéis' com que intoxicam a opinião pública islâmica" e que "não tem nada a ver com a pobreza no mundo e com as injustiças da globalização". O que vai ao encontro do que Oliver Roy finaliza, constatando como interessante é "que nenhum dos terroristas islâmicos capturados até agora era activista de algum movimento antiguerra legítimo nem nunca esteve envolvido em qualquer organização política de apoio ao povo por quem reclama lutar". Pois estes jihadistas "não distribuem panfletos nem fazem peditórios para angariar fundos para hospitais e escolas. Nem têm uma estratégia racional para fazer pressão pelos interesses do povo palestiniano ou iraquiano".
Os objectivos do terrorismo islâmico são políticos, é óbvio: "os seus mentores têm uma ideologia e uma estratégia. Como tinham o totalitarismo soviético ou nazi. A sua ideologia é igualmente totalitária, com a particularidade de nascer do horror à modernidade e à civilização aberta e global, tal como hoje a conhecemos" afirma Teresa de Sousa acrescentando que a estratégia destes grupos "é derrubar os regimes do mundo islâmico que se opõem à sua interpretação política fundamentalista do Islão". Defende o que também eu já referi: "abrindo portas aos obscurantismo totalitário de que tivemos, também é bom lembrar, uma pálida imagem no Afeganistão dos Taliban. São eles que defendem a 'guerra das civilizações' e que estão dispostos a travá-la recorrendo a todos os meios".
E o futuro, o nosso futuro, para além das alterações climáticas, da crise económica e social, irá conviver com esta nova guerra - globalmente mortífera, terrificamente castradora da nossa liberdade e da nossa paz. "Vivemos um daqueles momentos de perturbação e de perplexidade em que as nossas certezas e as nossas mais profundas convicções são postas à prova" sintetiza com verdade Teresa de Sousa.
"Os terroristas sedeados no Ocidente não são a vanguarda militante da comunidade muçulmana, mas uma geração perdida, sem amarras às sociedades e culturas tradicionais, frustrada por uma sociedade ocidental que não satisfaz as suas expectativas. E a sua visão de uma umma global é um espelho e, ao mesmo tempo, uma forma de vingança contra a globalização que os transformou naquilo que são." Oliver Roy
Mas, insisto, o que os move? No íntimo, após analisarmmos estas questões fundamentalistas política e religiosamente, como podemos compreender o sacrifício inocente de dezenas de pessoas todas as semanas? Vejam este exemplo horrososo: um ataque na semana passada contra um Hummel do exército americano em Bagdad enquanto distribuía doces a crianças, provocou o brutal assassínio de 27 delas! Na lógica de lutas onde por vezes se afirma que a morte de uns será a liberdade de muitos, como pode o sacrifício de crianças justificar tamanha fúria guerreira? Apenas a maldade: o terror, o ódio e o desprezo pela humanidade. O Mal não descarta meios que possam justificar os fins. O que os move é a adrenalina malévola da luta diária, o "delicado" e sulforoso odor da pólvora e da morte, o gozo do perigo, a vingança de executar a sentença ao infiel, o prazer das 70 virgens à espera do "mártir" no Paraíso (isto então é que me faz "espécie": se são, entre diversos desvios "ocidentais", contra a depravação e a luxúria, é no Céu, local de pureza absoluta, que a concretizarão?).
O britânico Jason Burke, autor do livro "Al-Qaeda, A História do Islamismo Radical" afirma que o líder da desta "continua a exercer uma ameaça mortal porque detém o terrível poder de inspirar palavras e ideias". Osama Bin Laden é o "Senador/Imperador Palpatine" da nossa realidade, cujo ódio alicia para as suas "gloriosas" trevas muitos "Darth Vader". E mesmo que, algum dia, ele morra, a sua ideologia - inteligentemente maléfica - continuará a vingar por aí, alimentando/aproveitando-se de ignorantes e fracos de espírito, pois eles amam a morte e nós amamos a vida, rigidamente alicerçada numa leitura retrógada dos textos sagrados.
Ou como afirmou François Heisbourg (presidente do Instituto International de Estudos Estratégicos, de Londres): "Eles atacam-nos pelo que nós somos, não por aquilo que fazemos". Esta é uma das motivações do mal: que incita ao ódio, que gera o terror, que provoca a morte.
2005-07-27
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