Como se esperava, Londres suspendeu a legislação que permitiria referendar o Tratado Constitucional, e com isso, a ilha simbolicamente deu novos contornos à abordagem do continente sobre o que fazer agora. Com uma provável vitória do "No", a derrota britânica - que não seria de todo inesperada - após "Non" e "Nee" funcionaria como um golpe tão fatal como estes, e os próximos referendos que/se houver, dadas as circunstâncias, não nos dão a certeza absoluta de um resultado ratificador. A especificidade - palavra tão em voga nos meandros europeus - da intervenção política inglesa na construção europeia, tornou-se com Tony Blair numa peça importantíssima no xadrez da UE. O sucesso e a experiência das suas políticas internas apesar da não integração no Euro, o poder económico e social, mas também político e militar, colocam o Reino Unido num patamar de decisão tão válido quanto a França e a Alemanha, tradicionais "motores" do projecto europeu, onde, por ironia a crise tem origem. A falha dos objectivos internos (Alemanha e França), os medos e os preconceitos (França) extravasaram para um sentimento que roça quase um anti-europeísmo de contornos vários.
Fala-se de falta de liderança, saudades de Miterrand, Kohl e Delors, homens "providenciais" e com visão. De facto hoje não temos isso, mas não faltou coragem para avançar para o projecto do Tratado. Contudo, como muitos acusam, e como vemos após referendos e seguintes reacções, pelos desejos e objectivos comuns e diferenciados, o caminho preparado pela Convenção não foi o melhor. A ideia de uma união muito mais política e económica a implementar em breve será elaborada no retomar do trilho dos "pequenos passos", segundo o qual ao longo de quarenta anos se edificou este projecto.
A cimeira de 16 e 17 próximos, onde se decidirá se o processo de ratificação continuará ou se se opta pela sua suspensão, será a mais importante dos últimos anos. A necessidade de encontrar, de facto, um projecto político de futuro, que funcione como uma ideia verdadeiramente de encontro com os desejos dos povos europeus torna-se agora mais premente que nunca.
Ontem na RTP1, no "Prós e Contras", discutiu-se o Tratado Constitucional. Pelo "sim" e pelo "não" se esgrimaram argumentos, todos eles válidos, tão esclarecedores para compreender, quanto confusos para uma decisão referendária. Momentos houve que apoiava o "não" e depois os argumentos do "sim" me atraíam de novo...
PS: Soube agora, a República Checa suspendeu o seu processo de ratificação...