A João César das Neves
Eu já conheço as suas posições há algum tempo e, devo "confessar" não as entendo. Pela simples razão de me parecer obtusa e incredulamente estranha, dogmática e mais papista que o Papa. Tentando, na lógica de quanto mais informação melhor, compreender as diversas opiniões que cada pessoa possa produzir, as suas entram em colisão com a minha linha de pensamento.
Partilho da opinião de Pedro Mexia (descrita no seu blog Fora do Mundo) e, com educação e sentido de livre expressão lhe manifesto o meu profundo espanto por se reger por "normas" e ideias que se encontram desencontradas da realidade actual e do seu desenvolvimento futuro. Faz-me "espécie" a sua defesa de um tradicionalismo que poucos seguirão de verdade, a sua indagação/indignação por práticas várias que irão contra a doutrina oficial, mais defendidas por si que por um clérigo. Nada contra quem segue a via religiosa como vocação/profissão, mas não seria esse o seu sonho nunca realizado?
Reger-se por moralismos - que para uns soa a falso - é uma coisa, difundi-los ofendendo por vezes é outra. A liberdade de um não deve interferir na liberdade dos outros, mesmo havendo normas naturais para a saudável coexistência na/da sociedade.
Cordialmente, JCN respondeu-me, ao que depois acrescentei:
Na verdade sei que a sua opinião é de muitos milhões, assim como a minha é de outros tantos. Felizmente podemos todos discutir e partilhá-las e, não queira presumir que o chamo de estúpido. Longe de mim insultá-lo, a lógica da boa conversação e discussão de ideias a isso impede. Reconhecendo que o seu pensamento é tão válido como qualquer outro, quando diz "Eu só conheço o que entendo" estou perfeitamente de acordo e não pretendo libertar-me "da necessidade de tentar entender essas posições". Tentar compreender e aceitar não impede, tal como a si, mudar determinadas opiniões. Sei também que é alvo-permanente em diversas crónicas e deve ser dificil lidar com isso.
Contudo, quando afirmo que "a liberdade de um não deve interferir na liberdade dos outros", no que concerne à questão sexual digo-lhe que concordo quando diz que é "o contrário do sistema que a sociedade usa em todos os outros domínios", mas o uso do corpo e da sexualidade é única, exclusiva de cada um (exceptuando obviamente os casos de prostituição e escravidão sexual). Não acredito nos efeitos negativos sobre a estabilidade e o equilíbrio social, acredito, isso sim, na libertação (atenção, não libertinagem) psíquica que pode advir do sexo, na estrutura de leveza e equilíbrio individuais produzidos, pelo bem-estar. Não creio estar em causa a família, não deixará de haver heterossexuais, como nunca deixou de haver homossexualdade, com a aceitação e convivência entre pessoas que aceitam o outro independentemente da sua "condição" sexual.
Os valores permancerão: amor, estabilidade e respeito são sempre tudo aquilo que homens e mulhers querem com os nossos entes queridos. Mas sexo, dinheiro e poder são a trindade da corrupção humana ao longo de milénios, mas podemos construir uma sociedade que, mesmo com regras - novas e tradicionais - leve a condição humana a níveis de confraternização e respeito cada vez maiores. Utópico? Talvez. Mas tal como o senhor, penso o que penso, e gostei de partilhá-lo.
2005-06-28
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