2004-12-21

O país de Eça

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
(...)
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
(...)
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»


Eça de Queirós, 1871
(retirado de Contra Santana)

A adaptação de "O Conde de Abranhos" para TV na RTP, foi o meu primeiro contacto com esta análise, arrepiantemente contemporânea da sociedade e da política nacionais. Aí vivíamos em tempos de Guterres, e as semelhanças eram de bradar aos ceus. Cada vez mais, e desde há alguns anos, que este Portugal, agora já séc.XXI se assemelha mais ao Portugal de Eça de Queiroz. Que caminho a traçar se no fundo vai tudo dar ao mesmo?

Se não melhorar, ou fazemos todos uma revolta, ou saímos todos daqui, para lugar que aprecie o suor do nosso trabalho enquanto simples cidadãos.
Se a incompetência continuar, bardamerda para os políticos.

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