Não pude acompanhar mais uma campanha para as eleições europeias. Mas do que percebi, mais uma vez a discussão para o Parlamento Europeu se centrou em tudo menos na Europa. É certo que um deputado em Estrasburgo é Portugal na Europa, mas onde está o alcance desta no país? A percepção colectiva da União Europeia é positiva, mas o entendimento de que se trata de um projecto político original e modificador continua longe do comum dos cidadãos. O único momento em que se discutiu a Europa foi quando Vital Moreira defendeu a criação de um imposto europeu. Logo caiu o Carmo e a Trindade. E logo desapareceu um tema já lançado por Mário Soares há muito tempo. Não pretendo defender ou criticar tal medida. Apenas realço a perda de oportunidade de debater uma questão pertinente e que se debruça sobre o que queremos e o que pretendemos fazer da UE.
Assim, no meio dos habituais falatórios todos-contra-o-governo, e o governo-contra-todos, o afastamento dos cidadãos revela-se maior a cada escrutínio. Problema não inédito por cá, o que só prova a falta de capacidade e de talento dos políticos europeus actuais. Onde deveria haver convergência de ideias e mobilidade para avançar melhor para um fantástico projecto comunitário, assistimos, particularmente desde o alargamento a Leste, a um conceito de quase Babel. Há quatro anos atrás referi esta mesma preocupação. Estes últimos anos demonstraram um conjunto de afrontamentos e desigualdades (invasão do Iraque, oposição polaca e checa ao Tratado de Lisboa, por exemplo) que não permitiram intensificar com acutilância o projecto europeu. A falta de liderança e a falta de sentido visionário, elementos que tanto fizeram nas primeiras décadas (Schumann, Adenauer, Brandt, Mitterrand, Kohl, González, Soares, Delors) emperraram esta fabulosa iniciativa.
Então como fazer para contornar a questão quando ninguém consegue criar bons líderes? O Parlamento Europeu. O aumento dos seus poderes tem revelado e procurado tornar esta instituição na base democrática da UE. O voto depositado na urna deverá ser também um voto de confiança num deputado que, ao contrário do que acontece para a Assembleia da República, sabemos quem é.
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