Cremos todos que ficou demonstrado como, nestas eleições, a política se afastou -ainda - mais do interesse, do entusiasmo dos cidadãos. A elevada abstenção vai para além das férias, do sol e praia (onde?), é sintoma evidente do descrédito no sistema, no modo como estas intercalares se processaram, na proliferação de candidatos como galos à procura de poleiros. E têm razão os lisboetas, mas arriscam-se a dar de barato a governação de uma cidade para depois se queixarem novamente ou mais ainda. É um voto de castigo para com o sistema de partidos, para com (certos) candidatos, mas também, por causa de outros. Um voto de castigo também para a democracia, onde má gestão, suspeição e processos judiciais agora contam (ou se desvalorizam) para o currículo de um político. Vimos em Lisboa, com o resultado de Carmona Rodrigues, aspectos medíocres de tantas outras Câmaras deste país. O que se reflecte por via do sistema administrativo das cidades. Há muito que defendo a gestão das autarquias pelo partido vencedor ao modo de uma governação única (como nos EUA, no Reino Unido) ao contrário de poderes vários, obrigando a consensos, úteis sim, mas factores de inoperância e atraso. É grande a lista de autarcas dinossauros (a nova lei vai exterminá-los) e mandatos sucessivos de vereadores multicolores, onde trabalho visível muitas vezes não existe, onde assembleias municipais são tribunas de discussão democrática sim, mas impeditivas - juntamente com o próprio poder - de projectos mais exequíveis para as cidades e os seus concelhos. A execução eficaz dá-se mais pela ousadia, originalidade e energia de determinados presidentes de Câmara (veja-se o exemplo de Óbidos) do que pelos mecanismos legais que hoje existem, que tanto prendem quem quer trabalhar para os eleitores, como "liberta" outros que não se importam de os prejudicar e possuem o poder pelo poder.
Mas também assistimos à arrogância subtil e fria. Novamente este PS demonstra falta de cultura democrática e ética política ao interromper, como nas Presidenciais com Manuel Alegre, o discurso de Helena Roseta. Antes, os vencedores eram os últimos a falar, com respeito e paciência após todos os outros se pronunciarem. Carmona fez o mesmo a António Costa, mas saiu-se quase como o verdadeiro vencedor da noite.
Já poucos se mobilizam pela política, e muito menos se festejam por ela. Até é ridículo, confesso. Multidões a gritar o nome de um partido ou de um candidato como se fosse um santo, ou Deus. Por isso vimos também nesta noite eleitoral a superficialização e a manipulação. Pelos actos e palavras de Costa, mas acima de tudo pelo povo a festejar que era tão somente um grupo de idosos de Mafra que não sabiam ao que iam. Triste.
Helena Roseta obteve um óptimo resultado - acima das sondagens - onde vemos que a política, para além de ideias e partidos é constituída por cidadãos. Integridade e ideias serão sempre os principais factores de confiança e de vitória.
Cabe agora, nestes dois anos, aos eleitos trabalharem para o bem da cidade. É uma etapa dificil mas muito importante para os anos que se seguem. Veremos se afinal estarão à altura dos seus compromissos e das nossas exigências.