2007-07-31
2007-07-29
2007-07-28
TED Talks
Al Gore 15 ways to avert a climate crisis
Cameron Sinclair: TED Prize wish: Open-source architecture to house the world
Tony Robbins Why we do what we do, and how we can do it better
William Kamkwamba How I built my family a windmill
Cameron Sinclair: TED Prize wish: Open-source architecture to house the world
Tony Robbins Why we do what we do, and how we can do it better
William Kamkwamba How I built my family a windmill
2007-07-26
Lusofonia a (R)evolução
Está online uma short-version do excelente documentário Lusofonia a (R)evolução produzido pela Red Bull Music Academy em colaboração com a RTP (transmitido na RTP1 num sábado do mês passado), e com a usual óptima pós-produção e montagem da Subfilmes. Grande parte do conceito que defendo está aqui, numa linguagem única e de potencialidade imensa.
Para ler mais em:
http://www.myspace.com/lusofoniaarevolucao
http://www.danceplanet.com/modules/noticias/noticia.php?id=842
Sinopse
Está a afirmar-se em Lisboa uma geração de músicos, produtores e DJs que, atenta às mutações estéticas e tecnológicas na música, não deixa de pugnar por um traço distintivo herdado pela cultura de que fazem parte: a Lusófona. É esta que favorece a singularidade dos nossos artistas num contexto histórico em que a uniformização na criação ofusca a singularidade. Lusofonia, a (R)Evolução é um cartão de visita sobre a identidade musical Lusófona.
O movimento de músicos de Lisboa – de Sara Tavares, Lura, Chullage, Buraka Som Sistema ou Sam The Kid – emana características únicas: sejam ritmos, melodias, vocábulos que sintetizam através dos sons cinco séculos de história conjunta entre os territórios que hoje partilham o idioma Português.“Lusofonia, A (R)Evolução” está dividido em várias partes:
1. As Raízes da Fusão
A música funcionou como um meio de integração social desde o séc.XV - início da exploração marítima de Portugal. As trocas sociais e culturais fomentaram o aparecimento de géneros musicais tendo como base um entreposto de escravos, Cabo Verde. O saudoso Raul Indipwo revela uma visão atenta e credível sobre as ligações entre, por exemplo, Fado e Morna, numa óptica em tudo idêntica à de José Ramos Tinhorão, publicada no livro “Os Negros Em Portugal: Uma Presença Silenciosa” - que serviu de base bibliográfica a este segmento do documentário.
2. A canção é uma Arma
A música também desempenhou um papel preponderante nos países lusófonos, quando estes viviam sob regimes ditatoriais (em Portugal e Brasil) e coloniais (em África). O movimento brasileiro Tropicália nasceu neste contexto e artistas nacionais e dos PALOP usavam a música como um meio de consciencialização social.
3. O Boom dos Anos 80
Não apenas nasceu uma indústria discográfica no decénio 1980-1990, como também começaram a chegar músicos africanos a Lisboa iniciando-se um processo de intercâmbio – que daria poucos frutos nesta década.
4. A Nova Mestiçagem
Foi nos anos 90 que a ideia de lusofonia ganha uma nova vida graças a uma geração de música urbana, influenciada pelo hip hop. Filhos de imigrantes despontaram através da compilação “Rapública”; bandas como os Cool Hipnoise davam uma nova abordagem aos ritmos brasileiros; os Kussundolola promoviam um Reggae angolanizado e editoras como a Nylon pugnavam por um produto português feito por executantes lusófonos. Os anos 90 foram uma época de transformação mas uma fusão musical lusófona decorre no segundo milénio. “Talvez um dia quando falarem em Lusofonia não vão estar a falar só do Português, mas também de tudo o que isso derivou...”Chullage (Músico), in “Lusofonia, A (R)Evolução”
5. Sons em (R)Evolução
Depois de 2000 os fenómenos de cruzamento lusófono tornam-se por demais evidentes. Marcelo D2, no Brasil, cruza Samba com Hip Hop; Nigga Poison e Chullage dão ao crioulo uma nova roupagem; os Buraka Som Sistema pegam no Kuduro para criarem uma nova música de dança, lisboeta; Lura e Sara Tavares, ambas naturais de Lisboa, operam na world music, seja seguindo a tradição de Cabo Verde, no caso da primeira, seja amalgamando elementos, no caso da segunda.
2007-07-24
2007-07-17
Vanity Fair Africa
The 21 people who put their famous faces to work for this issue say it all. Annie Leibovitz paired them up on 20 different covers—shout-outs for the challenge, the promise, and the future of Africa.
A Vanity Fair lançou uma edição especial sobre África, tendo Bono, como no The Independent, sido o Guest-Editor. Colocar o assunto em 20 capas diferentes foi pôr na imprensa - principalmente a americana - um projecto editorial de grande envergadura, pela emergência da situação, pela necessidade de intervenção, por uma nova atitude política.
Fotos de Annie Leibovitz a 21 personalidades empenhadas (Bush também?) em salvar África, como Barack Obama, Don Cheadle, Oprah, Desmond Tutu e a Rainha Rania da Jordânia.
A Vanity Fair lançou uma edição especial sobre África, tendo Bono, como no The Independent, sido o Guest-Editor. Colocar o assunto em 20 capas diferentes foi pôr na imprensa - principalmente a americana - um projecto editorial de grande envergadura, pela emergência da situação, pela necessidade de intervenção, por uma nova atitude política.
Fotos de Annie Leibovitz a 21 personalidades empenhadas (Bush também?) em salvar África, como Barack Obama, Don Cheadle, Oprah, Desmond Tutu e a Rainha Rania da Jordânia.
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Victor Barreiras
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2007-07-16
Lá vai Lisboa
Cremos todos que ficou demonstrado como, nestas eleições, a política se afastou -ainda - mais do interesse, do entusiasmo dos cidadãos. A elevada abstenção vai para além das férias, do sol e praia (onde?), é sintoma evidente do descrédito no sistema, no modo como estas intercalares se processaram, na proliferação de candidatos como galos à procura de poleiros. E têm razão os lisboetas, mas arriscam-se a dar de barato a governação de uma cidade para depois se queixarem novamente ou mais ainda. É um voto de castigo para com o sistema de partidos, para com (certos) candidatos, mas também, por causa de outros. Um voto de castigo também para a democracia, onde má gestão, suspeição e processos judiciais agora contam (ou se desvalorizam) para o currículo de um político. Vimos em Lisboa, com o resultado de Carmona Rodrigues, aspectos medíocres de tantas outras Câmaras deste país. O que se reflecte por via do sistema administrativo das cidades. Há muito que defendo a gestão das autarquias pelo partido vencedor ao modo de uma governação única (como nos EUA, no Reino Unido) ao contrário de poderes vários, obrigando a consensos, úteis sim, mas factores de inoperância e atraso. É grande a lista de autarcas dinossauros (a nova lei vai exterminá-los) e mandatos sucessivos de vereadores multicolores, onde trabalho visível muitas vezes não existe, onde assembleias municipais são tribunas de discussão democrática sim, mas impeditivas - juntamente com o próprio poder - de projectos mais exequíveis para as cidades e os seus concelhos. A execução eficaz dá-se mais pela ousadia, originalidade e energia de determinados presidentes de Câmara (veja-se o exemplo de Óbidos) do que pelos mecanismos legais que hoje existem, que tanto prendem quem quer trabalhar para os eleitores, como "liberta" outros que não se importam de os prejudicar e possuem o poder pelo poder.
Mas também assistimos à arrogância subtil e fria. Novamente este PS demonstra falta de cultura democrática e ética política ao interromper, como nas Presidenciais com Manuel Alegre, o discurso de Helena Roseta. Antes, os vencedores eram os últimos a falar, com respeito e paciência após todos os outros se pronunciarem. Carmona fez o mesmo a António Costa, mas saiu-se quase como o verdadeiro vencedor da noite.
Já poucos se mobilizam pela política, e muito menos se festejam por ela. Até é ridículo, confesso. Multidões a gritar o nome de um partido ou de um candidato como se fosse um santo, ou Deus. Por isso vimos também nesta noite eleitoral a superficialização e a manipulação. Pelos actos e palavras de Costa, mas acima de tudo pelo povo a festejar que era tão somente um grupo de idosos de Mafra que não sabiam ao que iam. Triste.
Helena Roseta obteve um óptimo resultado - acima das sondagens - onde vemos que a política, para além de ideias e partidos é constituída por cidadãos. Integridade e ideias serão sempre os principais factores de confiança e de vitória.
Cabe agora, nestes dois anos, aos eleitos trabalharem para o bem da cidade. É uma etapa dificil mas muito importante para os anos que se seguem. Veremos se afinal estarão à altura dos seus compromissos e das nossas exigências.
Mas também assistimos à arrogância subtil e fria. Novamente este PS demonstra falta de cultura democrática e ética política ao interromper, como nas Presidenciais com Manuel Alegre, o discurso de Helena Roseta. Antes, os vencedores eram os últimos a falar, com respeito e paciência após todos os outros se pronunciarem. Carmona fez o mesmo a António Costa, mas saiu-se quase como o verdadeiro vencedor da noite.
Já poucos se mobilizam pela política, e muito menos se festejam por ela. Até é ridículo, confesso. Multidões a gritar o nome de um partido ou de um candidato como se fosse um santo, ou Deus. Por isso vimos também nesta noite eleitoral a superficialização e a manipulação. Pelos actos e palavras de Costa, mas acima de tudo pelo povo a festejar que era tão somente um grupo de idosos de Mafra que não sabiam ao que iam. Triste.
Helena Roseta obteve um óptimo resultado - acima das sondagens - onde vemos que a política, para além de ideias e partidos é constituída por cidadãos. Integridade e ideias serão sempre os principais factores de confiança e de vitória.
Cabe agora, nestes dois anos, aos eleitos trabalharem para o bem da cidade. É uma etapa dificil mas muito importante para os anos que se seguem. Veremos se afinal estarão à altura dos seus compromissos e das nossas exigências.
2007-07-13
Eu amei Lisboa como nunca tinha amado uma cidade
Eu amei-te como nunca amei outra. Foste uma amante louca que abandonei, mas cuja paixão perdura. Anos me levam que não te esquecerei. Sonhos me tragam até ti, que longe demais fujo sem razão para lugar nenhum.
O que queremos de facto, de bom, para as cidades? Como devemos vivê-las? Qual o futuro sustentável para todos aqueles que trabalham e habitam a urbe? Nos últimos anos estas e outras questões estiveram sempre longe da cabeça e das acções de quem governou Lisboa. E se pensarmos bem, a gravidade da presente situação é "apenas" mais um capítulo do desrespeito da cidadania em todos os aspectos da sua razão etimológica e da actualidade da sua importância.
Veículos e betão têm dominado a cena lisboeta, denegrindo a sua qualidade de vida, a sua sustentabilidade, a sua imagem, ao que se ligam uma gestão ruinosa e uma crescente falta de ética e cidadania. Entre 1994 e 1999 vivi numa Lisboa excitante, dinâmica, sedutora (os tempos de estudante universitário permitiam diversos modos de viver e sentir a cidade), mas não sem os seus problemas e pontos negativos. Tendo a sorte de viver mesmo no centro, a confusão diária era suportável e até mesmo curiosa para quem havia vivido a infância em Londres e depois na imensa pacataz de uma cidade como Caldas da Rainha. A descoberta de uma cidade única, linda e luminosa, com um imenso potencial de desenvolvimento foi sempre, depois de partir, uma das melhores recordações que ficaram. Temos as cidades-desejo e as cidades-paixão e, as cidades-ódio e as cidades-desprezo. Lisboa tem na última década atravessado todas estas designações, e ela não merece isto. Eu amei Lisboa como nunca tinha amado uma cidade, e quero continuar a amá-la e pensar que melhores dias virão. Assim como não merece a barreira que é a APL. Lisboa está bloqueada a partir do rio que é seu. Arrogantemente, esta estranha empresa pública mas de peculiar autonomia, é como um município dentro de um município. Há anos ouço tantos contra o Porto de Lisboa e nenhuns para resolver o assunto.
- - -
Todos sabemos o que se passou. Culpamos Santana e Carmona, mas também deveremos responsabilizar outros presentes na Câmara que em nada contribuíram para encontrar soluções ou somente desafiar o desvario. Restou-nos José Sá Fernandes, cavaleiro solitário (pela) da cidade, o único que soube, desde sempre, mesmo antes de ser vereador, ter uma posição e atitude clara em favor da capital e dos lisboetas.
É com incredulidade que vejo como a vitimização santanista fez escola e como isso está inacreditavelmente a render votos. Vejam-se as sondagens. O ex-Presidente Carmona Rodrigues é o (último) principal responsável pelo estado que chegou Lisboa, e considero uma enorme lata a sua recandidatura, alicerçada num projecto independente, como se isso fosse factor que o ilibe de tudo o que de errado aconteceu, em desvínculo ao partido que o apoiou como se de lá tivesse vindo todo o mal para uma correcta governação da cidade. Assim como é absolutamente inverosímel a candidatura PSD, em que Fernando Negrão surge como um salvador judiciário, igualmente longe das actividades que o seu partido teve ao longo de seis anos.
Desconfiança, embora desejo de vitória sobre o PSD e Carmona, é o que sinto da candidatura de António Costa. O PS procurou claramente meter as mãos no assunto de modo a terminar de vez com a errática liderança da cidade. E é disto que mais se ouve falar do ex-ministro - liderança. Tem toda a razão, terá de haver uma liderança clara e objectiva na câmara, e António Costa é homem para isso. Mas não haverá liderança sem um projecto exequível e verdadeiramente centrado em Lisboa, por Lisboa, para Lisboa. No fim de contas o que precisamos é de um Projecto, mas um bom projecto. Tirar o aeroporto da Portela (uma discussão imensa que não vou agora ter) é o primeiro ponto para eliminar esse ideal. O trunfo poderá ser o arquitecto Manuel Salgado, pois para além dos enormes problemas financeiros e administrativos da capital, há o factor urbanismo que importa dedicar especial atenção, outro factor que tanto influencia todos aqueles que por Lisboa passam.
E daí chego à candidatura de Helena Roseta. Vivesse eu em Lisboa e seria nela o meu voto. Porquê? Para além da personalidade idealista e combativa que possui e que sempre admirei, para além de ser Presidente da Ordem dos Arquitectos - onde a sua liderança deu outra visibilidade, respeito e importância à profissão - Helena Roseta tem ideias e projectos que concordo e partilho. Lisboa precisa de um projecto de intervenção imediata para estes curtos dois anos, planos objectivos e concretizadores para resolver pequenos grandes enfermidades que grassam pela capital. Mas também pelo ideal de mobilização e de cidadania, características novas para a política e igualmente para a sociedade. Lisboa precisa dos novos conceitos de urbanismo e convivência, espaços públicos e espaços verdes para todos e para a cidade. Lisboa precisa de qualidade de vida. Lisboa precisa de pessoas que a habitem.
A reabilitação da cidade como um todo passa por novas políticas de habitação, mais expeditas e inclusivas. Reabilitar e rehabitar as dezenas de milhares de fogos vazios em Lisboa é uma prioridade absoluta. Mais do que de grandes bairros novos, a cidade precisa de "acupunctura urbana", ou seja, de intervenções pequenas e estratégicas.
Lisboa precisa de um projecto que a reabilite urbanamente e socialmente devolvendo aos munícipes o uso e fruição do espaço público aprazível e convidativo. A gestão urbanística tem de deixar de se subordinar aos interesse privados de alguns e passar a ser determinada pelo interesse comum e pela transparência de procedimentos e decisões.
Assim como a qualidade da vida urbana está cada vez mais ligada às oportunidades de desenvolvimento educativo e social que a cidade oferece aos seus habitantes. De certo modo, o novo modelo social europeu tem de se refundar à escala da cidade.
Lisboa precisa de um quotidiano mais fácil, onde os transportes públicos sejam mais acessíveis e eficientes, onde as pessoas com deficiência não sejam cidadãos de segunda, onde haja tempo e lugar para a vida familiar e para os amigos, onde haja menor solidão e onde seja agradável viver e conviver não é uma utopia.
As cidades que têm sucesso no contexto da globalização são as que tiram partido da sua história, do seu património, da vitalidade da sua cultura e se abrem à inovação científica, tecnológica, empresarial e social.
Lisboa urge possuir medidas necessárias para melhorar a qualidade ambiental de Lisboa, tendo em conta o conceito actual de sustentabilidade urbana, que envolve o ambiente, a qualidade de vida, a eficiência económica e a cidadania.
A participação está na ordem do dia. Os sistemas de governo local têm de incorporar a noção de governança, sinónimo de bom governo com o envolvimento dos interessados. Os métodos participativos têm de estar presentes em todas as fases do governo local. A descentralização para as freguesias é indissociável da participação.
Os novos desafios que se colocam a Lisboa exigem uma maior eficiência dos seus serviços municipais, o que implica processos de modernização, mobilização e racionalização de recursos humanos e técnicos que são urgentes. A mudança passa inevitavelmente por aqui.
Lisboa mudou. Mudaram os hábitos e ritmos de vida. Mudaram as redes de relações e os padrões familiares. Os novos lisboetas que nos demandam trazem consigo novas visões e novos problemas. É uma oportunidade histórica para uma cidade que está em perda demográfica.
O que queremos de facto, de bom, para as cidades? Como devemos vivê-las? Qual o futuro sustentável para todos aqueles que trabalham e habitam a urbe? Nos últimos anos estas e outras questões estiveram sempre longe da cabeça e das acções de quem governou Lisboa. E se pensarmos bem, a gravidade da presente situação é "apenas" mais um capítulo do desrespeito da cidadania em todos os aspectos da sua razão etimológica e da actualidade da sua importância.
Veículos e betão têm dominado a cena lisboeta, denegrindo a sua qualidade de vida, a sua sustentabilidade, a sua imagem, ao que se ligam uma gestão ruinosa e uma crescente falta de ética e cidadania. Entre 1994 e 1999 vivi numa Lisboa excitante, dinâmica, sedutora (os tempos de estudante universitário permitiam diversos modos de viver e sentir a cidade), mas não sem os seus problemas e pontos negativos. Tendo a sorte de viver mesmo no centro, a confusão diária era suportável e até mesmo curiosa para quem havia vivido a infância em Londres e depois na imensa pacataz de uma cidade como Caldas da Rainha. A descoberta de uma cidade única, linda e luminosa, com um imenso potencial de desenvolvimento foi sempre, depois de partir, uma das melhores recordações que ficaram. Temos as cidades-desejo e as cidades-paixão e, as cidades-ódio e as cidades-desprezo. Lisboa tem na última década atravessado todas estas designações, e ela não merece isto. Eu amei Lisboa como nunca tinha amado uma cidade, e quero continuar a amá-la e pensar que melhores dias virão. Assim como não merece a barreira que é a APL. Lisboa está bloqueada a partir do rio que é seu. Arrogantemente, esta estranha empresa pública mas de peculiar autonomia, é como um município dentro de um município. Há anos ouço tantos contra o Porto de Lisboa e nenhuns para resolver o assunto.
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Todos sabemos o que se passou. Culpamos Santana e Carmona, mas também deveremos responsabilizar outros presentes na Câmara que em nada contribuíram para encontrar soluções ou somente desafiar o desvario. Restou-nos José Sá Fernandes, cavaleiro solitário (pela) da cidade, o único que soube, desde sempre, mesmo antes de ser vereador, ter uma posição e atitude clara em favor da capital e dos lisboetas.
É com incredulidade que vejo como a vitimização santanista fez escola e como isso está inacreditavelmente a render votos. Vejam-se as sondagens. O ex-Presidente Carmona Rodrigues é o (último) principal responsável pelo estado que chegou Lisboa, e considero uma enorme lata a sua recandidatura, alicerçada num projecto independente, como se isso fosse factor que o ilibe de tudo o que de errado aconteceu, em desvínculo ao partido que o apoiou como se de lá tivesse vindo todo o mal para uma correcta governação da cidade. Assim como é absolutamente inverosímel a candidatura PSD, em que Fernando Negrão surge como um salvador judiciário, igualmente longe das actividades que o seu partido teve ao longo de seis anos.
Desconfiança, embora desejo de vitória sobre o PSD e Carmona, é o que sinto da candidatura de António Costa. O PS procurou claramente meter as mãos no assunto de modo a terminar de vez com a errática liderança da cidade. E é disto que mais se ouve falar do ex-ministro - liderança. Tem toda a razão, terá de haver uma liderança clara e objectiva na câmara, e António Costa é homem para isso. Mas não haverá liderança sem um projecto exequível e verdadeiramente centrado em Lisboa, por Lisboa, para Lisboa. No fim de contas o que precisamos é de um Projecto, mas um bom projecto. Tirar o aeroporto da Portela (uma discussão imensa que não vou agora ter) é o primeiro ponto para eliminar esse ideal. O trunfo poderá ser o arquitecto Manuel Salgado, pois para além dos enormes problemas financeiros e administrativos da capital, há o factor urbanismo que importa dedicar especial atenção, outro factor que tanto influencia todos aqueles que por Lisboa passam.
E daí chego à candidatura de Helena Roseta. Vivesse eu em Lisboa e seria nela o meu voto. Porquê? Para além da personalidade idealista e combativa que possui e que sempre admirei, para além de ser Presidente da Ordem dos Arquitectos - onde a sua liderança deu outra visibilidade, respeito e importância à profissão - Helena Roseta tem ideias e projectos que concordo e partilho. Lisboa precisa de um projecto de intervenção imediata para estes curtos dois anos, planos objectivos e concretizadores para resolver pequenos grandes enfermidades que grassam pela capital. Mas também pelo ideal de mobilização e de cidadania, características novas para a política e igualmente para a sociedade. Lisboa precisa dos novos conceitos de urbanismo e convivência, espaços públicos e espaços verdes para todos e para a cidade. Lisboa precisa de qualidade de vida. Lisboa precisa de pessoas que a habitem.
A reabilitação da cidade como um todo passa por novas políticas de habitação, mais expeditas e inclusivas. Reabilitar e rehabitar as dezenas de milhares de fogos vazios em Lisboa é uma prioridade absoluta. Mais do que de grandes bairros novos, a cidade precisa de "acupunctura urbana", ou seja, de intervenções pequenas e estratégicas.
Lisboa precisa de um projecto que a reabilite urbanamente e socialmente devolvendo aos munícipes o uso e fruição do espaço público aprazível e convidativo. A gestão urbanística tem de deixar de se subordinar aos interesse privados de alguns e passar a ser determinada pelo interesse comum e pela transparência de procedimentos e decisões.
Assim como a qualidade da vida urbana está cada vez mais ligada às oportunidades de desenvolvimento educativo e social que a cidade oferece aos seus habitantes. De certo modo, o novo modelo social europeu tem de se refundar à escala da cidade.
Lisboa precisa de um quotidiano mais fácil, onde os transportes públicos sejam mais acessíveis e eficientes, onde as pessoas com deficiência não sejam cidadãos de segunda, onde haja tempo e lugar para a vida familiar e para os amigos, onde haja menor solidão e onde seja agradável viver e conviver não é uma utopia.
As cidades que têm sucesso no contexto da globalização são as que tiram partido da sua história, do seu património, da vitalidade da sua cultura e se abrem à inovação científica, tecnológica, empresarial e social.
Lisboa urge possuir medidas necessárias para melhorar a qualidade ambiental de Lisboa, tendo em conta o conceito actual de sustentabilidade urbana, que envolve o ambiente, a qualidade de vida, a eficiência económica e a cidadania.
A participação está na ordem do dia. Os sistemas de governo local têm de incorporar a noção de governança, sinónimo de bom governo com o envolvimento dos interessados. Os métodos participativos têm de estar presentes em todas as fases do governo local. A descentralização para as freguesias é indissociável da participação.
Os novos desafios que se colocam a Lisboa exigem uma maior eficiência dos seus serviços municipais, o que implica processos de modernização, mobilização e racionalização de recursos humanos e técnicos que são urgentes. A mudança passa inevitavelmente por aqui.
Lisboa mudou. Mudaram os hábitos e ritmos de vida. Mudaram as redes de relações e os padrões familiares. Os novos lisboetas que nos demandam trazem consigo novas visões e novos problemas. É uma oportunidade histórica para uma cidade que está em perda demográfica.
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Victor Barreiras
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2007-07-11
The forgotten art of handwriting
Para quem como eu, sempre se pautou por trabalhar a letra e o prazer de, com uma caneta na mão, escrever, o uso do computador tem desvalorizado imenso esta habilidade.
Foi com muita curiosidade que li este excelente (mais um) texto de Robert Fisk, correspondente de guerra no Líbano, ao serviço do The Independent.
De facto, onde existirão hoje escritas elegantes e compostas, quando já nem cartas de amor resistem ao email? Lembramo-nos de ver as caligrafias de ilustres escritores, de escriturários, dos velhos professores e outras pessoas que cruzaram os nossos caminhos e invejávamos a refinada qualidade artística no acto de colocar palavras no papel.
Recordo-me do filme The Pillow Book de Peter Greenaway no qual a personagem principal Nagiko (Vivan Wu) inspirada na autora, Sei Shônagon, daquele famoso manuscrito medieval japonês, percorria o mundo à procura da escrita bela e extasiante - textos importantes nos alfabetos japonês, chinês, indiano eram escritos sobre o seu corpo num ritual erótico original, mas onde o alfabeto latino, em nada trabalhado como os outros, nunca lhe seduzira até encontrar Jerome (Ewan McGregor). A delicadeza e a profundidade dos nossos desejos mais íntimos, a descoberta da nossa identidade interior com a escrita como veículo, como Arte.
Foi com muita curiosidade que li este excelente (mais um) texto de Robert Fisk, correspondente de guerra no Líbano, ao serviço do The Independent.
De facto, onde existirão hoje escritas elegantes e compostas, quando já nem cartas de amor resistem ao email? Lembramo-nos de ver as caligrafias de ilustres escritores, de escriturários, dos velhos professores e outras pessoas que cruzaram os nossos caminhos e invejávamos a refinada qualidade artística no acto de colocar palavras no papel.
Recordo-me do filme The Pillow Book de Peter Greenaway no qual a personagem principal Nagiko (Vivan Wu) inspirada na autora, Sei Shônagon, daquele famoso manuscrito medieval japonês, percorria o mundo à procura da escrita bela e extasiante - textos importantes nos alfabetos japonês, chinês, indiano eram escritos sobre o seu corpo num ritual erótico original, mas onde o alfabeto latino, em nada trabalhado como os outros, nunca lhe seduzira até encontrar Jerome (Ewan McGregor). A delicadeza e a profundidade dos nossos desejos mais íntimos, a descoberta da nossa identidade interior com a escrita como veículo, como Arte.
2007-07-04
Lusofonia
A Lusofonia tem tanto de comum como de diverso, elementos apaixonantes que nos transformam numa comunidade única no mundo e onde todo o potencial não foi ainda explorado, nem tão pouco institucionalizado de forma coerente e forte (como a Commonwealth inglesa) através da CPLP. O elo comum é a língua, matriz para uma cultura suis generis que, na sua multiplicidade é um território de identificação invulgar. Restrito temos estado ao trinómio Portugal-Brasil-África, sinónimo de uma certa estranheza geral, apenas vivida por cada um, e quando mais abrangente, é-o pelo lado mais comercial vulgo menos criativo/qualitativo.
O século XXI tem permitido uma maior fusão de ideias, maior cruzamento de elementos, crescente actividade entre três territórios com muito mais ligação que o oceano que os separa. Vemos alguns escritores - destacando José Eduardo Agualusa e Mia Couto, entre muitos outros - e principalmente na música (lista imensa) e na dança, iniciado primeiro entre Brasil e África, depois Portugal com África, e finalmente Portugal com Brasil. Aos poucos vai havendo consciência de algo maior que a distância, onde "a língua é a minha pátria" é um valor imenso e inexplorado. Cabe aos agentes culturais fomentar o evoluir de uma identidade lusófona, onde a utopia política tem falhado. Esta espantosa diversidade com imensas bases comuns, tem muito mais que os signos sol, calor, cor, exotismo. Tem o idioma, a riqueza cultural, a mestiçagem, a alegria, um projecto novo, modernidade e cidadania, urbanidade e tradição, tem pessoas, uma ideia de irmandade.
O século XXI tem permitido uma maior fusão de ideias, maior cruzamento de elementos, crescente actividade entre três territórios com muito mais ligação que o oceano que os separa. Vemos alguns escritores - destacando José Eduardo Agualusa e Mia Couto, entre muitos outros - e principalmente na música (lista imensa) e na dança, iniciado primeiro entre Brasil e África, depois Portugal com África, e finalmente Portugal com Brasil. Aos poucos vai havendo consciência de algo maior que a distância, onde "a língua é a minha pátria" é um valor imenso e inexplorado. Cabe aos agentes culturais fomentar o evoluir de uma identidade lusófona, onde a utopia política tem falhado. Esta espantosa diversidade com imensas bases comuns, tem muito mais que os signos sol, calor, cor, exotismo. Tem o idioma, a riqueza cultural, a mestiçagem, a alegria, um projecto novo, modernidade e cidadania, urbanidade e tradição, tem pessoas, uma ideia de irmandade.
2007-07-02
Threat within
O longo e atribulado fim-de-semana no Reino Unido demonstra - ao público em geral - como o inimigo não dorme. Apesar de que esses "inimigos" serem muitas vezes parte integrante da sociedade. E não há que espantar quando se descobre que alguns deles são médicos, apesar da verdaderia função que lhes incumbe - salvar vidas, não terminá-as. O ressentimento ignóbil e atroz atravessa tudo tornando-se ideologia cada vez mais inteligente e sarcástica. Todos os movimentos terroristas europeus dos anos 60 e 70 eram liderados por intelectuais, bem cientes da sua posição, bem claro quanto aos seus objectivos, onde qualquer meio se justificava para atingi-los. Terror é medo, e o medo instala-se sejam os atentados cumpridos ou falhados, o medo mantém-se cruel quando a ameaça não tem rosto, mas esse rosto vive entre nós.
Gordon Brown é herdeiro (involuntário?) desta luta. Blair legou-lhe muitas coisas, mas a ameaça sobre Britain é a maior. O início do seu governo foi "baptizado" por uma estratégia, não de todo surpreendente, mas por si só revelador de quão perigoso vivemos sob terrorismo do séc.XXI. São duros reveses na estabilidade da sociedade, podem ser o (re)início de fatais pregos para a democracia em nome da segurança. E isso é uma das vitórias dos radicais. Mas o falhanço destes atentados é uma vitória nossa, e sê-lo-á enquanto a preserverança dos valores democráticos e humanos forem as guidelines da civilização.
2007-07-01
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