2007-06-21

Ordem nisto

Sim, é necessário regulamentar. Sim, é imperativo unir. Sim, é imprescindível criar normas deontológicas e éticas. Falta pôr tudo isto em ordem. Falta criar uma Ordem. Ao longo de anos os designers portugueses têm laborado de costas voltadas uns para os outros, mais no receio da concorrência do que na frontalidade de defender a sua profissão; e cada vez mais na sobrevivência num mercado a cada ano mais feroz e deprimente, do que na união de esforços para vencer as batalhas da competitividade. O 1º Encontro de Empresas de Design veio abertamente colocar em cima da mesa aspectos importantes da nossa actividade profissional - os concursos, a concorrência desleal, a natureza do mercado - que todos os dias enfrentamos e suamos, sem muitas vezes obter o devido valor e reconhecimento. Vendemos ideias, trabalhamos conceitos, propomos estratégias, muito para além do nosso ego (o que erradas vezes é sugerido), mas com toda a dedicação, envolvimento e energia ao serviço do nosso cliente, por conseguinte do mercado, para a sociedade, para o ambiente, para a funcionalidade, e last but not least para o bem da economia e do desenvolvimento. Todo o tempo dispendido é valor, todo o processo criativo é valor, toda a estratégia desenvolvida é valor. Mesmo hoje, quando finalmente se olha para o design como elemento potenciador da economia, e com o boom do branding, da melhor compreensão da imagem e da cultura, mesmo assim ainda observamos que o nosso trabalho não é devidamente dignificado. E porquê? Podemos retomar a velha questão dos défices de cultura visual e educacional, dos défices de cultura e visão empresariais, do défice da nossa economia. Sim, são factores muito importantes, condicionantes e irritantes. Mas existem meios ao nosso alcance para, no mínimo contornar estes problemas. Com legislação, normas, preceitos, e objectivos que defendam a profissão do designer e o trabalho de design e branding. No fim de contas é disso que se trata, aprovar e constituir de vez o que tantas outras profissões têm: uma Ordem. Num país que sofre de desorganização crónica, que tanto nós designers combatemos, até nisso temos vindo a ser, não vítimas, mas sim prevaricadores. Lutar pelos nossos direitos é tão legítimo como para qualquer outro trabalhador. Não defendo sindicatos ou corporativismos, longe disso. É assumir que é urgente discutir - para avançar - o que as associações de designers nacionais ainda não fizeram valer em quatro décadas desta actividade em Portugal. É também construir pontes credíveis entre o mercado e as universidades, é dignificar e regulamentar o exercício desta profissão, é assumir com coragem que o design é uma ferramenta estratégica para o bem da economia e da nação. Só então poderemos trabalhar em igualdade, dignidade e respeito.