2009-10-08

Pela mudança



Há cidades que definham há vários anos. Mas em eleições autárquicas sucessivas não sei se ignorância, desleixo ou simples não visão de uma maioria de eleitores, os mesmos ganham sempre. Não se pode afirmar que nada fizeram - fazem o básico, o quase indispensável, entre algumas "glórias" graças a comparticipações extras via Estado ou União Europeia. Contudo em várias cidades com as quais tenho contacto directo não se vislumbra um rumo, uma ideia global. Não há um plano. Não se vislumbra um projecto. Não se entende que ideia têm autarcas e, por vezes até a oposição, para as suas cidades e concelhos. Não há harmonia, nem equilíbrio. Muito se tem feito sem nexo, onde cada solução aplicada nunca se insere num todo coerente. As cidades tornam-se incoerentes.

Bairros que surgem quase como cogumelos. Estradas que abrem caminhos sem contornos globais de uma eficaz rede viária e definidora de mais um futuro bloco habitacional sem vida nem graça, sem espaço verde (que, existindo, nunca vai para além de centímetros de relva) nem espaço vivencial. Equipamentos públicos edificados ao sabor de dinheiros comunitários, ou rivalidades com municípios vizinhos, ou pela proximidade de festividades, ou actos eleitorais. Esses mesmos equipamentos implantados sem eficaz leitura do local, sem consistência com o meio que o rodeia - seja pelo deficiente estacionamento, seja pelo enquadramento urbanístico e arquitectónico, sempre tudo fora de um contexto mais global que, repito, não existe. Intervenções localizadas, desconexas ou inconsequentes, dão uma imagem confusa ou mesmo inexistente da cidade.


Isto aplica-se a Leiria e Caldas da Rainha, como por ventura a tantas outras cidades e vilas de Portugal.

Não se entendem ideias de desenvolvimento. Não há uma imagem, uma Marca. Perde-se o glamour de outrora, perde-se o encanto que as tornavam especialmente únicas no país.


Caldas não tem espaços de fruição e valorização, não existem locais aprazíveis e convidativos. Caldas não tem qualidade urbanística, arquitectónica e, por conseguinte, não tem coesão na estrutura da utilização social da cidade.

Leiria graças ao Polis viu a beira-rio tornar-se num local fabuloso. Mas tem um Centro Histórico fantástico que continua parado à espera de rejuvenescer. E Leiria adiou de novo uma oportunidade de uma revolução urbana, com o fim dos projectos MaisLeiria e FórumLeiria. O "malfadado" Estádio continua a onerar demasiado.

Há "empecilhos" fora da responsabilidade das Câmaras que impedem e condicionam projectos ou ideias de revalorização. Em Leiria temos por exemplo a N1/IC2. Nas Caldas há um "Vaticano" chamado Centro Hospitalar que detém esse ex-líbris fabuloso que é a Mata e o Parque D. Carlos e o Hospital Termal.



Ambas não têm clarividência de pensar a cidade para o futuro. Não têm conseguido demonstrar atitudes renovadoras e alternativas, sejam estratégicas, sejam políticas.

De novo Óbidos regressa como um exemplo claro (e fácil) de como tirar partido das virtudes que a compõem. Mas Leiria tem um potencial de revitalização enorme, muito mais que Caldas.


Acredito que uma "revolução" urbana e estrutural em ambas as cidades, sobre esses elementos, são pontos-chave para renovar e melhorar. Claro que tais mudanças nunca se farão sem a vontade das diversas entidades envolvidas. Mas até agora, carece também a clarividência de todos de pensar a cidade para o futuro.

O essencial é isso - pensar a cidade - o que queremos e o que devemos ter e ser. As cidades são formas vivas. Não se socorrem apenas de um equipamento que há muito faltava. As cidades são compostas por pessoas, cidadãos. Funcionam como um todo e para funcionarem bem necessitam obviamente de bons acessos, equipamentos técnicos, sociais e culturais, espaços públicos e espaços verdes de usufruto verdadeiro. Condições materiais e imateriais que ofereçam boas razões para morar, trabalhar e visitar.

O legado histórico de ambos, seja a fundação, o século XIX e a décadas de 1940 e 1950 não merecem o menosprezo que têm sofrido. O respeito pelo passado passa por preservar para o futuro com ideias consistentes que tragam retorno e valorização.


O trabalho não é mostrar o que uma cidade pode ser não o sendo.

Repito o que anteriormente escrevi:


As cidades do futuro não são projecções futuristas, irrealistas ou utópicas. A cidade de amanhã deve ser fundada sobre os valores que dela fizeram algo especial - a história, a cultura, a economia - em conjugação com o equilíbrio e a originalidade; na inclusão da diferença e o respeito pela natureza; numa reestruturação urbana e arquitectónica combinada com verdadeiros espaços verdes, vias de comunicação e equipamento habitacional e público em concordância com o espaço que a rodeia, eliminado a ocupação desordenada do território; reduzir elementos factores de poluição. Ou seja, pensada e trabalhada por técnicos e políticos, com profissionalismo, dignidade e ética, empenhados em contribuir para a comunidade.


Uma cidade tem uma imagem a defender, a preservar, a projectar. As novas urbes do século XXI não sobreviverão sem um plano estratégico que não seja atractivo, de desenvolvimento, e coerência sustentáveis. Necessita de uma identidade própria que a defina - encontrar boas razões para que as pessoas tenham um sentimento de pertença e orgulho; evidenciar nos planos social, económico, cultural e regional a construção de um conceito de Place Branding - ou Marca Local. Este pressupõe analisar factos e problemas existentes, pensar soluções de desenvolvimento, elaborar conceitos alternativos e criativos que, assente na realidade dessa mesma cidade ou região, possam dotar o local com factores e eventos de competitividade e appeal, para habitantes, negócio e turismo, assente em valores de confiança, prestígio, cidadania e solidariedade. A cidade deve evidenciar as suas potencialidades e solucionar as suas debilidades. Promover a participação dos cidadãos nos aspectos político e social, de discussão pública, de responsabilização colectiva.



Por isso, em ambas as cidades - Leiria e Caldas da Rainha - para começar a mudança, o voto é nas candidaturas PS.

E o mesmo se aplica a Lisboa (António Costa + Helena Roseta + José Sá Fernandes) e Porto (Elisa Ferreira).

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