2009-02-05

Netanyahu não é Obama


www.netanyahu.org.il


Este é um assunto híbrido. Design e política cruzam-se num contexto que pode definir os tempos mais próximos.

Todo o conceito ideológico - se assim podemos designar - e de design presente na campanha presidencial de Barack Obama (ver renovado site da Casa Branca) tem sido replicado de uma forma ou de outra, pelo espírito da ideia e pela dimensão estratégica (comercial, diga-se) da esperança desde as eleições em Novembro passado.
Agora chegou o "aproveitamento" político. Em Israel haverá eleições daqui a cinco dias (terça, 10 de Fevereiro), e três partidos degladiam-se para ganhar. O Kadima (centro, actualmente no poder), o Labour (trabalhista, coligado com o Kadima) e o Likud (direita). Benyamin Netanyahu, líder do partido de direita Likud, apresenta um site em tudo semelhante ao da campanha de Obama. Tem o seu nome (aqui em inglês), o grafismo é idêntico, a estrutura e os suportes web 2.0 idem. Quanto à mensagem, Netanyahu transmite valores próprios da direita conservadora, alicerçada nos eternos dogmas conservadores de um Israel forte e seguro - "Strong Leadership for Israel's Security and Economy" -, duro contra os seus inimigos que, nas suas acções terroristas beneficiam exponencialmente a candidatura do Likud.
Foi assim em 1996 nas eleições convocadas após o assassinato de Yitzhak Rabin em Novembro de 1995 - nas semanas entre estes dois eventos, o movimento Hezbollah perpretou diversos atentados que levou Shimon Peres a perder para... Benyamin Netanyahu. Os extremos tocam-se, e os interesses de dois lados tão antagónicos podem facilmente conciliar-se para uma vitória conservadora.

A forma da mensagem pega num conceito inovador, apelativo e, mais importante, vencedor. Contudo, Netanyahu não é Obama. O que ele é em nada beneficia a política israelita, sendo mesmo um retrocesso. Pela agressividade das suas políticas e palavras, pela constância da sua intolerância, pela intransigência contra planos para a paz. Israel vive desde que nasceu em permanente estado de emergência, seja pela ameaça de Estados ou organizações que desejam a sua aniquilação. A premissa da defesa territorial e sua população é um direito que assiste a Israel, mas as acções punitivas não trarão a paz, a reconciliação e o equilíbrio para a região. A possível vitória do Likud de Netanyahu, observando o exemplo de há 13 anos não augura um futuro melhor. Mas, sendo o único país democrático do Médio Oriente, Israel tem assisstido a alternância. No entanto sucumbe a uma luta de poder onde quer o Kadima (à procura da legitimidade como verdadeiro partido alternativo, com Tipzi Livni como líder), quer o fragilizado líder do Labour Ehud Barak (Primeiro-Ministro que retirou do sul do Líbano e de Gaza, mas que agora foi o Ministro da Defesa responsável pela intervenção de Dezembro) ficarão sempre dependentes - se não mesmo reféns - dos pequenos partidos, alguns deles de alas extremistas. Como é habitual na política hebraica.

Então qual a mensagem de esperança exposta na programa político de Netanyahu? Nenhuma.


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Comentário de Silvino Silva:

Gostei do artigo sobre Israel mas, efectivamente, o que se está a passar não é novidade nenhuma para mim, que acompanho e sempre acompanhei e li sobre o assunto.
E é sempre assim, a existência dum extremo só se justifica pela presença de outro; é essa a energia motora da direita israelita, assim como das forças extremistas muçulmanas. Se um dos extremismos desaparecesse, rapidamente o outro se evaporaria, por ficar esvaziado o sentido da sua existência.
"Então qual a mensagem de esperança exposta na programa político de Netanyahu? Nenhuma."
Mas a mesma pergunta se pode fazer para os programas políticos muçulmanos... Onde está a esperança duma conciliação? Se não passar pela destruição de Israel então não serve nos meios políticos islamitas - porque não dará votos.
Não deixa de ser curioso que são, precisamente, ambos povos semitas, e que inclusivamente as duas línguas (hebraico e árabe) têm fonemas bastante parecidos, guturais, ainda que o tipo de escrita seja muito diferente. Pode-se dizer que, do ponto de vista histórico, são quase "irmãos desavindos", que nunca se entenderam bem. O irmão mais velho - o povo hebreu, que por isso mesmo reclama os seus direitos - e o irmão mais novo, surgido apenas de forma expressa nos séculos VI e VII, quando do início da Islamização fulminante e notável de grande parte do mundo.

A esperança talvez esteja numa nova política norte-americana, capaz de arrastar atrás outros líderes mundiais, embora eu não acredite muito nisso. E talvez pressões de líderes da América Latina (nomeadamente do Brasil, pois as comunidades muçulmana e judaica são numerosas por aqui), da Europa (quando ela se apresentar com a unidade interna suficientemente forte para tomar uma decisão a uma só voz), dos países muçulmanos (nomeadamente os mais radicais), e talvez da Índia e da China, porque não chamá-los a participar na resolução dos problemas desta "aldeia global".
Eu acredito que o conflito só tem uma solução possível, a criação dum país capaz de albergar judeus e árabes todos juntos, sob a égide das Nações Unidas, em que o mundo os obrigue a entenderem-se numa mesma "casa", e onde o acesso às cidades simbólicas e historicamente importantes para ambas as religiões possa ser possível de forma livre e segura, além do acesso aos recursos hídricos, tão importantes na região pela sua escassez. Além disso, tem naturalmente de passar pela desmilitarização de ambas as sociedades, e o fim das interferências externas, com a salvaguarda da manutenção dum parlamento que tenha 50% de judeus e 50% de muçulmanos (claro que esta ideia é muita mais difícil de aceitar pelos árabes, dado que o seu número é muito maior). Será possível? Não me parece que venha a acontecer enquanto eu for vivo.
O que é certo é que, na Terra Santa, historicamente a ténue paz só foi possível sempre que houve uma força poderosa estranha capaz de ter mão nos dois lados (e ainda assim sujeita a numerosas revoltas); assim se passou nos impérios pré-clássicos (assírio, babilónio, ...), no Império Romano e no Império Otomano, e foi possível haver prosperidade nessas épocas, sobretudo pela localização geográfico-estratégica da região.

Enquanto não surgir essa força quase paternal capaz de pôr os "putos" (o povo judaico e as comunidades muçulmanas) na ordem continuaremos a assistir a ciclos conflituais e períodos de acalmia pouco significativos. E, sobretudo, violência e morte.


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