2006-12-29

Kofi Anan



Existem aquelas pessoas pelo qual nutrimos um ódio de estimação - e vários se podem referenciar, de hoje mas também de ontem - que se tornam presentes na realidade dos dias, de forma por vezes ofuscante, até com um certo e estranho orgulho nesse sentimento. Contudo, muitas vezes se esquece daqueles que pelo Bem e para o Bem têm ou tiveram uma vida e trabalho de esforço e dedicação, sem pensar na glória ou no heroísmo. Mas por isso mesmo eles se tornam, à sua medida, à nossa peculiar medida, heróis e gloriosos. Esquecemo-nos rapidamente dos de hoje, depois dos que já há muitos pereceram, e apenas os podemos encontrar nas enciclopédias, livros ou no Wikipedia. A eles devemos muito, directa ou indirectamente, local ou globalmente.

Um desses indivíduos é Kofi Anan, Secretário-Geral das Nações Unidas. Chega agora ao fim o seu (duplo) mandato à frente da ONU, e aproveitando esta hora de despedida creio ser da mais elementar justiça esboçar aqui o meu agradecimento, respeito e admiração. Discreto, mas resoluto, acreditando profundamente na justiça e na verdade. Um Homem de Paz, um homem bom.

O fim da Guerra Fria trouxe novas esperanças e este senhor ganês, funcionário da ONU há décadas, esforçou-se para reformar e renovar a organização de modo a ajustar-se à Nova Ordem Mundial e a sua natural missão humanitária. Conseguiu a auto-determinação de Timor (no qual apostou muito), e tantos outros esforços e sucessos que trouxeram ao Secretário-Geral e à ONU o Prémio Nobel da Paz em 2001. Contudo o mundo mudou imprevisivelmente a partir de 11 Setembro de 2001 e com a Adminstração Bush. Ultrapassado pelos interesses de vários membros do Conselho de Segurança, o início de insucessos e falhanços sucederam-se. A Reforma não foi completada, a importância estratégica para a paz e o desenvolvimento mundial através do Plano Milénio não foi ainda bem implementada.

Hoje, a Nova Ordem Mundial é absolutamente diferente do que se imaginava, mais inseguro e mais imprevisível. Mais do que nunca o papel da ONU é imprescindível. Crescentemente crítico do imperialismo americano - pelo falhanço da reforma, pela desvalorização do importante papel para a paz da ONU - o seu último discurso, intitulado Cinco Lições é um importante documento para o futuro. O legado de Kofi Anan é um precioso auxílio ao trabalho do seu sucessor.
Obrigado Bapi.