No passado dia 16 tive o previlégio de assistir ao concerto dos Sigur Rós.
Um espectáculo fabuloso, onde as suas músicas ganharam realmente a dimensão que merecem.
Segue texto de Pedro Marques - cortesia RDB.
Oito meses depois da actuação sublime da banda islandesa no Coliseu dos Recreios, os Sigur Rós voltaram ao nosso país para encerrar a digressão mundial que levou "Takk" aos quatro cantos do mundo. Ao contrário da actuação memorável de dia 20 de Novembro do ano passado, onde conseguiram esgotar o Coliseu, a banda conseguiu "apenas" ter "meia casa" num pavilhão dividido ao meio. Mesmo actuando num cenário que, para algumas bandas poderia ser adverso, os Sigur Rós mostraram mais uma vez toda a sua qualidade e profissionalismo, terminando em total apoteose com o público rendido à sonoridade dos islandeses.
Em condições "normais", um concerto dos Sigur Rós em Lisboa teria sempre casa cheia. A banda islandesa é um daqueles fenómenos que se intromete nos tops de vendas nacionais entre as bandas sonoras dos Morangos com Açúcar e o último disco do Tony Carreira. Mas, no Domingo, dia 16 de Julho, o quadro não foi o mais favorável. Um dia com temperaturas de 38º em Lisboa, que levou milhares de pessoas para a praia e que convidava a uma noite numa qualquer esplanada, uma agenda de concertos rica em motivos de interesse, os festivais de Verão cada vez mais perto e um budget cada vez mais apertado, podem explicar uma afluência de público menor do que a esperada. Nada que atormentasse a "pequena orquestra" islandesa, que transformou o pavilhão Atlântico no local mais convidativo para preencher um serão de Domingo de Verão.
Tal como tinha acontecido em Novembro, a primeira parte do espectáculo ficou a cargo das amigas e colaboradoras da banda islandesa, as Amiina (parece que colocaram mais um “i” no nome para não serem confundidas com um outro projecto), um quarteto de cordas capazes de embalar o mais desprevenido. A curta actuação foi suficiente para preparar o terreno para mais um excelente concerto dos Sigur Rós em Portugal.
O alinhamento foi praticamente o mesmo que apresentaram no Coliseu dos Recreios. «Glósóli» foi mais uma vez o tema escolhido para musicar as imagens projectadas para a tela que encobria a banda e serviu de "pontapé de saída" para mais uma noite mágica da responsabilidade dos músicos que vieram do norte da Europa.
Uma das maiores virtudes dos Sigur Rós ao vivo é a forma como conseguem elevar a sua música a uma dimensão ainda maior do que aquela registada em disco. Os diferentes arranjos, os interlúdios que fazem a ponte perfeita entre temas, a, aparentemente ingénua, presença em palco e a espontaneidade e capacidade de explosão, tornam os Sigur Rós numa banda única. Se aliarmos a tudo isso a qualidade acima da média dos músicos e temas, as suas actuações praticamente atingem o cume da genialidade.
Viajando entre "Ágætis Byrjun", o disco que os deu a conhecer ao mundo e "Takk", a actuação dos islandeses não comprometeu minimamente a sua última passagem pelo Coliseu. Foram apresentadas praticamente todas as faixas do seu último trabalho, com destaque especial para «Hoppipolla», a mais acalorada pelo público; «Sé Lest», com a entrada em palco do conjunto de sopro (onde o trombone foi o rei) e «Svo Hljótt», um dos temas mais arrepiantes ao vivo.
Após uma curta passagem pelo backstage e perante uma calorosa ovação, houve ainda tempo para um final em total apoteose com a única passagem por ( ) em todo o concerto. «Popplagið», nome habitualmente atribuído à oitava faixa desse misterioso disco, encerrou da melhor forma a actuação dos islandeses. Tal como em Novembro, no Coliseu, entrou devagar e triste para se transformar numa peça nervosa, quase brutal, com dez minutos de duração e que levou as duas mil pessoas presentes a um estado único de devoção, culminando numa enorme ovação e um mútuo obrigado, com todos os elementos da banda e respectivos "grupos" de cordas e sopro em palco, em sucessivas vénias, tendo como pano de fundo um enorme “Takk”.
Embora tenham ficado de lado dois temas que em Novembro quase fizeram levitar o Coliseu: «Hafsól» e «Nkósnavélin», a quarta faixa de ( ), os Sigur Rós provaram que a "falta de qualidade" do som do Atlântico é culpa das bandas que lá actuam e que não existe uma estação do ano especial para ouvir os islandeses. Seja Verão ou Inverno, os Sigur Rós são uma das bandas da actualidade mais interessantes em disco e especialmente ao vivo.
Mais uma vez ... Obrigado!
Texto por Pedro Marques - RuadeBaixo.comFoto por Marisa Cardoso
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