2006-07-25

Angola



Um ano depois do meu regresso à terra-mãe, agora é a vez da minha mulher. Passados 31 anos. Pois é, de forma supreendente fomos convidados a visitar Angola. Após 3 vacinas mais medicação preventiva (febre amarela, malária, hepatite A e tétano) partimos quinta às 22h para um vôo de oito penosas horas até Luanda e depois cerca de duas em ligação regional até Lubango, 1220 km para sul, local onde toda a família agora se encontra.

Lubango (ex-Sá da Bandeira), capital da província da Huíla, é a cidade do sul com maior desenvolvimento, que conseguiu ao máximo fugir à guerra civil, distando 200 da costa (cidade costeira directa é Namibe). É curiosamente onde mais brancos existem - afinal foi fundada por uma colónia de madeirenses em 1885. A família é originária do Huambo (e da cidade modernista que era Nova Lisboa), província vizinha a norte e fustigadíssima pelo conflito UNITA-MPLA ao longo de 30 anos, e particularmente em 1992, na chamada Guerra das Cidades ocorrida após as únicas eleições. Encontrarei edifícios de linha modernista internacional, abundantemente produzida nas ex-colónias, avenidas largas e desenhos urbanísticos planificados, construções de estilo colonial, mas igualmente as precárias e as tenebrosas. Cidades e vilas perdidas pela miséria e o infortúnio. E com a ideia que falta fazer muito por lá, e uma vez terminada a guerra, Angola tornou-se na "terra da oportunidade" (para os empresários, claro).
Neste momento é inverno, logo não vou para a brasa, nem tão pouco para a praia (200 km).

Desde sempre com interesse pelo continente, em particular pela África Negra, o fascínio foi aumentando ao longo do conhecimento, e exponenciado pela minha mulher - minha mulatinha cabrita - e pela estada em Cabo Verde. Existe agora a oportunidade de, absolutamente fora do cliché branco-ocidental, ou do esteriótipo colonialista, entre 10 a 15 dias, sentir, respirar e ver terra africana, abraçarmos a imensidão desta terra mítica, a beleza da sua natureza, as suas deslumbrantes paisagens. Mas vou consciente das dificuldades que irei encontrar, das assimetrias sociais e económicas (não tão gritantes como em Luanda), da precaridade das infraestrutruras. Estou preparado para as ocasionais falhas de energia, para as estradas ruins e longas. Ficarei bem mais perto que das parcas notícias que chegam à Europa. Vamos ver um outro mundo, outra cultura, calmo e imenso, simples e desfalcado, belo e intolerável.

[Na imagem: planalto e Tundavala]