2004-10-29

Europa

Hoje é um dos dias mais importantes da história da construção europeia. É assinado em Roma o Tratado Constitucional da União Europeia, um marco importantíssimo para o futuro do continente e dos seus cidadãos. Europeísta convicto, apoiante de um sistema híbrido de Federação de Nações, e não de união federal de estados ou associação de nações, a relevância deste passo em frente para a unidade, desenvolvimento e solidariedade pan-europeia é enorme. A construção europeia visa também reforçar os ideais de democracia, e valorizar a potencialidade da UE enquanto grupo político, económico e cultural.

No entanto, os cidadãos, que tal como os seus governantes apoiam a participação no projecto europeu, continuam um pouco a leste do que se passa em Bruxelas/Estrasburgo, quer no Parlamento Europeu, quer na Comissão Europeia, quer nas decisões dos Conselhos de Ministros. A culpa poderá atribuir-se aos próprios políticos, que nos seus paises se divertem com coisas banais, e não elucidam sobre a verdadeira missão europeia. Mas também da comunicação social, que não dá o devido destaque aos assuntos europeus. Quanto mais desenvolvida e rica uma sociedade, mais os cidadãos se afastam da política. Mas hoje, mais do que nunca, e com este Tratado Constitucional a condicionar o futuro da União, as decisões e estratégias vindas de Bruxelas reflectem-se sobre todos os seus estados-membros com mais intensidade.

Por isso é muito importante o debate e o esclarecimento sobre a Europa, ainda para mais que no próximo ano, nós portugueses vamos referendar o Tratado. O TC pode ter falhas, mas é muito mais vantajoso para todos que seja aprovado do que ser rejeitado. Isso seria um sério revés para o projecto europeu.

Contra Bush

Pode parecer muito, mas o futuro do mundo dos próximos anos estará em jogo na próxima terça-feira. Infelizmente, o destino de uma nação, é o destino do mundo, e nós, deste lado, olhamos a realidade política americana sem nela poder interferir. Não é que desejava ser americano, orgulho-me de ser europeu, mas a Presidência dos EUA tomou tais proporções nas orientações e aspectos planetários, que muita gente podia achar pertinente votar para as eleições. E se pudesse, optava pela decisão mais sábia, mais óbvia, mais segura: votando John Kerry, derrotando George W Bush.

A Administração Bush (que não venceu as eleições, mas o sistema eleitoral americano é invulgar ainda para mais com as suspeitosas fraudes na Florida) nestes últimos quatro anos destruiu tudo aquilo que a Administração Clinton construiu em oito anos. De um país próspero (nos últimos anos teve lucro!), aberto e colaborador, respeitado e positivamente influente (os Acordos de Paz Israel-Palestina em 1993), "Wrong" Bush transformou os EUA para uma nação deficitária, numa economia de interresses pessoais e de guerra, unilateral, incumpridor de tratados internacionais (Tribunal Penal Internacional, Protocolo de Quioto), odiado e desprezado, amedrontando o mundo com o seu poderio e ambição hegemónica político-económico-militar. Transformando uma democracia em proto-ditadura. É certo que terroristas há muito preparavam atentados vários tais como o 11 Setembro 2001, mas o ódio anti-americano sentido há muitas décadas, em particular entre fundamentalistas do Médio Oriente, agudizou-se com o actual governo nas suas mais diversas acções, colocando a Humanidade sob outra ameaça.

Recordam-se das centenas de manifestações que houve por todo o mundo antes da ilegal intervenção no Iraque? A contestação continua. A ilegalidade foi confirmada - não havia armas de destruição maciça, nem campos de protecção à Al-Qaeda - e o Iraque transformou-se num barril de pólvora cada vez mais explosivo. Agora sim, o território iraquiano (explorado e desprezado simultaneamente pelos americanos - afinal havia dúvidas?) é ponta-de-lança da intervenção da Al-Qaeda. As políticas americanas levaram a respostas horrendas por parte dos terroristas. O assassinato do homem-bom que era Sérgio Vieira de Mello pode-se atribuir a tudo isto. Madrid 11 Março 2004.
Clinton ia sendo exonerado por ter mentido à mulher e à Justiça sobre uma relação sexual. Bush mentiu à Humanidade inteira para desencadear uma guerra. E com isso provocou milhares de mortos inocentes, raptos e execuções terroristas, dinheiro desperdiçado, economia global em crise.

Mas quanto às políticas nacionais, apesar de muitos americanos não verem (para além de muitos fazerem uma imagem idílica - ignorante - da presença americana no mundo) o páis enfrenta dificuldades várias. O défice que subiu astronomicamente (por causa da guerra), os cortes nas políticas sociais da era Clinton (há cada vez mais pobres extremos), a submissão aos interesses económicos de empresas nacionais (algumas com ganhos significativos via guerra no Iraque) contra a qualidade social dos cidadãos e contra a natureza, a obsessão securitária e diminuição - subtil - dos direitos de liberdade e garantia dos cidadãos. O controlo e influência sobre os meios de comunicação social - em particular a visão governamental bastante difundida no primeiro mês da intervenção iraquiana. Estes erros pagam-se caro, e será no futuro que estas facturas serão apresentadas, mas ninguem se lembra disso. O ódio anti-americano agudizou-se, e criou tambem um generalizado ódio anti-Bush.

Se Bush ganhar, estas políticas continuarão. E opositores como Bin Laden terão motivos ainda maiores para destruir o nosso estilo de vida. Se não houver inteligência, as políticas ambientais ficarão de novo adiadas, e o planeta em maus lençóis - cada vez mais se vêem situações como no filme "O Dia depois de Amanhã"... O desinteresse pela pobreza, fome e guerra em África e na América Latina continuarão. Os interesses económicos continuarão a sobrepôr-se. O conflito israelo-palestiniano - origem de muitos conflitos regionais e deste ódio contra os americanos - permanecerá. Continuaremos sempre a viver no medo, em guerras localizadas com terríveis impactos mundiais, recessões que matam recuperações...

Kerry poderá não ser melhor que Bush, mas deste último sabemos que nada melhor virá. Por princípio o Partido Democrata (liberal) é menos pró-guerra que o Partido Republicano (conservdor), e se Kerry, baseado na sua experiência, virtudes e ideias, respeitando o ideário e conquistas de Bill Clinton, dias melhores virão. Esperemos que os americanos pensem como os europeus e restantes povos e votem maioritariamente em Kerry. Contra Bush.

2004-10-25

Blog links

Como sempre, vou descobrindo novos sites e novos blogs de vários assuntos e ideias. Mas estes três prendem diariamente a minha atenção. Constam da lista de links neste blog. Recomendo-os vivamente.

universos desfeitos
conversas escritas
a barriga de um arquitecto

2004-10-20

Que horizonte?

Chegámos a um periodo da nossa história no qual as incertezas dominam o nosso horizonte. À parte toda a evolução e desenvolvimento das nossas (ocidentais) sociedades, a sustentabilidade do planeta continua deveras instável e constantemente em perigo. Vem aí o fim dos tempos?

É o projecto Europeu que caminha desligado dos cidadãos. A interminável questão israelo-palestiniana, problema-solução de diversos conflitos e atritos. A ilegalidade da intervenção no Iraque. O ameaça constante da Al-Qaeda. A ineficaz e desrespeitada ONU. A eterna fome e guerras em África. As pobrezas e desiguladades na América Latina. A tragédia de Darfur continuamente trágica. A destruição das florestas húmidas. A proto-ditadura dissimulada de pseudo-democracia nos EUA, na Rússia, na China. O governo Santana/Portas que olha mais para o seu umbigo e para os media do que para as reais necessidades deste país. É (alguma, mas mais consumida) comunicação social que se debruça enjoativamente sobre futilidades e inutilidades e dramas humanos exaustivamente abordados.
Os interesses materiais, imediatos e pessoais, sobrepõem-se aos interesses colectivos dos cidadãos e da natureza. O desrespeito pelos valores da Revolução Francesa, o desprezo pela Carta das Nações Unidas, o esquecimento dos ideais do 25 Abril, são reflexo da mesquinhez individual e do poder que os líderes/administrações políticas e económicas possuem.

Dir-me-ão que ainda existem coisas belas no mundo, para não ser pessimista. Concordo inteiramente. O planeta é extraordinário. Já repararam na excelência do design, por exemplo, das frutas? As formas, as soluções, as cores? Pensem na banana, na laranja, no côco. Deliciem-se com as belezas das milhares de orquideas que existem, e da imponência dos embondeiros. O espanto que são os crocodilos, os elefantes, os falcões. A inteligência, ainda por explorar mais, dos golfinhos e das baleias. A variedade supra-maravilhosa das paisagens naturais como Uluru na Austrália, as quedas do Niagara, as estepes da Sibéria, o Serengueti, o Gerês. A valiossísima riqueza e legados históricos e artísticos dos nossos antepassados, tais como as civilizações Egípcia, Azteca, Polinésia, Chinesa, Europeia, Islâmica. A variedade da criação artística actual. As maravilhas do avanço (positivo) da ciência e da tecnologia.

Como vêem motivos não faltam. Mas a realidade actual doi. É o futuro do nosso mundo, nas suas espantosas diversidades que está em causa.
Que horizonte queremos? Que horizonte teremos?

2004-10-14

Soho Lounge Café



©2004. Trabalho realizado em parceria.

2004-10-07

Censura II

Comentários sobre a censura ao Prof.Marcelo Rebelo de Sousa

Público:
Editorial: "Ainda mal começou...", José Manuel Fernandes
"A resposta da fraqueza", Pacheco Pereira
"Contraditório", Eduardo Prado Coelho

Canal/Jornal de Negócios:
"O inimigo principal", Fernando Sobral

Diario Digital
"Marcelo e as 'ondas de paixão'", Clara Ferreira Alves

Expresso online
"Democracia a saque", José António Lima

Censura

Ressurgiu do vale dos mortos um ser maléfico que deixa um rasto de tom azul por onde passa. Ontem a vítima foi o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, e a própria TVI - que apesar do que os accionistas pretendem, também a estação fica beliscada.

Este acto proto-censório é verdadeiramente intolerável e inconcebível num governo de um estado de direito democrático. Estas suspeitas, que todos os quadrantes da sociedade e da política sentem, é de uma gravidade tal, que se torna absolutamente necessário o apuramento da verdade.

Numa incredulidade colectiva, o país assistiu a mais uma actuação arrogante, prepotente e descarada deste pseudo-governo, que cada vez mais caminha para o abismo, e com ele arrasta Portugal. Onde o regresso à luz se avizinha já quase como uma mitologia à espera de um Messias.
E no entanto, depois do que se viu com o barco do aborto, acaba por não ser tão espantoso...
Como Pacheco Pereira escreveu sobre este assunto: "Isto está pior do que se imaginava, e eu sempre o imaginei muito mal".