Há doze anos atrás, na melhor livraria das Caldas da Rainha - Livraria 107 - tive o privilégio de ter à minha frente José Saramago. Não sou tipo de valorizar ou obter autógrafos, mas acontece que o único que tenho é dele. Nestas ocasiões raramente surgem as palavras adequadas para se dizer, mas gostaria de lhe ter dito também que o livro em questão, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", foi uma das leituras mais marcantes da minha vida - pela original fluidez narrativa, pela acutilância da estrutura, pela pertinência da história, pela abertura de uma visão nova. Foi isso que me levou lá, pois nunca mais li um texto da mesma forma. Saramago teve em mim um efeito transformador da visão da leitura, e com isso uma transformadora leitura da visão.
O meu gosto pela sua literatura prendeu-se sempre pela força e intempestividade da sua criatividade, mas também pela combatividade e frontalidade do cidadão José Saramago, mesmo que por vezes discordasse dele.
Era com imensa ternura que observava a bela história de amor entre Saramago e Pilar, interpretada em dedicatória no seu último livro "Caim" como uma das formas mais emocionantes que já li - "A Pilar, como se dissesse água".
Agradeço-lhe os livros que escreveu. Agradeço-lhe as palavras e as frases que me abriram o imaginário. Agradeço o valor ímpar que trouxe para a lusofonia. Agradeço a sua paixão e coragem. Agradeço a sua inteligência e lucidez. Agradeço as mudanças que em mim causou. Foi uma honra conhecê-lo, meu caro.
Obrigado José Saramago.
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