1.
Tenho como norma não entrar no velho e caquético modo lusitano de queixa permanente, ou tão pouco disparar antes de perguntar. Porque falar mal por falar está este país cheio, seja através de barbaridades comuns e insultos ordinários, seja por palavras demagógicas e circunstanciais. Procuro sempre analisar e reflectir antes de opinar ao confrontar-me com a extensão de problemas e questões que atravessam todo o espectro do que no fundo é Portugal, sendo que não é possível fugir do óbvio ou ignorar as características do ser.
Tenho como norma não entrar no velho e caquético modo lusitano de queixa permanente, ou tão pouco disparar antes de perguntar. Porque falar mal por falar está este país cheio, seja através de barbaridades comuns e insultos ordinários, seja por palavras demagógicas e circunstanciais. Procuro sempre analisar e reflectir antes de opinar ao confrontar-me com a extensão de problemas e questões que atravessam todo o espectro do que no fundo é Portugal, sendo que não é possível fugir do óbvio ou ignorar as características do ser.
2.
Este passado dia 10 de Junho celebrou-se mais um Dia de Portugal. Contudo até que ponto é isto transposto numa identidade colectiva que de uma forma ou de outra desvaloriza, ou desonra, como nas palavras de António Barreto, a memória de feitos e pessoas? Que povo é este que não sente o destino de uma nação para além de um triste fado a todos condenado, que se resigna às situações com receio da mudança?
Este passado dia 10 de Junho celebrou-se mais um Dia de Portugal. Contudo até que ponto é isto transposto numa identidade colectiva que de uma forma ou de outra desvaloriza, ou desonra, como nas palavras de António Barreto, a memória de feitos e pessoas? Que povo é este que não sente o destino de uma nação para além de um triste fado a todos condenado, que se resigna às situações com receio da mudança?
A inevitabilidade constante do ser português conduz ciclicamente a estas situações insustentáveis. E o problema emperra na falta condições de saída pela simples questão, igualmente nacional, de falta de planeamento, de falta de coragem. Não pensar o futuro como um objectivo tem conduzido o país a soluções de curto prazo e vistas curtas. Na verdade, tudo é curto. Seja na laboração, seja nos resultados, seja no bolso. Até a força expressiva de ser português peca na curta dedicação individual e colectiva, peca na desesperança pelo bem comum, peca na curta miragem de um sonho que já não existe. O país perdeu estima e respeito próprios, onde só o futebol é razão para patriotismo.
Portugal foi perdendo o seu caminho. Por uma monarquia de feudos, por um republicanismo confuso, por um nacionalismo retrógado, por uma utopia inconsequente, e finalmente por um capitalismo facilitista. Os últimos vinte anos conduziram a um laxismo por demais evidente, e que rapidamente se transformou em lixismo igualmente generalizado, significando que a única visão palpável de um futuro que já começou, se situa entre lixados (quase todos) e lixo (de diversa espécie).
Portugal vive ciclicamente de oportunidades perdidas. Por não saber organizar-se, por apenas queixar-se, por premiar a mediocricidade, por invejar e desvalorizar o mérito sem lhe seguir o bom exemplo. É tanto uma questão nacional como individual. De nada serve ambicionar ser como finlandeses ou espanhois. Eles são como são porque possuem as suas peculiares características nacionais de finlandeses e espanhois que todos sabemos como são. Mas nem eles próprios são perfeitos, o que nos obriga que a mudança de atitude e objectividade nacionais seja entendida como um factor de mudança de como ser português. Cai-se sempre na mitologia que "antes éramos os maiores do mundo" sem se entender isso como um alicerce para o futuro. Sonhamos com o passado embora presos num presente sem futuro. Soundbyte ou não, Portugal não consegue libertar o futuro. Porque para isso é preciso pensar, organizar, planear tudo o que seja necessário para construir um futuro sustentável - na educação, na justiça social, na mobilidade, na integridade territorial, na valorização do melhor que cá se produz, no regressar à agricultura. Tudo isto necessita de bom senso, seriedade, objectividade e planeamento. O que claramente tem faltado e que leva cada vez mais as pessoas a afastarem-se e a revoltarem-se contra a política. Mas, se o português num modo geral assim é, como poderia a classe dirigente não ser afinal um retrato do povo que o elege? Estamos condicionados a um sistema político-eleitoral de partidos que sobrevivem no seguidismo cerceadora na sua maioria da liberdade de pensamento e responsabilidade individuais dos seus deputados, que na essência não conhecemos, e que apesar da presente legislatura possuir poderes para alterar a Constituição, repetidamente se manifestam contra modificar para uma representatividade directa, proporcional e uninominal como no Reino Unido, em França e nos EUA.
3.
Estamos tão adormecidos ou perdidos nisto que nem o melhor instrumento para a introspecção e a revolta funciona. Um país que já nem consegue rir-se de si próprio é um país justamente amorfo na sua condição vazia. Onde está o pensamento crítico do humor? Que aconteceu ao humor político que tão bem funciona em momentos de crise? A subjectividade da análise crítica através do humor é uma poderosa arma para abrir olhos, forçar mudanças, reavivar combates. Parecem-me todos resignados a não tocar no desinteressante (que não deixa de ser verdade) mas que atinge a todos de uma forma ou de outra. Falta-nos os Contemporâneos, falta-nos um Jon Stewart português. Não fosse o "aburguesamento" dos Gato Fedorento e poderiam ser eles o porta-estandarte de uma nova condição crítica, de uma opinião pública que pressione, tão essencial para uma sociedade que se pretende moderna e participativa.
Estamos tão adormecidos ou perdidos nisto que nem o melhor instrumento para a introspecção e a revolta funciona. Um país que já nem consegue rir-se de si próprio é um país justamente amorfo na sua condição vazia. Onde está o pensamento crítico do humor? Que aconteceu ao humor político que tão bem funciona em momentos de crise? A subjectividade da análise crítica através do humor é uma poderosa arma para abrir olhos, forçar mudanças, reavivar combates. Parecem-me todos resignados a não tocar no desinteressante (que não deixa de ser verdade) mas que atinge a todos de uma forma ou de outra. Falta-nos os Contemporâneos, falta-nos um Jon Stewart português. Não fosse o "aburguesamento" dos Gato Fedorento e poderiam ser eles o porta-estandarte de uma nova condição crítica, de uma opinião pública que pressione, tão essencial para uma sociedade que se pretende moderna e participativa.
Uma coisa é nos revermos numa identidade nacional colectiva outra é projectar uma ideia de modificar a identidade nacional individual. Se não queremos ser como a maioria, cabe a cada um encetar a sua própria mudança. Se detestamos o José Sócrates, há que chutá-lo para fora. Se admiramos o José Mourinho, há que ser como ele.
A exigência deve começar em casa para se espalhar à comunidade. É um trabalho árduo e longo, que começa com a transmissão de ideias, valores e acções democráticas, justas e sérias aos nossos filhos. Quantos mais colaborarem neste objectivo melhor será a capacidade de renovar mentalidades, características, trabalhadores, dirigentes e elites.
Pois esta insustentável mediocridade actual, se não cair este Verão, manter-se-á por mais um ano, e será mais um ano perdido a somar a tantos e tantos outros.
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