O Presidente da República é o símbolo político do Estado. É a figura maior da estrutura republicana de uma nação. Um Presidente - seja ele quem for - é presidente de todos. Um Presidente não tem espírito, nem sexo, nem querelas. Um Presidente está acima de questões estéreis e conflitos de personalidade. Um Presidente existe e enquanto tal representa um país, uma nação.
O Presidente Cavaco Silva, em mais umas das suas decisões misteriosas, ignorou um símbolo de dimensão infinitamente maior. Ao não estar presente na homenagem a José Saramago, Cavaco Silva deu uma má lição de respeito e educação, retirou o significado institucional que lhe é conferido pela Constituição e pelo povo enquanto Presidente da República Portuguesa. Uns poderão dizer que a ausência foi coerente e que se comparecesse seria uma acto de cinismo e hipocrisia. Mas conhecida antipatia mútua, apesar de notoriamente pessoal e política, é algo que não podia prevalecer como uma alma-penada sobre as exéquias fúnebres, pois quem estaria presente seria, não o cidadão Aníbal Cavaco Silva, mas sim o Presidente da República em representação de todos os portugueses numa cerimónia oficial de homenagem nacional. Podia até Saramago não querer que estivesse presente, mas as circunstâncias da vida colocaram Cavaco como o alto magistrado da nação, e como tal a sua presença seria óbvia. Cavaco Silva, apesar da mensagem breve mas correcta que emitiu no dia do falecimento, com a sua ausência tirou dignidade ao seu próprio cargo, alimentou um desconforto institucional evitável e demonstrou desprezo pelo valor do maior símbolo nacional cultural e com maior projecção mundial dos últimos 40 anos.
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