2008-08-26

Um perigoso jogo de xadrez



Diz-se que a origem do xadrez remonta ao século VI, quando um mestre o inventou para ensinar as artes e ciências intelectuais da guerra ao rajá de um reino indiano. Um jogo de estratégia e táctica, onde as complexidades dos elementos e movimentos o tornam tão intrincadamente fascinante como análoga ao tabuleiro que é a ordem internacional. E a jogada mais recente, sendo prevísivel, foi-o também inevitável mas desafiadora. O esperado reconhecimento russo da independência da Abkházia e da Ossétia do Sul invoca de vez um novo tabuleiro que desde 8 de Agosto nos encontramos. O próximo movimento pode ser feito pela NATO no posicionamento de forças navais mais próximas da Geórgia e, em jogada táctica futura assumir a integração desta e da Ucrânia.
A Rússia assumiu de vez que a sua influência e poder é maior que o Ocidente pretendia. O Grande Urso afirma que não receia uma nova Guerra Fria, mas esta posição declarada por Medvedev será a médio prazo mais negativo para a Rússia do que ela possa imaginar. Pelo afastamento da Europa, pelos perigos internos que ela própria tem em regiões com intuitos separatistas (Tchétchénia, Inguchétia, Daguestão, etc).

Veremos como se comportarão a China e a Índia em relação a estes novos desenvolvimentos. A alteração ao Direito Internacional, em que a Rússia coloca o caso do Kosovo como precedente, é perigoso e ilegal. O Kosovo, por mais específico que seja teve um processo político interno exemplar e democrático. Contudo a China e a Índia têm problemas suficientemente semelhantes a evitar dentro das suas fronteiras, seja o Tibete e Xinjiang, ou Caxemira. O reconhecimento unilateral de territórios externos é como abrir a caixa de Pandora.

A Rússia não tolera contrariedades. Ao longo dos séculos sempre foi assim, é da natureza deles. Quem acreditava na democratização russa vivia numa tremenda ilusão. E quando um Estado não age nem pelas regras do bom senso, podemos recear pelo futuro.