2008-08-27

Political showbusiness



Quem assista à Convenção Democrata actualmente a decorrer em Denver, Colorado, não deixará de notar aspectos e subtilezas espantosas. E passar a concluir de vez como os congressos dos partidos portugueses são um tédio inútil e fugaz.

Primeiro que tudo, o modo como a política é vivida e comparticipada nos EUA é totalmente diferente. Não existe um líder declarado para um partido, há uma direcção eleita, mas a estrela principal é sempre o Presidente, o candidato a presidente, figuras proeminentes estejam no Senado ou não.

Segundo. Sempre houve um empenhamento cívico directo na organização destas convenções e nas campanhas dos diversos candidatos. Mas nunca como este ano o movimento "grass-roots" promovido por Barack Obama trouxe tanta gente para o processo político.



Terceiro. Profissionalismo. Na organização (da campanha, dos eventos), na comunicação (dos conceitos, das mensagens). Os primeiros dois dias (via CNN, das 23 às 04 manhã) demonstraram bem que não se brinca em serviço. Tudo encaixado nos momentos certos.

Quarto. Showbiz. Como qualquer evento mediático americano, seja prémios MTV ou Óscares, também as convenções há muito exploram o filão TV para "espalhar a mensagem". E fazem-no com precisão, bem apresentado, e sem tempos mortos. Especialmente para quem está no pavilhão - a música, cuidadosamente seleccionada, tem nos intervalos momentos de profunda alegria - todos dançam. Fosse por cá e seria motivo da pior chacota. Mas o que vejo é tão só felicidade do momento, mas também uma atitude colectiva cuja participação lhes é importante e gratificante. Estes quatro dias são o génesis definidor de um caminho político para os meses e os anos que se seguem, e cada um se sente parte integrante de um projecto novo.



É muito mais estimulante este tipo de participação. Terá muito a ver com o próprio sentimento e atitude americana pelas coisas, mas é um modo mobilizador, positivo e visualmente apelativo que possibilita criar condições para desenvolver e divulgar a mensagem política. Esta não tem de ser fria e obtusa. A nobre arte da política renova-se a cada quatro anos.
Na quinta-feira será o ponto alto desta Convenção Democrata quando, perante uma audiência estimada em 75.000 pessoas num estádio (desde JFK que tal não sucedia), Obama dará o seu discurso de aceitação de candidato oficial do Partido Democrata à Presidência dos EUA. Mais um ponto alto de uma campanha histórica, de um candidato histórico e de um momento histórico essencial para a mudança.