2007-01-17

O castigo como elemento definidor do espaço



Quando pensamos em prisões, lembramo-nos sempre daqueles espaços sujos e perigosos dos filmes ou séries de TV, ou mesmo das imagens degradantes vindas das sobrelotadas do Brasil, sempre ávidos para mais uma rebelião. Mesmo as de cá surgem-nos como ambientes hermeticamente estranhos e igualmente desumanizados. Todos estes aspectos constroem em nós uma ideia de local como castigo - que o é de facto - confinados que ficam os condenados, e bem (salvo os injustamente presos, mas isso é outra conversa). Mas quando um indivíduo é enviado para a prisão espera-se que esta, enquanto instituição do Estado, seja um local regenerador e reabilitador do condenado, onde a perca da liberdade seja o desafio para a sua consciencialização do mal que fez à sociedade e o pagar justo com a sua pena judicial. Numa época onde dinheiro não abunda nos meios mais necessários, a crescente sobrelotação das penitenciárias torna pertinente a edificação de mais e novos espaços. E é aqui que um pormenor, caindo na normalidade sem importância, se revela como a peça chave para a conceptualização de uma prisão: como criar um espaço prisional onde, obviamente confinador e penal, seja ambiente de castigo, mas igualmente digno? O que nos leva a uma série de outras interrogações. Como definir castigo numa sociedade mais civilizada? Como definir o castigo num ambiente arquitectónico? Como atribuir a uma pena, a reabilitação do indivíduo para a sociedade? Como conceptualizar um espaço, dentro dos modernos parâmetros da arquitectura, onde isso seja possível?



O exemplo de uma penitenciária na Áustria suscita estas e diversas outras questões. Umas pertinentes, outras até politicamente incorrectas. É, no fundo, uma transposição da essência da sociedade que temos, e do nível civilizacional que queremos atingir. O absoluto oposto de Abu Grahib, Guantanamo ou o Tarrafal, o Justizzentrum Leoben da autoria do gabinete Hohensinn Architektur, apresenta um projecto arquitectonicamente simples e fascinante, desde os conceitos técnicos e estéticos, que interferem claramente naquilo que é: um moderno espaço judicialmente punitivo e sociologicamente reabilitador. Não isento de críticas ou de óbvias divergências no seu conceito, todo o projecto advém daquilo que deverá ter sido pedido: através das instâncias judiciais e políticas austríacas. Contudo não devemos esquecer dos funcionários que lá trabalham. Também estes estão correlacionados com o espaço, e são a outra face da moeda que é o sistema penal.



Não entendendo alemão, não posso clarificar as minhas curiosidades e dúvidas quanto a este projecto, mas é claramente um assunto, delicado, mas sociologicamente notório de como a arquitectura, e o objectivo do seu uso, é definidor do espaço e das relações das pessoas com o espaço e, das pessoas entre si e em si mesmas.

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