2008-11-04

Day of Change

Há momentos na História que não queremos perder. Há acontecimentos únicos dos quais gostaríamos de fazer parte. Mesmo à distância de um oceano, a proximidade de uma ideia, de uma força, de uma esperança, de um movimento ímpar, de uma mudança urgente tem levado a mim (e a muita gente) a seguir, e a desejar, que Barack Obama seja eleito o novo Presidente dos EUA. É quase palavra corrente que o mundo também deveria votar para as eleições americanas. A dimensão económica, política e cultural dos EUA exponenciou o conceito de globalização e o sentimento de que também nós poderíamos ter algo a dizer nos destinos que aquele país projecta para todo o planeta.



Ao longo de 2008 criou-se à volta de Obama uma veneração invulgar, particularmente entre nós europeus, acérrimos defensores da sua eleição. Mas este desejo de vitória não advém só de oito anos de mau governo e más decisões da Administração Bush, com opções marcadamente lesivas para a paz e equilíbrio mundiais. A natural mudança de líder, de objectivos, não são factores únicos para a alternativa democrática. Reside no fascínio que este senador projecta. Barack Obama é a personificação de vários sonhos, mitos e ideias. A vontade e a capacidade de conseguir atingir os objectivos propostos. A força de acreditar no bem comum e na igualdade e a personificação da esperança e da mudança. A simplicidade da forma e da acção com claros propósitos para criar um mundo diferentemente melhor. A concretização do sonho de Martin Luther King assente na também sua "fierce urgency of now" que 2008 carrega. Tudo isto é o programa político de Obama, mas nunca como agora se pode tornar possível a sua concretização.

Para além do programa político e económico (com as quais concordo) que a futura Administração Obama implemente nos EUA - todo ele um projecto social e equitativo - as alterações na política externa (retirada do Iraque, apostar no Afeganistão, fecho de Guantánamo) e a aposta decisiva e incisiva em formas limpas de produção energética, que irão ocorrer, espera-se que o novo presidente seja aquilo que de melhor desejamos em alguém - uma pessoa com firmeza de carácter, honesta e de bom julgamento; atenta às necessidades dos outros; com ideias de melhorar e transformar as coisas; capaz de dialogar e promover a paz e a concórdia; um líder.

Há analistas que advogam que ele será uma desilusão assim que ocupar o cargo. Mas é preciso não esquecer que ele será só presidente dos EUA, e não da Europa. Tudo o que fará será no interesse do seu país. Contudo, não deverá descurar uma maior relação com a Europa. Que não deverá sucumbir às armadilhas Iraque e Afeganistão. Que deverá empenhar-se de facto e em concreto para auxiliar a resolução do conflito israelo-palestiniano, por muito que grande parte da solução parta deles próprios. Que seja mais assertivo na aplicação das energias renováveis.



Tentamos fugir ao messianismo, mas existe uma força que leva a acreditar num homem como Barack Obama. O homem certo no lugar certo na hora certa. Barack significa em swahili "abençoado", contudo há quem diga que não existem homens providenciais, ou que um só não muda o mundo. Creio que estão enganados os que assim afirmam, pois a nossa história está cheia de exemplos deste tipo. É não julgar possível que o ser humano tem algo mais para fazer do que meramente habitar este planeta. Obama tem nas suas mãos a possibilidade de mudar o mundo. Ele é a promessa de um futuro melhor. Mas a sua mensagem não contempla apenas isto, engloba toda a gente. Como ele próprio afirma, as verdadeiras mudanças nunca ocorrem de cima para baixo, mas sim de baixo para cima. Cabe a cada um de nós implementar a mudança e acreditar nessa capacidade intrínseca, justa e verdadeira. É esta mensagem de envolvimento global que tem cativado tanta e tanta gente. "Yes We Can" pode ser utopia para uns, mas ao ser humano ninguém pode tirar a felicidade de sonhar, a capacidade de transformar, a oportunidade de tornar a nossa proximidade e o nosso mundo mais igualitário, mais fraterno, mais livre - "the pursuit of hapiness" como está escrito na Constituição. Os ideais da Revolução Americana estão todos presentes na mensagem política de Barack Obama, e nunca deverão ser torpedeados na sua essência, como tão bem demonstra Al Gore no seu livro "O Ataque à Razão" (Esfera do Caos, 2007). O "ex-próximo Presidente" qualifica a Administração Bush como a mais incompetente e perigosa para o futuro da democracia americana e da sua inovadora Constituição. Há que regressar e resgatar os princípios éticos da política, da razão e da verdade.

A candidatura do filho de um queniano negro e de uma norte-americana branca é o sinal certo para a mudança certa. E é também por isso que reside tanta da sua força enquanto candidato. A "inovação" é que ele não é branco. Ele não é negro. Oprah Winfrey diz que não vota nele por ser negro, mas sim por ser brilhante. Obama é um mulato. Um cruzamento de culturas, de identidades, de comunhão. Ele tenta ser o melhor de dois mundos. É também por isso que desejo a vitória. É igualmente por aqui que o caminho novo pode e vai ser trilhado. Até ao topo da montanha. Quem não deseja ver a Terra Prometida?

Hoje, dia das eleições para a presidência dos EUA é mais um dia histórico em 2008. Depois da auto-proclamada independência do Kosovo. Depois do conflito na Geórgia. Depois dos Jogos Olímpicos de Pequim. Depois do início da derrocada financeira.
Hoje é 4 de Novembro e eu "voto" Barack Obama.


_