2007-02-28

Grandes Portugueses-I

Conceito de Grandeza
Como podemos definir alguém? Pelo que é, pelo que faz ou fez? Ou pelo que permitiu, induziu ou iniciou? Pela sua bondade, entrega e altruísmo? Pela sua destreza, pela sua coragem ou audácia? Pela sua ideologia, crença ou mero dogmatismo? E com cada um destes parâmetros poderemos nós alcançar uma hierarquia valorativa num contexto tão global quanto diversificado? Está para breve o final do concurso da RTP1 Os Grandes Portugueses. Mas até lá muita água já correu debaixo das pontes, e muita argumentação sobre o real significado quer do concurso em si (será válido?), quer dos "candidatos" (questionáveis, polémicos ou injustos) que competem por lugares num ranking de 1 a 100.
As nossas vidas são caminhos de muitos altos e baixos, de aspectos negativos e positivos. Qualquer um deles fará de nós melhor ou pior. Mas poderá fazer-nos maior que outro, mesmo de outra área ou outro contexto histórico? Regemo-nos por ideias, utopias e opções e isso condiciona o que somos e o que pensamos dos outros. Não seria mais lógico (ou mais fácil) eleger a partir de sectores específicos, como artes, ciência e política?

Mas como pode uma pessoa valer mais que outra? Serão as suas qualidades da mais diversa ordem classificáveis? Nos moldes em que este concurso está assente, juntam-se alhos com bugalhos, vejam-se alguns exemplos dos resultados. Em vigésimo lugar ficou José Mourinho, valerá ele mais que o Professor Agostinho da Silva (21º)? De uma forma que diria insultuoso a todos os que estão nesta lista, temos nomes que lá foram parar por óbvia militância, como Pinto da Costa (17º!); a ex-ministra da Educação no Governo Santana Lopes, Maria do Carmo Seabra (58º) que apenas lá esteve por 4 meses e com uma enorme barraca informática na colocação dos professores; e um actor de telenovelas chamado Hélio Pestana (79º). Como podem cada um deles, onde se presume "eleger" figuras que deram bom nome ao país, ter qualificação para integrar uma lista deste género onde Salgueiro Maia (11º), Fernão de Magalhães (35º) e Mariza (61º) são reconhecidos por todos como elementos muito importantes da História deste país? Pode um futebolista ser mais importante que um cientista, ou um estadista democrata (Mário Soares, 12º) ser menos que um estadista ditatorial (Salazar nos 10+)? É aqui que cai por terra uma real validação destes dados que nos é apresentada.

Num território de dez milhões de pessoas, 100 mil votos classificaram 100 entre quase 300 nomeados, ou seja, apenas 10% da população contribuiu para esta votação. Então, não podemos considerar sequer como uma estatística, uma representação do sentir português sobre os seus elementos mais destacáveis. Tal como nas sondagens no entender dos políticos, isto vale o que vale, e quanto a mim vale, de facto, muito pouco. Mais precisamente 10%. E portanto não podemos extrapolar em demasia o contexto desta "votação". Mas podemos e devemos questioná-la, para níveis de entendimento e desenvolvimento de ideias que vieram inovar o panorama nacional no seu todo. Ao fim e ao cabo quem são os Grandes Portugueses? Como os entendemos como tal? Como nos vemos enquanto Portugal? Essa é a conquista deste programa: a discussão sobre a nossa identidade, os nossos valores, os nossos ideais.


O Pior
Com pertinência e humor, o programa da SIC-Notícias "Eixo do Mal" e o suplemento do Público "Inimigo Público" ambos com equipa das Produções Fictícias fizeram a sua lista: "O Pior Português de Sempre". Aqui os que mais contribuíram para o mal do país, o que de pior representa ser português. O confronto Salazar-Soares quase dava uma inédita ao "pai da democracia portuguesa", mas a vitória coube ao velho ditador. E a mulher, Fátima Felgueiras. Mais uma vez militância eleitoral, mas esta iniciativa ainda menos é para levar a sério. É para rir. É bom remédio, expiamo-nos e desenvolvemos civilizadamente o nosso sentido de humor.

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