2006-09-07
The plot
Política à "boa" maneira da Roma Antiga? Intrigas, estratagemas, desconfianças, ódios pessoais, ânsia de poder, traições, pressões. Eis os sintomas - graves - que hoje rodeiam o Labour concentrado em Whitehall e Westminster para que Tony Blair deixe o cargo de Primeiro Ministro o quanto antes. O ambiente é de cortar à faca, e pelo que tenho lido e visto, Blair está a dar tanta luta quanto Gordon Brown, ministro das Finanças (grande artífice da melhoria económica do Reino Unido) que deseja tornar-se no novo chefe de governo. Guerra suja de bastidores entre os dois homens que mudaram o panorama político, social e económico das terras britânicas desde há uma década.
Afinal parece que se torna em maquiavélica tradição: Margaret Thatcher esteve no poder entre 1979 e 1990 tendo sido forçada pelo seu próprio partido a sair. O medo de perder as próximas eleições face à crescente impopularidade da Dama de Ferro e ânsia de manter o poder, levou que a sucessão de John Major à frente do Partido Conservador e do Governo se tenha revelado frágil e inconsequente, apenas por mais um mandato.
Agora o Partido Trabalhista parece seguir o mesmo caminho. A renovação encetada por Blair - o NewLabour - iniciada em 1996, permitiu que ganhasse as eleições do ano seguinte. Desde então tanto o Labour como o Reino Unido demonstraram uma pujança invulgares, posicionando o país num patamar de influência e importância que há muito se não via, e numa saúde financeira e económica invejáveis (os Tories dizem que foi graças às políticas Thatcherianas).
Mas não é isso que interessa agora analisar. A questão é como isto chegou até aqui. Pode dizer-se que começou quando o Reino Unido entrou na guerra contra o terrorismo, no Iraque ao lado dos EUA. O divórcio entre os eleitores e Blair começou aqui, e mesmo a terceira vitória consecutiva em Maio do ano passado - nunca antes na história inlgesa por uma margem tão baixa, onde até se discutiu as regras de obtenção de maiorias - não invalidou o crescente descontentamento e desconfiança, ainda para mais com notícias de escândalos e jogadas políticas pouco éticas de então para cá. Muita água correu já debaixo das pontes de Londres, e os meandros políticos do Labour e deste dentro do governo têm andado tão sujas quanto o próprio rio Thames.
A iminência de perder as próximas eleições para um renovado Conservative Party liderado por (um "Tory Blair") David Cameron, colocam o Labour em polvorosa. São deputados menos sonantes, os chamados "backbenchers" (os que se sentam mais atrás) que dão a cara - e escrevem cartas públicas e privadas - explicando a sua insatisfação em como Blair está a gerir o seu tempo à frente do governo, e exigem que o PM se defina e estabeleça uma data de saída - imediata - e a consequente transição de poder para Gordon Brown. O partido está hoje a fazer jus ao nome em português - está partido, e gravemente ferido. De um lado os 'Blairites', do outro os 'Brownites'.
Com isto o governo trabalhista está constantemente em descalabro, permanentemente alvo de notícias más, e o partido em descrédito, cada vez mais confuso e lançando para o eleitorado uma imagem de meninos que não se dão bem. Tudo isto, quanto mais tempo durar e quanto maior indecisão e confusão houver terá apenas um resultado, mesmo que Brown se torne no novo PM: perder as próximas eleições. Se a mulher de César é séria deverá também parecer séria, e hoje, mais que nunca a imagem é tudo: o Labour perdeu a face e os Tories tem uma renovada e cativante.
Mas o que pretende Brown para que Blair saia o quanto antes? As próximas eleições são em 2009 e com as condições actuais com tão más sondagens, a recuperação até lá deverá ser o mais rápido possível, retomando um curso normal de governação sem contratempos ou escândalos. A renovação do líder do governo para alguém com provas dadas colocará de lado, segundo julgam, a extrema fragilidade eleitoral no qual Blair se transformou. O PM britânico já publicamente afirmou que não cumpriria o mandato até ao fim. E aqui coloca-se "a" questão: quando? Até o fim do ano, ou em Maio do próximo? E porque não podem esperar os oponentes até lá? Qual a melhor solução? Blair não quer vacilar, mostrar que ainda manda no governo, mas tem uma imagem tão desgastada, internacionalmente pela participação no atoleiro do Iraque, face ao fracasso da presidência britânica da UE no verão de 2005, e deteriorada internamente pelas conspirações e intrigas e o "Yo, Blair" de Bush dois meses atrás. Tudo isto põe em causa a sua capacidade de governar, fazendo esquecer o quanto fez pelo reino e a sua determinação em querer continuar a fazer a Grã-Bretanha uma país melhor.
Uma vez no parlamento o líder da oposição perguntou a Churchill se o considerava como seu inimigo, o Primeiro-Ministro respondeu "Não. Você é meu adversário. Os meus inimigos sentam-se aqui a meu lado".
The Guardian
The day Blair accused his chancellor of blackmail
Resignations and threats: the plot to oust the prime minister
The Independent
Brown demands March handover as Blair's power haemorrhages
Five scenarios for the Prime Minister: from immediate departure to going on and on
The Big Question: How does a political party oust a serving Prime Minister?