A análise que Teresa de Sousa hoje faz no Público, resume na perfeição a "má" evolução da situação. De facto, desde os atentados de Londres que não mais se sentiu a "marca" britânica na presidência da UE. Todas as expectativas saíram goradas, a ambição (talvez elevada), foi no entanto minada pelos imponderáveis que o futuro sempre nos reserva, mas igualmente e principalmente, pela crise política alemã, perfeitamente inédita e causadora de enormes transtornos para o futuro próximo da UE, precisamente num momento crucial para se avançar para novos e orientadores caminhos de reforma e desenvolvimento.
"As bombas do metro de Londres desviaram as suas energias. O Iraque gasta-as quase todos os dias, reduzindo a sua margem de manobra interna e internacional. Precisaria de um apoio em Berlim para dar força ao debate sobre o modelo social europeu que agendou para uma cimeira de líderes em finais de Outubro."
"Os mais optimistas acreditavam que uma clarificação política na Alemanha poderia ajudar a Europa a vencer a paralisia. As eleições alemãs mataram esta esperança. À crise política francesa soma-se agora a crise política alemã. As consequências são mais ou menos evidentes.
Se a presidência britânica já estava a correr mal, agora restam poucas dúvidas de que a ambição de Tony Blair de relançar a dinâmica europeia através de uma agenda de reformas económicas e sociais está definitivamente posta em causa com o impasse em Berlim. A sua aposta era poder contar com uma nova liderança alemã mais aberta às suas ideias. O mais provável é que a sua presidência, depois dos atentados de Londres e depois do impasse alemão, se fique por muito pouco."
Durão Barroso foi uma perfeita desilusão. Afinal, como poderia ser ele melhor lá fora do que aqui? Mas também, o subtil entrave francês à nova Comissão, a par do desprezo a que ex-colegas usualmente praticam quando há novo Presidente da CE, empobreceram em muito o primeiro ano de mandato.
"Há uma crise de liderança que vem de trás e que resulta não apenas do enfraquecimento gradual da Comissão praticamente desde a saída de Jacques Delors (por vontade deliberada dos grandes países, diga-se de passagem), como sobretudo da transformação progressiva do "motor" franco-alemão numa aliança de interesses imediatos dos dois países centrais da integração europeia que, progressivamente, foi sugando qualquer visão sobre o futuro colectivo da Europa."
Quando no início de Julho a apresentação do programa da sua presidência, Tony Blair demonstrou no seu discurso no Parlamento Europeu todo o "sentido depois do choque dos referendos em França e na Holanda que muita gente acreditou que havia um caminho possível. Blair queria uma Europa virada para fora e não para dentro de si própria, suficientemente dinâmica para se adaptar às novas realidades da globalização, capaz de crescer, de criar empregos, de vencer o declínio e de reconquistar por essa via a confiança dos cidadãos europeus."
Hoje, quando ainda faltam três meses para a presidência semestral acabar, e tudo o que se já passou parece longíquo, a sensação que fica é que todo esse tempo foi inutilizado ou inútil. Com poucas esperanças para as semanas vindouras, "infelizmente o que prevalece são as ideias feitas, as desconfianças mútuas, rivalidades antigas ou recentes e uma ausência quase total de sentimento comunitário." Encontraremos o rumo ainda até ao fim do ano? Ou ficará tudo de novo para as calendas gregas?