Razões para a greve existem. O cerne da questão reside hoje na forma do protesto. Até onde vale uma greve? Que resultados concretos se obtêm?
O direito à manifestação é óbvio, contudo peca por escassa pela razão que é o país inteiro que, estando contra as medidas, está muito mais contra este governo e a situação nacional que este degradou.
Esta luta necessita de uma mobilização mais audível e transformadora. Não, não é uma revolução. Não no sentido tradicional. Será algo mais inteligente e inovador.
Por exemplo: recordam-se do povo nas ruas da Argentina em 2001? Durante dias a fios milhões bateram em tachos, panelas e tampas contra o descalabro que o governo provocou ao país, forçando a sua demissão e proporcionando uma mudança drástica mas inovadora com as políticas económicas do novo presidente Nestor Kirchner (falecido no início deste mês).
É algo do género que (alguns) irlandeses, civicamente conscientes têm manifestado, cansados de errâncias e mentiras por parte do seu governo que, finalmente cedeu às evidências e ao "bailout" europeu.
Apesar de todos argumentarem que Portugal é diferente da Irlanda, também esta é um caso diferente da Grécia. Um após outro tombam face aos "mercados", mas essencialmente sucumbem à mercê da sua própria incompetência e inoperância.
Está muito em causa neste momento. Portugal e os portugueses. O euro e a Europa. Um futuro evitável que se torna na pior inevitabilidade, tão previsível quanto incompreensível.
A luta, meus senhores, será depois intensa. A enfermidade que grassa as nossas democracias é porta aberta a transformações perigosas e eventualmente fatais. Seja pela regressão das nossas liberdades e garantias por um sistema descredibilizado, seja por mudanças drásticas e extremistas que ano após ano florescem pela Europa.
A ética, a justiça, a igualdade e a pluralidade, alicerces do verdadeiro paradigma da democracia estão submetidos a sorrateiro e constante ataque. Os valores de comunidade e responsabilidade diluem-se perante uma passividade colectiva, pois vulnerável na sua existência, impotente na sua exclusão.
O poder último estará nas mãos do povo. Seja no voto, seja na voz, seja na rua. Em cada um existem acções inovadoras ainda por explorar - massivo voto em branco, por exemplo.
Uma greve é uma luta. Mas é claramente insuficiente.
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