2008-05-31

2008-05-30

Acordo em desacordo



O problema

Uma discussão longa e acesa, esclarecedora e demagógica, divisória e nacionalista. O debate sobre o Acordo Ortográfico cresceu nos últimos meses de uma maneira inusitada, quando há já quinze anos está tudo planificado. Mas o "Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico" está a dar dura luta e a evidenciar diversos argumentos válidos e pertinentes. "É inaceitável a supressão da acentuação, bem como das impropriamente chamadas consoantes “mudas” – muitas das quais se lêem ou têm valor etimológico indispensável à boa compreensão das palavras. Não faz sentido o carácter facultativo que no texto do Acordo se prevê em numerosos casos, gerando-se a confusão."

De facto (eu leio o "c") na sua essência enquanto reforma ortográfica, estou de acordo. É na sua especificidade que discordo. A redução da palavra escrita à condição fonética é uma simplificação prejudicial. Certo que imensas palavras "minguaram" ao longo de séculos, a evolução da língua ditou mudanças que podemos considerar naturais, mas outras podemos observar como estranhas ou injustificadas.

Incongruências diversas existem ora no modo como as grafias evoluíram, ora no modo como deixámos que as distâncias nos diferenciassem. Este acordo é tanto vantajosa, como falaciosa. Não vamos falar português com sotaque brazuca, nem vai facilitar o ensino da língua. Apenas torna una, o que outros idiomas globais sempre tiveram. As especificidades gráficas no inglês (color, colour) são mínimas comparadas com o português dos dois lados do Atlântico. A evolução da grafia lusa no Brasil mais se deve ao imenso caldeirão de culturas e gentes que, na sua oralidade, modificaram de tal modo o português que este se afirma mais diferente (e original) que o inglês falado nos EUA, na África do Sul ou na Austrália. Nunca houve uma base comum para o ensino da língua portuguesa, como Vasco Pulido Valente refere ao enunciar o exemplo do ensino do inglês com base na tradução da Bíblia de 1611, a King James Bible. O Império Britânico "muniu" o seu sistema de ensino com uma grafia-padrão, onde pequenas variantes que mais tardem surgiram, em nada originaram as curiosidades que observamos por cá.
É tudo muito confuso, mas paradoxalmente, claramente simples. Permitir que haja uma só grafia reconhecida e usada por todos os falantes de português é legítimo e necessário. Contudo, erros do passado não serão emendados, nem agora nem nunca. O distanciamento desde o início do século XX trouxe-nos diferenças que nos embaraçam, nos estranham, mas que também nos podem unir. Mais uma vez os paradoxos no uso da língua. As excepções continuarão, sendo algumas delas bastante confusas. Mais uma vez por causa do modo como falamos, e não tanto da maneira como as escrevemos. A pronunciação da palavra evidencia toda a diferença.

E temos também a beleza gráfica das palavras. A simplificação elimina o carácter estético que mesmo as palavras possuem. Quanta classe e sedução existe em "Victor" que em "Vitor" simplesmente não se vislumbra...

O modo mais simples, e mais "letal" para a afirmação de duas grafias passa por exemplo por práticas inconcebíveis como em cimeiras entre Portugal e Brasil, o texto comum ser distribuído em grafias diferentes. Porquê? Será que por isso o outro não entenderá? Será o orgulho da língua escrita mais valiosa que a compreensão do idioma falado? E aí voltamos de novo ao problema - por que não uma grafia comum?
As resistências à inevitável nova grafia existirão na nossa geração. As gerações seguintes não colocarão quaisquer entraves, e a língua fluirá normalmente. Então é uma derrota à partida a luta contra o acordo? Depende dos próximos anos de implementação.
O Manifesto não se ficará por aqui. Vasco Graça Moura continuará a apresentar as suas razões até que a voz lhe doa. E eu continuarei a escrever de facto o que acho mais correcto e óptimo.


As diferenças que nos unem
É a diversidade que embeleza o espírito humano. Compreendo a problemática do ensino do português por professores brasileiros. Ou melhor, não há. O modo diferente dos seus alunos conhecerem o português será mais pela oratória que pela escrita. A confusão (se houver, que duvido) pode vir daí. Mas está aqui, como no português falado em África que maravilha de forma original a oralidade da língua. Claro que deverão haver regras, mas as especificidades devem ser respeitadas e não eliminadas de forma expedita ou sem critério cientificamente válido.


Uma definição estratégica da língua portuguesa
Afirma-se que com o Acordo o Português pode passar a ser uma das línguas oficiais das Nações Unidas. Será isso que falta? A indecisão entre uma grafia e outra tem sido assim tão problemático que impediu até agora esta "valorização"? Custa-me a entender estas coisas. A riqueza e a beleza do português europeu não ofuscou nunca a do português brasileiro. Quando Guimarães Rosa ou Mia Couto inventam novas palavras é com alegria que todos nos devem sentir, pela capacidade criativa que um idioma consegue possuir. O futuro da língua portuguesa insere-se num contexto mais lato - na definição estratégica da Lusofonia. dentro da comunidade dos povos lusófonos e, para o mundo. A afirmação da nossa especificidade cultural e linguística é ponto de partida para um ideal novo, moderno e tradicional, humanista e de cidadania.

2008-05-15

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2008-05-13

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