2007-12-15

Niemeyer 100



"Ora não me venha com conversas, 100 anos é uma merda... Posso dizer merda numa revista?"

"Arquitectura não é importante. Importante é a vida. Passei a vida sobre a prancheta mas, para mim, a política importa mais do que a arquitectura. Quem não é solidário, quem não se preocupa com a miséria, pode ser o melhor profissional e ficar rico, mas é um cretino."

"Arquitectura é a arte do espanto, feita para comover o povo. Falam tanto em 'função', mas acredito, como Le Corbusier, que a Bauhaus é o paraíso da mediocridade. No entanto, veja que beleza esse capricho nada funcional, as pirâmides do Egipto, no meio do deserto."
"Só um ateu faria projectos tão futuristas para uma catedral. O crente deslumbra-se com a ideia da nave, acredita na simbologia de encurtar a viagem e o caminho até Deus."

Visão 771 - 13 Dezembro 2007
Depoimentos recolhidos por Norma Couri


O Globo: Oscar Niemeyer, 100 anos, persegue arquitetura poética
Edição de Câmara Clara (RTP2) dedicada ao mestre (ver em wmv ou realvideo)
Casa das Canoas (aqui)

Clarice Lispector, nas suas crónicas no Jornal do Brasil,
escreveu em 1970, sobre Brasília o seguinte:

"Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia vêem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério."