2007-03-30

Novo Smart ForTwo


Novo FIAT 500


Livros de Design: Lab



Examining the Visual Culture of Corporate Identity
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Iconography 2
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2007-03-26

JP Simões



Chico Buarque de Portugal? Sim. Não.
Um trabalho absolutamente notável.

2007-03-25

Grandes Portugueses-V

A Final
O meu maior receio concretizou-se. Recordando de antemão que não é representativo de toda a população - obviamente é um voto militante e, sim talvez, de protesto por outro, algo que não aceito - o resultado é confrangedor e vergonhoso. Os ideais de democracia e liberdade não foram totalmente assimilados nesta parte de população? Entenderão a verdadeira vantagem do regime actual para o anterior?
Aristides de Sousa Mendes ficou muito bem classificado - por momentos pensei que vencesse - mas, pela segunda vez consecutiva - após o Pior Português de Sempre - o velho abutre venceu a "eleição". Estará ele confuso sobre como festejar esta vitória? Curioso é verificar que, em sondagens - cujo método é científico e mais representativo da sociedade portuguesa - é D. Afonso Henriques quem ganha, relegando a dupla Salazar-Cunhal para o meio ou fim da tabela. É esse o Portugal que se deseja, mas não é isso que transparece. O discurso inicial da RTP "voto dos portugueses" transformou-se na "escolha dos telespectadores" tão somente, para evitar a sensação virar feitiço contra o feiticeiro.

A vitória não deixa de ser sinónimo do momento em que estamos. Fosse este concurso há 10 anos atrás e o vencedor seria outro. Tempos dificeis atravessam o país há algum tempo, mas não podemos justificar um voto de protesto actual com o sinónimo "antes é que era bom". Falso. O Estado Novo - intromissivo, policial, anti-democrático, constrangedor, retrógado, hipócrita - é fruto de uma época de nacionalismos e fascismos que se prolongou no tempo pois os seus líderes para trás no tempo ficaram. Uma vez aprisonado Portugal vemos que este passatempo, como tanto referiu Maria Elisa ao longo da última emissão do programa, é simbolicamente e sociologiamente sintomático de como grande parte dos portugueses se encontram ainda aprisionados, na derrota da assimilação dos valores democráticos e de algumas das suas conquistas - que todos sabemos incompleto - o falhanço da Educação e do Civismo. Quando antes se vivia em maior paz e as exigências eram menores, prensadas pelo regime, onde ambição era sinónimo contrário aos "bons costumes", o mundo também era outro. O mundo mudou, e para nós a mudança aconteceu muito mais tarde que no resto da Europa. Décadas e séculos de democracia no Reino Unido, em França ou nos países Escandinavos, tornaram esses paises sempre muito melhores que este rectângulo luso. Sempre a contemporaniedade nos relegou para o fim do pelotão, e o Estado Novo é o último responsável disso. O facto de o ensino obrigatório ter sido reduzido de 4 para 3 anos somente é pedra angular do mal que ainda subsiste no país. À parte o negativismo dos seus anteriores regimes, os novos membros da UE ex-comunistas, são muito mais evoluídos educacional e culturalmente e isso é uma alavanca enorme, com resultados visíveis a cada ano, na supressão das dificuldades, na evolução e no desenvolvimento. O problema é que o português sempre foi amorfo, acordando e trabalhando mais nas horas de contra-relógio. O país sempre padeceu de ambição, de sede de conhecimento e valorização, basta vermos a expulsão dos melhores do reino no fim do século XV (os judeus) e no séc.XVIII (os jesuítas), a ignorância educacional da nobreza até o séc. XVIII, o desperdício no desenvolvimento das colónias (o esbanjamento do ouro e o tráfico de escravos). Os homens que foram contra esta maneira de ser, estranha, peculiar, estão presentes na lista final deste concurso. Foram eles os visionários e de mente ambiciosa e positiva para fazer e mudar Portugal. Salazar teve estas características de forma retrógada e negativa; Cunhal fazendo diferente não faria melhor. Os mitos destas duas faces da mesma moeda precisam de ser rompidos, mas os resultados obtidos domingo contrariam isso. Prolongam o efeito nefasto de ambos num Portugal que se pretende Europeu do séc.XXI. O problema é que se esqueceu - como sempre por cá - do passado. A memória curta deturpa. Um sinal de castigo para os políticos actuais com os 41% de Salazar é uma idiotice. O contra-voto em Cunhal não é mais que a contínua luta anti-fascista que nada traz de novo ao país. O ontem divido e pobre é que o fica deste concurso, não a glória ou a grandeza, a universalidade ou ambição, legados positivos para o futuro.


Outros resultados
Quem, de fora, for comparar os resultados de cá com o mesmo concurso nos EUA, no Reino Unido ou na França, espantar-se-à com o "regresso" do ditador. Pensarão eles que afinal não somos tão democráticos como parecemos? Curioso será verificar os resultados em Espanha: como se classificará o "Generalissmo" Franco?

Vejamos os resultados, curiosos, noutros países:
Reino Unido
1º Winston Churchill, 2º Isambard Kingdom Brunel [o Fontes Pereira de Melo britânico], 3º Diana, Princesa de Gales [a grande polémica de lá], 4º Charles Darwin, 5º William Shakespeare, 6º Isaac Newton, 7º Rainha Elizabeth I, 8º John Lennon, 9º Almirante Nelson, 10º Oliver Cromwell [a segunda polémica na BBC] [instituíu o Republicanismo no séc. XVII mas anti-democrático terminando com o Parlamentarismo, auto-intitulando-se Lord Protector, ditador vitalício, finalizando este periodo conturbado quando morreu em 1658]
Onde está a Rainha Victoria?

EUA
1º Ronald Reagan [ex-actor, 40º Presidente 1980-88], 2º Abraham Lincoln [16º Presidente 1861-65 aboliu a escravatura e enfrentou a Guerra da Secessão sendo assassinado], 3º Martin Luther King, Jr, 4º George Washington [fundador dos EUA, o 1º Presidente 1789-97], 5º Benjamin Franklin [co-fundador dos EUA], 6º George W Bush [porque foi no momento imediatamente pós-9/11], 7º Bill Clinton, 8º Elvis Presley, 9º Oprah Winfrey, 10º Franklin D. Roosevelt [32º Presidente 1933-45, autor do New Deal pós depressão 1929 e da transformação do país]
Onde está JFK e Thomas Jefferson [co-fundador dos EUA, 3º Presidente 1801-09 e autor da inovadora Constituição Americana]?

França
1º Charles de Gaulle, 2º Louis Pasteur, 3º Abbé Pierre, 4º Marie Curie, 5º Coluche [comediante], 6º Victor Hugo [escritor], 7º Bourvil [cantor e actor], 8º Molière [dramaturgo], 9º Jacques Yves Cousteau, 10º Edith Piaf

Alemanha
1º Konrad Adenauer [Chanceler 1949-63, liderou a nova Alemanha pós-2GM], 2º Martin Lutero, 3º Karl Marx [polémica], 4º Willy Brandt [Chanceler 1969-74], 5º Sophie e Hans Scholl [astrónomos e anti-nazis], 6º Bach, 7º Guttenberg, 8º Goethe, 9º Otto von Bismarck [unificador da Alemanha], 10º Albert Einstein


Conclusão
Como disse Eduardo Lourenço, este concurso nada vale, mas simbolicamente fica. Foram apenas 65 mil votos salazarentos, mas a imagem do país fica manchada, não há como evitá-lo. No momento em que se consegue finalmente conhecer e entender melhor a figura sinistra do velho, numa catarse finalmente saudável, o que menos se pretendia era sobrevalorizá-lo, jogando a sua identidade contra a democracia algo que sempre repudiou. Quando se festejam 50 anos do mais fascinante projecto político, a Europa - que Salazar rejeitou - é incrível como parte da população portuguesa assim se manifeste. Esperemos que daqui a 50 anos o país seja diferente de facto. Que termine a ânsia pelos homens providenciais e autoritários, e se manifeste no colectivo valores justos, democráticos e humanos como de Aristides de Sousa Mendes.
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2007-03-23

Europeus há 50 anos



Dia 25 de Março completam 50 anos sobre o início do mais fascinante projecto político. A assinatura do Tratado de Roma em 1957 foi um marco inovador num continente que durante séculos viveu dividido. Europeísta convicto, apoiante de um sistema híbrido de federação de nações, e não de uma união federal de estados ou mera associação de nações, a relevância deste passo em frente para a unidade, desenvolvimento e solidariedade pan-europeia foi enorme. A construção europeia ao longo destas décadas reforçou os ideais de democracia, valorizou a potencialidade dos povos, criou um grupo político, económico e cultural ímpar no mundo. Falta ainda um maior intercâmbio entre os povos, indo para além da união económica. Não haverá verdadeira união política sem unidade social e um verdadeiro sentimento "eu sou europeu". O futuro é ainda um caminho de construção, incerto mas convicto de que unidos, seremos melhores.

Grandes Portugueses-IV

Choque de titãs
Na edição deste mês da revista Atlântico, Rui Ramos no artigo "Manual do Eleitor dos 'Grandes Portugueses'" destaca que "o facto de Salazar e Cunhal não terem sido democratas não lhes tira o direito de serem Grandes Portugueses. D.João II foi um assassino, e Pombal o mais violento e ganacioso tirano da história portuguesa, e isso nunca conseguiu perturbar os glorificadores de cada um deles." Duas faces de uma mesma moeda, a némesis um do outro, Oliveira Salazar e Álvaro Cunhal marcaram quase todo o século XX. Fico curioso, terão eles se encontrado cara-a-cara alguma vez?

Consigo imaginar a cena, clássica, negra e intimidante. Cunhal está nos calabouços da prisão de Peniche. Escura, fria e húmida a confinante cela não reduz o líder comunista. As paredes transpiram a adversidade daqueles tempos negros da luta clandestina contra o Estado Novo, enquanto que a Europa se reconstruía sobre as cinzas terríveis após a luta pela liberdade contra a tirania nazi. Ouvem-se passos no corredor. Cunhal não levanta os olhos da mesa onde abundam desenhos de contornos vorazes e mensagens fortes. Ao seu lado esquerdo uma edição inglesa de King Lear aberto algures a meio. Com concentração escreve sobre folhas de papel de carta as mesmas palavras de Shakespeare no idioma de Camões. A porta abre-se e o guarda afasta-se para, de entre a penumbra surgir uma figura tão familiar quanto sombria, elegante quanto repugnante. É Salazar.
- Vejo que não cessa de trabalhar, meu caro.
- Não creio que o senhor tenha algum prazer em ver-me deste modo - responde-lhe Cunhal voltando os olhos novamente às palavras escritas
- Pelo contrário Senhor Doutor, pelo contrário; 'mente sã em corpo são' é o que eu defendo.
- Neste antro, pelo menos consigo que a mente se mantenha sã. Que me quer?
- Trata-se de uma visita de cortesia, tão somente.
- Duvido que a sua cortesia, que não nego, seja motivo suficiente para o tirar de São Bento para vir até aqui tão longe. E estes ares não lhe fazem bem.
- Meu caro Cunhal...
- Se lhe sou caro, deva-me mais respeito. Ou melhor, a Portugal.
- Mas é por isso que aqui está. Pelo país. A sua... como direi, eloquência é talvez um pouco nefasta para o povo.
- Pelo povo o Estado Novo nada faz. A opressão que lidera apenas o diminui.
- Ora, ora, não seja assim tão agressivo. No fim de contas ambos pretendemos o melhor para Portugal, embora de pontos de vista muito diferentes é claro.
- Creio que sabemos bem o quão diferentes somos. E não é a sua visita que me fará mudar de ideias.
- Nem nunca presumi que fizesse. Não me julgue assim tão ignóbil apenas por saber fazer contas e possuir algum faro político, se me é permitido dizê-lo. Não pense também que me dá prazer vê-lo aqui, nestas condições. Mas os factos falam por si. E eu não posso permitir que ponha fim ao que de tão difícil me levou a construir. Ponho em cheque a sua sobrevivência neste ambiente hostil, mas é pelo bem da Nação.
- A minha sobrevivência prende-se no amor à liberdade e às minhas convicções de que há um Caminho Novo para melhorar as condições de vida do povo português.
- Se for como o seu camarada Estaline tem feito, não auguro nada de muito melhor. Mal por mal, fiquemos cá pelo que temos, honradinhos e sossegados. Devo-lhe mais respeito e honra que muitos líderes europeus. A minha admiração por si não impede contudo, que tenha de fazer opções duras, mas necessárias.
- Os seus sentimentos a mim nada me interessam. Com elegância devo dizer-lhe que o repudio, e mais cedo ou mais tarde, estarei eu do outro lado destas paredes que o senhor e o seu regime construiram sobre Portugal. A sua inédita visita dá-me a oportunidade de ver claramente nos seus olhos que o senhor professor não é o salvador da pátria. Os seus olhos mentem. Os seus olhos são frios. Sinto-o mais aprisionado que eu. Eu sou livre! E enquanto for vivo livre serei sempre, nada nem ninguém me fará quebrar. Não serei o desejado D.Sebastião, mas eu e os meus camaradas acreditamos numa sociedade nova, livre, democrática e desenvolvida. Pode demorar anos, décadas até, mas eu estarei cá para ver as ruas cobertas de flores e alegria pela liberdade enfim chegada. E o senhor, Dr Salazar, cairá, terá o seu fim - triste, solitário e fatal.
- Não o via tão caústico. Acredite numa coisa: enquanto eu fôr vivo, eu condicionarei a sua vida. Não se esqueça disso.
- Todos os dias - contrapõe Cunhal olhos fixos no de Salazar. Mas não se preocupe, eu durmo sempre bem.
- Tenha uma boa noite então, Dr Cunhal. Espero vê-lo novamente.
- Não conte com isso.
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Grandes Portugueses-III

Ser ou não ser, eis a falsa questão
Esta última fase do "concurso" da RTP teve uma campanha publicitária que, directa e incisiva, é novamente redutora nos valores dos "finalistas" que se pretende confrontadores, mas igualmente, e talvez mais grave, insidiosa e insinuosa em contornos estranhamente depreciativos e básicos. Apela-se ao programa, investe-se na audiência do canal, mas transmitem-se ideias-adjectivo de mal ou bem, parvo ou herói, vai ou racha. Podemos vê-los nos MUPIs de todo o país o apelo ao "Decida você" num jogo semântico enganador e historicamente insólito, partindo de critérios genéricos que todos podemos pensar, mas relegando as figuras em questão a meros sinónimos desses dois adjectivos, condicionando afinal tudo aquilo que o programa pretendia ser: informar, discutir, esclarecer sobre indivíduos que fizeram a História de Portugal. Publicitariamente correcto e eficaz, mas historicamente e pedagogicamente errados. Afinal, será por estas duas alternativas que um ou outro terá mais ou menos votos? Juízos de valor, paixões ideológicas e votos militantes serão os condimentos para a votação final, fugindo sempre, aos contextos e factos históricos.

Daí que diversos historiadores - entre os quais os respeitadíssimos José Mattoso e António Manuel Hespanha - se reuniram em baixo-assinado contra este programa. Colocar em dictomias quando em muitos casos foram ambas, e como diz Fernando Rosas (um dos subscritores iniciais) "é a anulação da própria História". O texto começa assim: "Custa a crer que alguém em seu perfeito juízo, se lembre de perguntar se Aristides de Sousa Mendes foi melhor ou pior que D.João II e proponha decidir o dilema por meio do sufrágio popular". Continua criticando a ideia, o formato, o objectivo, o custo." A RTP "difundiu o boato que o vencedor seria Salazar e que, nas finais, ele se defrontaria com o seu grande adversário, Álvaro Cunhal. O programa atrairia assim o máximo das audiências." Prossegue afirmando que a RTP "tratou de simplificar o quadro histórico e de diluir o rigor das referências". Conclui lamentando "a desinformação e a manipulação em curso. A História de Portugal, nas suas complexidades e contradições, nas suas grandezas e misérias, seguramente merecia outra coisa".


As frases:

Afonso Henriques: Bom rei ou mau filho?
Agredir a mãe terá sido o pior dos males deste rebelde? "Criei eu um filho para isto" terá pensado D.Urraca. "Nem conseguiram ganhar o Euro2004 e o Vitória está na segunda divisão".
O que é certo é que, reaccionarimente podemos hoje dizê-lo, iniciou um país, a primeira matriz de ser português. O primeiro português de sempre.

Álvaro Cunhal: Solidário ou totalitário?
O ideal comunismo visava a solidariedade entre os povos. Mas entre vizinhos ou membros do partido é que talvez não. Cunhal foi o último estalinista, mas o mais intelectual dos políticos. A sua luta de vida foi uma luta única e, nunca se desviando dela, forjou a resistência ao fascismo, o maior opositor do Estado Novo.
O 25 de Abril foi o início do fim do mito Cunhal. Na sombra e frontalmente tentou implementar o que sempre defendeu, mas todos sabemos dos malefícios dos regimes comunistas. O maior português de sempre, não. A némesis de Salazar.

Oliveira Salazar: Salvador ou ditador?
Dor. Eis o que une as duas palavras. Ainda hoje, de diversas maneiras. Um homem do seu tempo que fez o país permancer tempo de mais no seu modo. A redefinição psicológica e social da sociedade foi formatada com o Estado Novo, com consequências nefastas até hoje. Redução da escolaridade obrigatória, coacção silenciosa sobre a população, censura, polícia política, ditaura fascista sui generis, guerra colonial. O maior português de sempre, nunca. A némesis de Cunhal.

Aristides de Sousa Mendes: Consciente ou desobediente?
Conscientemente desobediente. Acreditava em valores contrários ao regime do seu país. Pagou duramente por isso. Pelos seus ideais e princípios. É um dos "justos" de Israel. Fará isso dele um mero reguila? O mais justo português de sempre.

Fernando Pessoa: Inspirado ou alienado?
Se a genialidade de um escritor de craveira universal lhe dá o epíteto de alienado, apenas por ter vários heterónimos, cada um com identidades literárias únicas, então também eu sou alienado por que me apetece. O mais universal português de sempre.

Infante D.Henrique: Empenhado ou interesseiro?
Como diz? Estratégia e visão de expansão.

D.João II: Visionário ou torcionário?
Era o Principe Perfeito mas também o Tirano. Papel primordial na História do país e das Descobertas. O Tratado de Tordesilhas e toda a política secreta de expansão são elementos extraordinários de gestão política e estratégica. No século XV ainda os fins poderiam justificar os meios.

Camões: Poeta ou aventureiro?
Pensava que era coisa boa ser-se aventureiro. Então e as histórias de capa e espada, corsários e donzelas, viagens e batalhas não podem ser objecto de poesia? Obras-prima da literatura mundial. O maior poeta português de sempre.

Marquês de Pombal: Iluminado ou sanguinário?
Ambas. Mas a sua "iluminação" não fez tudo sozinho. Hoje tão branqueado como a peruca da época. O mais poderoso político português de sempre.

Vasco da Gama: Descobridor ou corsário?
Os meios sempre justificaram os fins. Os fins perdoavam qualquer método. Outros tempos. Jack Sparrow nunca o conheceu. Mas o deu mais a Portugal e ao Mundo, que qualquer outro navegador antes dele, situando-se no pódio com Cristóvão Colombo e James Cook.



Documento ou propaganda?
Esta segunda etapa tem sido uma manipulação, particularmente quando se visionam os documentários coordenados e apresentados pelos seus "defensores". Não tendo visto todos, de dois posso dizer que foram quase abjectos. Mal realizados e filmados, pelo menos sem a qualidade que julgava exequível ao tipo de programa. A defesa de Afonso Henriques foi uma chatice (não consegui ver tudo) e, como li depois, com erros históricos e cronológicos. O de Salazar, apresentado pelo monocórdico Jaime Nogueira Pinto, igualmente fastidioso, foi chocantemente omissor de tanta realidade e factualidade, cinjindo-se apenas ao customeiro "salvou-da-bancarrota-e-da-guerra". Nada mais! Nem as eleições após a 2GM, nem a queda e a morte sequer! Isto não é expôr a História, é tão somente -afinal, defensores é mesmo o termo correcto - branquear a História. Como vem no texto do abaixo-assinado dos historiadores "mais parecia editado pelos serviços de propaganda do Estado Novo". E se isto se passou nestes programas, imagino nos restantes. Até onde terá Portas ido a defender D.JoãoII? Quanto terá Odete Santos "esquecido" sobre Cunhal? Terá Aristides de Sousa Mendes sido "endeusado" por José Miguel Júdice? Propaganda? No entanto tenho pena de não ter visto todos.


Manual do Eleitor dos 'Grandes Portugueses'
Todos nós somos feitos de boas e más acções. Ninguém é perfeito, e por isso ninguém pode ser unicamente o maior português de sempre. Podem valores tão díspares colocar alguém acima de outrém? O concurso é uma exacerbação de preferências assentes em juízos de valor somente. Muitos considerarão Afonso Henriques como o melhor porque somos o que somos hoje, mas simultaneamente o pior por sermos o que somos hoje. Na edição deste mês da revista Atlântico, Rui Ramos no artigo "Manual do Eleitor dos 'Grandes Portugueses'" explica a determinado passo que "Todos foram 'grandes'. Mas talvez não pelas razões que nós atribuimos à sua grandeza. Ao votar neles, estaremos a votar em figuras que reduzimos a simples cabides dos nossos devaneios e sonhos, a projectar no passado as virtudes que hoje apreciamos. Ora a história, aquela que é feita pelos historiadores, é precisamente feita ao contrário, de distanciamento, da descoberta de diferenças."
Rui Ramos prossegue com muita acutilância, ironia e humor quando elabora um quadro "Diz-me que és, dir-te-ei em quem votas". Exemplos: Funcionário Público - colega Artistides de Sousa Mendes; Taxista - Salazar, porque no tempo dele não se via este trânsito que é uma vergonha; Antifascista - Salazar, para poder ir à TV denunciar o perigo fascista; Anticomunista - Cunhal, para poder ir à TV denunciar o perigo comunista; Paulo Portas - D.João II, porque quer mesmo ganhar e precisa de todos os votos; Alberto Caeiro - Pessoa; Devasso arrependido - Camões; Blogger - Salazar ou Cunhal, para se poder indignar; Mário Soares - nenhum, ingratos!

E eu? Admiro imenso Aristides de Sousa Mendes, aprecio bastante Pessoa e Camões. Cunhal e Salazar são figuras fascinantes. Estes e todos os restantes davam óptimos filmes e séries de TV, fosse Portugal levado mais a sério. Não voto. Nenhum. Com todo este palavreado todo acham que ainda iria gastar €60+IVA?
Mas quem poderá ganhar? Domingo à noite é a "Grande Final".

Grandes Portugueses-II

Eu votei Padre António Vieira
Ficou em 33º, abaixo de Luis Figo e Marcello Caetano... Foi um dos primeiros defensores dos direitos humanos e da diversidade e identidade cultural dos povos - nomeadamente os índios do Brasil para onde viajou 7 vezes. Com tenacidade, frontalidade, espírito livre e audaciosa clareza, esta figura maior do séc. XVII marcou com as suas acções e os seus históricos e famosos sermões, no seu tempo até hoje. Personagem fascinante como Fernão Mendes Pinto (88º) e Gil Vicente (83º), o Padre António Vieira é uma das maiores figuras da humanidade.

A lista dos 90+ contém nomes de extraordinário e valor. Na Política Rei D.Dinis (24º), Maria de Lurdes Pintasilgo (36º), Rei D.João I (37º), Rainha D.Maria II (71º), Afonso Costa (73º), Fontes Pereira de Melo (74º). Na Cultura Professor Agostinho da Silva (21º), Eça de Queirós (22º), Florbela Espanca (34º), Sophia de Mello Breyner (38º), José Saramago (44º), Bocage (78º), Natália Correia (86º) marcante também politicamente, Damião de Góis (92º), António Lobo Antunes (82º), Miguel Torga (85º). Nas Descobertas Fernão de Magalhães (35º), Afonso de Albuquerque (42º), Pedro Álvares Cabral (49º). Na Ciência Pedro Nunes (32º), António Damásio (41º), Manuel Sobrinho Simões (77º).


A subjectividade de ser Grande
A "eleição" do maior português tem outros motivos de curiosidade. À luz do nosso tempo, por exemplo, o Marquês de Pombal é quase um herói, com direito a estátua bem no centro da capital. Mas no seu tempo e nos anos seguintes terá sido assim? Ministro todo-o-poderoso do reino foi responsável por tantas boas medidas como por atrocidades. Um homem das luzes no empresariado e no desenvolvimento do país, na reconstrução de Lisboa. Um homem das trevas quando foi responsável por tantas mortes e conspirações, entre as quais a eliminação de praticamente toda a linhagem Távora, que com requinte e malvadez da época, foram chacinados em praça pública. Prodedimentos não muito diferentes da contemporânea Revolução Francesa, onde a execução se pretendia mais civilizada, mas não menos cruel. A morte de D.José foi a única hipótese para o seu afastamento imediato, relegado ao seu cantinho em Oeiras onde foi esquecido em ódio dos demais. Erguer-se-ia uma estátua então? Para o degredo quem ousasse tal sugestão. E esta linha de pensamento tem a ver com outro "candidato" mais próximo de nós: Salazar. Presente na memória de muitos e na matriz do país ainda, o líder da única ditadura não militar do século XX europeu terá, trinta anos após a Revolução dos Cravos teria direito a uma estátua? Todas as que haviam foram derrubadas ou armazenadas, e hoje é absolutamente certo que nunca verão de novo a luz do dia. Presos ao ódio ou ao formato politicamente oposto, essa possibilidade é inviável para Portugal. Mas, poderá sê-lo daqui a duzentos anos? Repetir-se-à o sucedido com Pombal? A História é por vezes vulnerável aos momentos políticos e a memória condicionada ou reformulada de acordo com contextos por vezes contrários à neutralidade histórica. Quando a memória do Salazar-ditador desaparecer, tornar-se-à ele num Grande Português sem quaisquer dúvidas?


O efeito Salazar
Mas as discussões mais inflamadas até ao fim deste primeiro escrutínio centraram-se na omissão/existência de Salazar nesta lista e na possibilidade de obter mais votos que o desejado/merecido. O que é certo é que obteve muito mais do que aqueles que em vida nunca recebeu. Os debates na TV tiveram quase todo o tempo sobre a memória e os ideais da democracia com a presença ameaçadora do velho de Santa Comba Dão. Recordo-me de Joana Amaral Dias do Bloco de Esquerda se afirmar indignadíssima e envergonhada se Salazar figurasse entre os 10+. O medo ainda existe, a sombra negra do Presidente do Conselho prosta-se sobre um país ainda marcado por 48 anos de Estado Novo, de ódio a um regime e à sua personificação opostos à actualidade. É notória que o país não soube reconstruir-se interiormente, fazer as pazes consigo próprio, enfrentar com mais serenidade um periodo histórico marcante e perturbante. E isso é tanto mais quanto mais votos Salazar obtiver. A memória curta é vulnerável ao branqueamento. A ignorância é susceptível ao imaginário. A frustração é permeável ao saudosismo. É ainda tão marcante a sua figura que dominou quase todos os debates e escamateou oportunidades de ouro para revelar as outras personagens. Mesmo que o modo de votação não seja universal como em qualquer eleição, ou numa representação por sondagem, a presença de Salazar paira ameaçadora nas consciências e nas memórias dos portugueses. Estarão estes tão esquecidos do que ele foi? Terão as novas gerações pós-25 de Abril noção do que representou a obscuridade do Estado Novo? Caiu a memória no lixo, ou será a mera ignorância dos nossos dias consequência da despolitização da sociedade e incompreensiva dos custos que a história recente teve sobre o país? Estas questões levantam sérias dúvidas sobre se o conceito de democracia é bem entendido, confrontado que está e contestado que é, na sua verdadeira e leal aplicação diária.


"se Salazar ou Cunhal não ganharem, o concurso há-de se esquecer duas horas depois"

Esta frase de Rui Ramos (in Atlântico) resume tudo. O desafio, a pertinência do debate, a perigosidade do resultado, a sedução do confronto, a ameaça da ideia, são chamarizes muito fortes para a conquista do espectador, das audiências, dos patrocínios. Afinal contra a lógica de uma real contextualização historiográfica, mas claramente a favor de um espectáculo televisivo de sucesso.
In the end there can be only one, eis a frase original retirada da série The Highlander/Os Imortais usada agora para rematar os cartazes de promoção. It's showbiz.

2007-03-21

Aniversário de Pandora



As certezas absolutas são fatais quando se revelam com certeza absoluta erradas. O Império e a sua pax Americana lançaram sobre o mundo incertezas e consequências atrozes. Eis-nos no meio de um labirinto cruel, onde não há um cordel de Ariadne para conduzir à saída. Perdidos se encontram aqueles que lutam pela sobrevivência, até mesmo os que lutam por ideias sejam elas nobres ou insanas. Os Cavaleiros do Apocalipse percorrem diariamente as ruas de Bagdad, nas veias de quem mata, na consciência de quem inconscientemente lançou as sementes de uma árvore maligna.

Uma das maiores conspirações da História iniciou-se há quatro anos, e Pandora estava no meio deles. Já não existem guerras românticas, e as justas há muito se evitam (Darfur continua à espera). As guerras ficam-se hoje pelo negócio e o poder. O julgamento da verdade esvaí-se numa poço de sangue. No fim será a esperança a última a morrer. Depois de uns quantos milhões ainda.

2007-03-19

A nova(velha) RTP 2


A 2: mudou e agora é, novamente, a RTP2. Um retrocesso no nome e, quanto a mim, na imagem gráfica.
No entanto, compreende-se o objectivo de uniformização, aproximando-se aos restantes logótipos do grupo RDP. Lamenta-se apenas a falta de originalidade do estilo gráfico criado (as barras de cor terra) e do tipo de letra oficial (um Helvetica disfarçado).

Link para "Kit de Normas Básicas da Identidade"

2007-03-16

Dapunksportif



"Ready! Set! Go!"
Há sons que nos cativam. Há ambientes que nos fazem mergulhar. E existem bandas assim, com esta capacidade de nos aumentar a adrenalina, cair nas suas graças e deixar-nos levar numa corrida fascinante. O ano 2006 deu à luz diversas e óptimas novidades e DAPUNKSPORTIF (excelente nome, óptima imagem gráfica) são uma delas. O primeiro contacto foi na Antena3. Bem mais tarde uma amiga, também amiga dos elementos da banda, teve a amabilidade de me oferecer o disco. João Guincho e Paulo Franco elaboraram um disco de sonoridades eclécticas num registo rock "musculado". No álbum "Ready! Set! Go!" podemos sentir Queens of the Stone Age, Nine Inch Nails, Ramones e outras influências mais. São canções muito bem construídas, com muito ritmo e muita energia, algumas bem intensas ("I can't move" e "Summer boys"), divertidas ("Private Disco"), registo punk em "Temporary insanity", "Arabian Princess" tanto me parece ambiente cinematográficio de The Matrix, como uma mera boa rockalhada a par de "My World Got Itself In A Hurry"; "Lady 666" é uma das melhores, pela sua dinâmica rítmica e evolutiva. Apenas 27 minutos. Peca por curto, mas se é bom ouve-se outra vez. E uma vez mais. E novamente.

Concerto no Office
O espectáculo no Office de sexta passada foi para mim a prova de fogo. Muito convincente. A banda de Peniche é de facto umas das melhores novas bandas portuguesas. Perante os fãs, vemos a essência de uma banda. Com grande rigor e profissionalismo (tudo certinho, nem uma falha), uma actuação brilhante do baterista, muita intensidade por parte dos restantes. Com bastante garra, sempre em crescendo, seduzindo cada vez mais o público.
Devo introduzir contudo um facto. Já com experiência de palco, a primeira parte no entanto demonstrou um dos pecados originais das bandas novas (apesar do largo currículo noutras bandas anteriores): o tocar uns para os outros e menos para os espectadores. Era notória a satisfação da actuação, mas pareceu-me também pouco à-vontade no confronto com o público. Mas o elevar da intensidade e um dos pontos altos da noite que foram dez minutos de registo voraz e apenas instrumental - em rockalhada intensa com laivos de punk, misturados a determinado ponto por uma curiosa junção Pink Floyd e funk - fez os Dapunksportif enfrentarem-nos com muito maior energia e naturalidade.
O pouco repertório da banda é ainda um ponto que desfavorece, mas nunca deixou de encantar o público dançante-ouvinte presente no Office. Duas boas canções novas, "Rockaway Beach" dos Ramones e três encores electrizantes completaram o concerto. Mas éramos capazes de os ouvir a noite toda.

Qualidade e visibilidade

São bons. Muito. Linda Martini, Dead Combo, Legendary Tiger Man, Dapunksportif e Expensive Soul, Sam the Kid, Valete, Revelações e confirmações de 2006. A produção musical portuguesa está num nível de qualidade e exigência comparável ao melhor dos EUA ou Reino Unido. Mas falha uma coisa, que não exclusiva lusa: a internacionalização. Um investimento muito físico e monetário - uma batalha levada muito a sério pelos The Gift - que para muitas destas bandas nacionais tem tanto de difícil como inviável. Difícil pelas condições de cada um por cá a nível profissional. Inviável porque as labels mundiais não querem apostar fora do registo anglo-saxónico. É mais fácil Mariza e Cristina Branco ou Sara Tavares vingarem no "catálogo" World Music. Tudo o resto é uma agulha num palheiro, um grão no deserto. O que é pena. Cool Hipnoise, Hipnótica, Mesa, Blasted Mechanism, Bulllet, Loopless, Boss AC, DaWeasel, Melo D, Old Jerusalem, Wraygunn (sucesso em França), Loto, Clã, JP Simões, são todos nomes que, caso fossem ingleses ou americanos teriam uma projecção internacional digna da sua qualidade. Todos tentam a sua sorte. Coitadinhos que somos pequenos? Este rectângulo começa a ser apertado para tantos tão bons.

2007-03-09

micro compact home



Um precioso exemplo do desafio num projecto de design+arquitectura para um objectivo muito específico e inovador. A m-ch é modularidade, minimalismo, funcionalidade e multiplicidade: o essencial para uma área de apenas 7m2. Less is more.

"(...) an answer to an increasing demand for short stay living for students, business people, sports and leisure use and for weekenders. (...) Its design has been informed by the classic scale and order of a Japanese tea-house, combined with advanced concepts and technologies. Living in an m-ch means focusing on the essential - less is more. The use of progressive materials complements the sleek design. Quality of design, touch and use are the key objectives for the micro compact home team....for 'short stay smart living'."





[via A Barriga de um Arquitecto]

2007-03-08

Boas capas: Dom Quixote





2007-03-06

2007-03-02

IdeaFixa Art e-magazine